Brasil-Europa: Notícias atuais da organização de estudos de processos culturais em relações internacionais - A.B.E.

Brasil-Europa
Notícias atuais
Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (NG)
Academia Brasil-Europa (A.B.E.)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (I.S.M.P.S.e.V.)
 
 

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30.06.2014

Sul da Inglaterra e Norte da Alemanha nos estudos culturais de orientação ambiental - paisagens em movimento: Beachy Head e Wissower Klinken. Como exemplificado no Dia da Arquitetura na Exposição de Zülpich (Veja notícia), o estudo de problemas relacionados com o meio ambiente, com a construção e reconstrução de paisagens exige a consideração de processos em contextos internacionais.


Se o lema „paisagem em movimento“ foi concebido sobretudo no sentido da mudança de configurações naturais devido a seu uso industrial, o que exige procedimentos de reconstrução paisagística, não se pode esquecer que há casos nos quais a paisagem modifica-se por si, exigindo do homem adaptação e marcando a disposição urbana e arquitetônica de cidades. Esse é o caso das costas calcáreas do Sul da Inglaterra e as de giz do Norte da Alemanha, aqui em especial da ilha de Rügen, regiões balneárias de grande importância para os dois países, possuidoras de considerável patrimônio construído.


Em ambos os contextos tem-se a interrupção abrupta de linhas da topografia com os abismos à beira-mar, contraste de colinas, campos e florestas ao alto com a superfície das águas, o que confere uma similaridade aos dois contextos ambientais e favorece comparações. Através da contínua erosão das costas, que leva a queda de grandes árvores, são regiões em constante transformação nas suas formas, uma dinâmica nas relações monte/mar que condicionou o uso da terra, a urbanização e a arquitetura de suas cidades. É uma situação de mobilidade sob determinados aspectos conhecida no Brasil com as suas encostas de dunas no Nordeste, por exemplo em Natal ou Jericoacora no Ceará.


Os contextos europeus considerados adquirem um significado de amplas dimensões na história cultural e, por caminhos indiretos e nas suas repercussões também relevância para estudos relacionados com o Brasil. Se até hoje essas regiões balneárias e de reservas naturais e parques possuem justamente na dramaticidade do instável de suas costas um de seus principais atrativos, essas instáveis costas atraíram e deram impulsos no passado a intelectuais e artistas, influenciando correntes do pensamento e da criação.


Abrindo-se ao mar, essas regiões também foram sempre abertas ao mundo distante, sendo significativo que um dos maiores monumentos da imaginação do mundo extra-europeu se encontre em Brighton, o Royal Pavilion construido pelo Príncipe de Gales Georg IV no início do século XIX.


A  paisagem em erosão, levantando associações várias com a temporalidade da existência, explica o significado de ambas as regiões no Romantismo. Na Inglaterra, este é o caso do Beachy Head, local panorâmico em East Sussex marcado pelos frequentes suicídios que ali ocorrem; no caso de Rügen, das Wissower Klinken. No parque natural de Jasmund em que o Koenigsstuhl e o panorama Viktoria se situam, pode-se visitar nas proximidades de Sassnitz o local que presumivelmente foi eternizado pelo pintor Caspar David Friedrich (1774-1840) em 1818, uma das principais obras do Romantismo e marco das visões de abertura ao mar na história das artes nas suas dimensões metafóricas e transcendentes.


Ainda que celebrado naquele parque, é difícil identificar com exatidão o local retratado pelo pintor, uma vez que a paisagem atual é resultado de erosões. Pode-se supor que a obra represente uma condensação de impressões, correspondendo o criado a uma situação da natureza a posteriori em complexa relações entre Cultura/Natureza.


Nesse centro das Wissower Klinken, questões atuais do meio ambiente são tratadas em exemplar pedagogia museológica em ambiente marcado por reflexões culturais. Beachy Head, denominação derivada do francês „belo cabo“ (Beauchef), oferecendo perigos para a navegação entre o continente e as ilhas britânicas, levou a que ali se construisse um farol, também cognominado de belo (Belle Tout Lighthouse). Beleza e morte, temporalidade da matéria e da existência interferem-se na percepção da paisagem e indicam também aqui o seu significado no Romantismo sob a perspectiva de estudos voltados às relações Cultura/Natureza.



29.06.2014

Urbanização de praias como problema de meio-ambiente, de arquitetura de paisagens na Europa e no Brasil e suas dimensões sociais. O Dia da Arquitetura, celebrado em Zülpich como sede de um dos maiores projetos de reconstrução de meio ambiente destruído da Europa (Veja notícia anterior), dirigiu a atenção ao significado de regiões praianas na discussão do urbanismo e da arquitetura de paisagens em contextos globais.


O projeto, tendo como centro um lago e uma praia artificial, sendo compreendido como um moderno balneário, despertou associações com praias do Brasil, fato manifestado na sua denominação em português e inglês. Esse fato é explicável sobretudo pela atenção que recebe o país devido à Copa do Mundo e pelas notícias divulgadas na imprensa a respeito de projetos de construção de edifícios de alta categoria no Recife acompanhados por protestos relativos a problemas sociais de uma „Miami“ nos trópicos.


As imagens de praias em estado natural ou em harmonia com o meio circundante misturam-se nas expectativas e mesmo em projetos com aquelas da vida social de praias urbanizadas com as possibilidades oferecidas por grandes cidades. Cidades praianas cercadas por arranha-céus, delas separadas por vias de grande tráfego a beira-mar são porém marcadas negativamente na Europa. As praias intensamente urbanizadas da Espanha e mesmo do Algarves servem aqui como exemplos do que a especulação imobiliária e uma política urbanística mal conduzida podem causar quanto à destruição do meio ambiente e mesmo das próprias cidades e suas circunvizinhanças. Elas põem em risco a longo prazo as qualidades que justificaram tal expansão, com graves consequências econômicas e sociais.


As longas faixas de litoral mal configurado com arruamentos e loteamentos sem reflexões urbano-ambientais e construções levantadas  arbitrariamente representam um processo irresponsável de destruição de meio ambiente de regiões costeiras de dimensões internacionais. Mais ainda do que regiões montanhosas e de interior, os litorais - ao lado de planícies e vales - surgem como principais focos de preocupação de um uso sob muitos aspectos questionável do espaço.


Os múltiplos problemas daqui resultantes incluem a depauperação do meio ambiente coma extinção de espécies animais e vegetais, a deconfiguração irrefletida da topografia e aqueles relativos ao patrimônio arquitetônico e cultural de cidades. Estas em muitos casos experimentam a transformação de sua fisionomia com a demolição de construições de alta qualidade e significado histórico para dar lugar a edifícios em muitos casos levantados às pressas e sem valores arquitetônicos.


O tratamento desse complexo de questões exige aproximações diferenciadas, uma vez também que há exemplos de cidades e regiões que resistiram a esse processo urbano-ambiental deformador e mesmo que testemunham desenvolvimentos contrários e planejamentos refletidos. Dois contextos foram particularmente considerados neste sentido sob o pano de fundo de problemas conhecidos do Brasil: o Sul da Inglaterra e o Norte da Alemanha.


As atenções concentraram-se no primeiro caso nas relações entre as concepções e as iniciativas ambientais e de arquitetura de paisagens em centros ingleses com a realidade de cidades balneárias de Kent e Sussex. No segundo caso, considerou-se o extraordinário florescimento de cidades litorâneas de veraneio de Mecklenburg e da Pomerânia, em especial da ilha de Rügen, procuradas sobretudo por habitantes de Berlim. Ambas as regiões apresentam certas similaridades: são decantadas pelas suas qualidades ambientais e paisagens, pelas suas costas abruptas de calcáreo ou giz que aumentam a luminosidade da atmosfera, qualidades que se refletem no branco de suas construções. O patrimônio construído dessas cidades  serve de diferentes modos a novos projetos. O tratamento da paisagem costeira e de parques apresenta diferenças nos dois contextos, assim como os desenvolvimentos sociais respectivos. Algumas das observações feitas sob a perspectiva euro-brasileira em algumas dessas localidades inglesas e alemãs serão relatadas em próximas notícias.



28.06.2014

Zülpich. Parques e reconfiguração de paisagens destruídas por atividades de extração. A Exposição de Jardins 2014 e o Dia da Arquitetura do Norte-Reno/Vestfália. „Sem árvores não há futuro - Plante tantas árvores quanto possível“. Um dos acontecimentos que motivaram a atual realização de estudos e visitas dedicadas a estudos culturais de orientação ambiental no âmbito do projeto Cultura/Natureza da A.B.E. é a realização no corrente ano da „Exposição de Jardins dos Séculos“ em Zülpich.


A anual Mostra Estadual de Jardins (Landesgartenschau) é uma realização alemã sob muitos aspectos exemplar. As áreas onde se instalam os jardins, cada ano em cidade diferente escolhida em concurso, permanecem como parques, enriquecendo municípios e regiões do ponto de vista paisagístico, contribuindo à economia local com a atração de visitantes do país e do Exterior e culturalmente através de eventos e da valorização de museus e do patrimônio arquitetônico e artístico local.


A exposição do corrente ano realiza-se na pequena cidade de Zülpich, de remoto passado da época romana, o que leva à sua cognominação de „cidade de romanos“. Antes pouco considerada e mesmo desconhecida turisticamente apesar de seus fundos arqueológicos e seu burgo medieval, situando-se em região sem maiores atrativos naturais e marcada pelas escavações de grandes áreas, Zülpich tornou-se um exemplo atual de recuperação inteligente e sensível do meio ambiente, de aumento da qualidade de vida e de desenvolvimento econômico e cultural.


O parque de Zülpich oferece um exemplo para soluções de uso das crateras através de um lago artificial criado na área escavada, um projeto dos arquitetos paisagistas C. Geskes e K. Hack de Berlim. A obra relaciona o interesse pela Botânica com aquele pela água tanto do ponto de vista dos conhecimentos, como de atividades recreativas. Inclui, assim, longa faixa de jardins, balneário com praias artificiais (Lago Beach Zülpich), escola de formação ambiental para crianças e jovens, áreas plantadas segundo a situação ecológica anterior às escavações e outras mostrando características de diversos habitats da região, assim como vias que interligam o parque com o centro da cidade com o seu Museu de Cultura de Banhos (Veja notícia). Nos jardins encontram-se ao lado de flores verduras, legumes e capins conhecidos ou provenientes do Brasil, como erva-doce, batata-doce e „barba de bode“.


O projeto adquire significado modelar para a reconstrução de paisagens após o seu uso na indústria de extração de subsolo e que marca grandes regiões na Europa, podendo oferecer com as soluções encontradas impulsos para outros países. O termo Indeland é usado para designar essa região que mais do que qualquer outra da Euregio é marcada pela interação entre a Natureza e o uso industrial - grandes campos, planícies, muita agua e extração de carvão mineral, o que leva a uma constante modificação da sua fisionomia. Como marco simbólico da região criou-se o Indemann em torre panorâmica de 36 metros situada em Inden. Quando terminar a atividade extrativa ao redor de 2030, também aqui surgirá um grande lago como centro de uma paisagem reconfigurada. Os municípios atingidos reuniram-se já agora para elaborar um plano condutor para a reconstrução paisagística da região.


Unindo o paisagismo de parques e jardins com a configuração do meio ambiente e a arquitetura de orientação cultural, Zülpich encontra-se representado no „Dia da Arquitetura“ que a Câmara de Arquitetos do Norte-Reno/Vestfália promove no dia 28 de junho. Considera-se aqui em particular a construção de madeira do parque que, além da modernidade e progressismo de sua linguagem, surge como exemplar quanto à eficiência energética e ao uso sustentável de recursos naturais. O projeto „O Jardim do Futuro“ do arquiteto paisagista A. Hermann trata do tema „Sem árvores não há futuro - Plante tantas árvores quanto possível“ de forma lúdica e com o uso minimal de meios.



27.06.2014

Colonia e Brasil: 150 anos da Flora, 100 anos do Jardim Botânico. „Nada prospera sem cuidados, e as coisas mais excelentes perdem o seu valor se mal-tratadas“ (J. Linné). Um dos acontecimentos que motivaram a realização do ciclo de estudos voltados ao mundo vegetal no contexto dos estudos culturais em prosseguimento ao programa Cultura/Natureza da A.B.E. foi a reabertura do edifício da Flora de Colonia após vários anos de trabalhos de recuperação. Com a sua grande cúpula de  vidro, a Flora é uma construção significativa para a história da arquitetura relacionada com a Botânica e a vida cultural em geral.


Antes de sua reforma, a Flora de Colonia, o mais belo jardim da cidade, foi sede de eventos euro-brasileiros, salientando-se aqui recepção ali ocorrida em 2004. Nada mais oportuno, assim, do que trazer à consciência os elos desse jardim com o Brasil por motivo de sua reinauguração a 12 de junho e das festas públicas ali realizadas juntamente com o KölnKongress no dia 15 de junho.


A reinauguração do edifício foi um dos grandes acontecimentos sociais e político-culturais da cidade e da região do presente ano quanto ao complexo temático de parques, jardins, Botânica e suas relações com a história sócio-cultural de cidades. Publicações e conferências trazem à consciência a renovada atualidade do tema no presente, em particular das relações entre o mundo vegetal, arquitetura e qualidade de vida. Jardineiros e praticantes uem grande número, apoiados por uma associação, responsabilizam-se pelos cuidados com o grande patrimônio botânico ali existente e que inclui muitos exemplares do Brasil. Já no dia 2 de fevereiro do corrente ano, procedeu-se a uma visita comentada dedicada ao tema „Dê a mim, assim também te dou - simbioses tropicais“.


A recuperação do edifício que servia ao mesmo tempo como Jardim Botânico e Salão de Festas da cidade tornou-se necessária devido aos desgastes da construção levantada após a destruição da Guerra. Seguindo modêlos históricos, reconstruiu-se a grande cúpula com o vitral que lembra a vitória régia, um feito sintomático para as tendências da arquitetura consciente do valor patrimonial de edifícios dos séculos XIX e início do XX no presente, por tanto tempo considerados sob luz negativa pelo seu „ecleticismo“.


A Casa dos Trópicos da Flora, fechada por motivos de segurança em 2013, foi reaberta provisoriamente. Nela o visitante pode vivenciar o universo da floresta tropical, em particular também a amazônica. Na Casa dos Trópicos menor, cultivam-se plantas como abacaxi, café, cacau, coqueiros e bambús.


Relacionando-se com a atenção voltada ao paisagismo e à construção de paisagens exercitada em parques e jardins do Sul da Inglaterra, quando procurou-se reconhecer pontes com as preocupações relativas ao meio ambiente no presente (Veja notícias), o olhar foi dirigido em particular à configuração paisagística do parque da Flora. Este, segundo o seu criador Peter Joseph Linné, representa um „estilo mixto alemão“, no qual vigoraram princípios do Barroco francês, perceptível na geometria dos desenhos de canteiros e na forma dada a vegetais, do Renascentismo italiano e do paisagismo inglês. O parque exemplifica, assim, que a revisão de atitudes negativas relativamente ao „ecleticismo“, que fundamentaram tantas destruições do patrimônio arquitetônico e urbanístico de muitas cidades e países, também vale para a consideração de parques, jardins e para a configuração de paisagens no presente. Essa reconsideração de critérios surge como necessária sobretudo para países como o Brasil, uma vez que a interação de diferentes concepções e estilos que marca muitos parques e jardins não deveria ser destruida por fundamentalismos puristas. O reconhecimento dos valores próprios dessa interação adquire particular significado em época de relações globais e pode abrir perspectivas para o necessário redespertar de consciência sobre a importância de uma política sensível e refletida do homem na configuração do meio ambiente.



26.06.2014

Futebol e a imagem do Brasil na Europa. A extraordinária presença do Brasil no Exterior nos últimos meses e no presente devido à Copa do Mundo 2014 tem levado a um grande interesse por questões sociais e culturais concernentes ao paiis, entre elas aquelas da imagem a que as grandes construções de estádios serviriam e o contraste dessa imagem com a realidade social.


Constata-se em comentários e textos ambivalências ou mesmo transformação da imagem do Brasil, sendo que a própria divulgação de protestos e demonstrações no país contribui para tal mudanças ou pelo menos a visões mais diferenciadas. Neste contexto, cumpre lembrar que já há muito e por diferentes lados tem-se criticado esterotipos na imagem do país, por demais marcada pela tríade Samba, Carnaval e Futebol. Também tem sido escopo da A.B.E. explícito das últimas décadas contribuir à superação de lugares comuns e estereotipos, trazendo à luz as transformações da percepção do Brasil no Exterior através dos séculos e, assim, a transformabilidade da sua imagem no tempo, apesar de suas muitas constantes.


Os três fatores citados da tríade caracterizadora do país no Exterior exigem considerações totalmente diversas de origens, contextos, significados e de processos receptivos. Deles, o futebol é o mais recente. Basta aqui lembrar que não surge em relatos de viajantes europeus do século XIX e grande parte do XX, apesar do intento de quase todos os autores em salientar aspectos característicos do país. Referências ao futebol e a seu significado na vida brasileira surgem antes em publicações mais recentes de meados do século XX. A consulta de muitas dessas obras indica que a atenção dos observadores ao futebol no Brasil, de início inexistente, passa a manifestar-se em menções secundárias, intensificando-se no decorrer dos anos 50 e 60.


Entre os livros que devem ser salientados, lembra-se o de André Maurois sobre o Rio de Janeiro, com imagens de Jean Manzon (Rio de Janeiro, Fernand Nathan 1951) por incluir quatro grandes fotografias do Estádio do Maracanã.


Siegfried von Vegesack, no seu livro „Mosaico Sulamericano“, editado em 1962, trata não apenas do abraço, gosto de barulho e flores, de feijoada, limpeza de sapatos e cafezinho, mas também do futebol. Após tratar a „calma“ e a „paciência" na mentalidade e no modo de vida do brasileiro, menciona a excitação que o futebol despertava: „E apesar de tudo, há algo no Brasil que excita e aquece as emoções de um modo inconcebível para nós europeus: o futebol. Antes dos grandes jogos, todo aquele que assiste deve passar na entrada por uma visitação do corpo: nem faca nem revólver podem ser levados. Também não bebidas em garrafas, pois os torcedores os usam para quebrarem-se mutuamente a cabeça. Relataram-se que após tais jogos de futebol até mesmo homens velhos abraçam-se nas ruas soluçando de alegria quando o seu time ganhou. E outros, amargurados e desesperados pela derrota, suicidam-se. E quem está impedido de vivenciar o jogo na assistência, acocora-se em extrema excitação perante os alto-falantes, com fogos preparados à mão, para soltá-los a cada gol de seu time e assim dar vazão à sua alegria transbordante.“ (Südamerikanisches Mosaik, Munique 1962, 84).


Frank Arnau, em livro dedicado „às luzes e sombras sobre o Brasil“ (Der verchromte Urwald, s/d), em 1967 já em quinta edição, cita o futebol como o „principal fator da vida do brasileiro“, tratando-o logo após considerar a paixão pela política. „Nos encontros dos clubes líderes de futebol fatura-se centenas de milhares de marcos. Como o jogo de futebol é um assunto puramente profissional, os clubes pagam pela transferência de jogadores de excelência somas que são inconcebíveis mesmo para ingleses. Os jogadores brasileiros, como se pode ver de jogos dos times no Exterior, em particular na Europa, são extraordinariamente fortes nas classes de ponta. O timo nacional brasileiro ganhou em Estocolmo a Copa do Mundo de 1958. Com isso realizou-se um sonho - até mesmo um pesadelo - do Brasil. 80 representantes da imprensa, da rádio e da televisão agitaram a capital da Suécia durante os jogos em Estocolmo. Os leitores, ouvintes e o público assistente tomou conhecimento de detalhes incríveis sobre a vida da sua equipe nacional: dos primeiros cigarros da manhã dos seus preferidos, do café da manhã, do tratamento de calos, ao limpar de dentes e aos últimos atos antes de dormir... Quando os vitoriosos voltaram, já foram impedidos em Recife de continuarem o vôo ao Rio por serem levados em cortejo triunfal pela cidade. No Rio, iniciou-se um grande delírio de alegria, que se propagou intensificando-se por todo o país. A cidade do Rio de Janeiro ofereceu a cada herói a cidadania de honra. No Parlamento apresentou-se um projeto de lei para possibilitar a cada jogador uma mansão à custa do Estado. Maciças moedas de ouro, que tinham sido já antecipadamente cunhadas para o caso de uma vitória, foram entregues a cada jogador pelas filhas de Juscelino Kubitschek, o então presidente do Brasil - e o próprio presidente deu aos jogadores uma grande recepção, na qual manifestou a sua sincera alegria pela vitória. No Rio de Janeiro, muito antes dos jogos mundiais que ali
se realizaram, construira-se um enorme estádio, o Maracanã. Para o financiamento, a Prefeitura vendeu „lugares vitalícios“. A idéia foi original e efetiva, mas do ponto de vista técnico-financeiro ficou sem sentido devido à inflação. De resto, o Maracanã revelou uma série de graves defeitos de construção, justificados sem exceção pela insuficiente qualidade do material. O Prefeito da cidade, mais tarde o Marechal Mendes de Moraes, esteve no centro de considerações críticas. Para amansar as diversas violências dos adeptos dos clubes entre eles e contra os jogadores, o Maracanâ recebeu entradas e saídas dos jogadores subterrâneas, separadas por clubes, e o campo de jogo valas e grades para assegurá-lo dos arroubos de temperamento dos assistentes. Mais tarde surgiu um „pequeno Maracanã“, construido por uma bem protegida Caixa Econômica, o Prolar, similar a seu irmão maior. O ídolo do futebol brasileiro, possivelmente do internacional, é Pelé. As suas memórias de vida, ainda que arranjado no seu texto por jornalistas, publiquei em língua alemã na editora Ullstein. (...) nos últimos dez anos, morreram no Brasil acima de 30 pessoas a morte pelo futebol. Alguns por terem tido um ataque de coração de alegria pela vitória de seu clube, outros de tristeza pela derrota de „sua“ associação. Os mortos em brigas nos campos de futebol tempestuosos do Brasil não estão aqui contados. E deve-se considerar que até mesmo a menor cidade possui seguramente uma igreja e um campo de futebol...“ (op.cit. 182-183)



25.06.2014

Inglaterra e Brasil. De Futebol à Natureza: para uma outra contribuição britânica ao mundo. Devido à Copa do Mundo 2014, o Brasil se encontra presente em intensidade nunca vista nos países europeus. Essa presença se manifesta não apenas no contexto da transmissão e do noticiário de jogos, mas também no grande número de artigos, entrevistas e documentários referentes a vários aspectos da sociedade e da cultura do país.


Pode parecer assim estranho que a A.B.E. tenha escolhido justamente essa época para o desenvolvimento de reflexões voltadas ao desenvolvimento de estudos culturais de orientação ambiental em ética de respeito à Natureza e a seres viventes em projeto que incluiu visitas a centros de estudos e parques da Inglaterra.


Essa decisão foi porém refletida. A extraordinária popularidade e mesmo a extrapolante importância dada ao jogo surgem como um fenômeno cultural de dimensões globais que merece atenção e estudos diversificados, o que exige distância de observação e uma atmosfera adequada para reflexões, livre da euforia de competições e das excitações nacionais e nacionalistas que os jogos despertam.


Somente assim pode-se considerar sem paixões um desenvolvimento histórico marcado por processos de difusão e de recepção cultural estreitamente vinculados com o imperialismo e colonialismo britânico no mundo do século XIX e seus caminhos em diversificadas vias, entre elas dos EUA. Tratar de assuntos assim necessariamente sensíveis nas suas dimensões político-culturais e demopsicológicas no momento presente, quando sobretudo o Brasil se encontra envolvido nas ondas entusiásticas, não parece ser oportuno e eficaz para análises objetivas e neutras de um fenômeno que embora não sendo especificamente brasileiro, mas global, marcou singularmente a imagem e a auto-imagem do país no decorrer do século XX. Essas análises aguçam necessariamente a consciência para a historicidade do fenômeno, relativando-o no seu significado.


Surgiu assim como mais razoável dirigir a atenção para uma outra contribuição que a Inglaterra ofereceu ao mundo e que adquire no presente cunho sobre muitos aspectos modelar: a atenção que se observa na Inglaterra à Natureza. É do conhecimento geral que os parques ingleses foram modêlos de jardins e parques no continente e mesmo em regiões extra-européias no passado, levando a reformas de concepções no tratamento da Natureza, superando projeções formais e racionais violentadoras que caracterizaram configurações barrocas conhecidas sobretudos de exemplos franceses.


O que pouco se tem considerado, porém, é que essas concepções que se manifestam em parques possuiam dimensões mais amplas, dizendo respeito à construção de paisagens, à configuração refletida e sensível do ponto de vista cultural e estético da terra e do país. O estudo do pensamento inglês e das obras paisagísticas chama assim a atenção ao papel que o aguçamento da sensibilidade através de meios antes estéticos e culturais em geral pode desempenhar na solução dos problemas ambientais que atingem o homem e o globo na atualidade. Aproximações „irracionais“ podem talvez mais do que argumentações de cunho científico-natural e da lógica do debate ecológico e de desenvolvimento sustentável contribuir a uma mudança de mentalidades.


A análise das relações Cultura/Natureza na sua história na Inglaterra pode assim demonstrar e fortalecer pontes entre enfoques disciplinares e suas expressões epocais, da „viagem das plantas“ e da aclimatação de espécies nos jardins botânicos nas suas relações internacionais, à construção sensível e refletida de paisagens e às preocupações e iniciativas do presente voltadas ao meio ambiente, nas quais a Inglaterra desempenha hoje sob muitos aspectos uma função de exemplaridade.



24.06.2014

Zülpich/Alemanha. Noite de São João e as festas de banhos na Idade Média - Museu de Cultura Balneária da Alemanha. As festas juninas, em particular as da véspera da festa de São João na noite de 23 de junho, pertencem às mais importantes do calendário religioso e, pelas suas expressões tradicionais, objeto de numerosos e diversificados estudos, em particular da área de Folclore.


Conhecida não só no Brasil sobretudo pelas suas fogueiras, que a associam com o fogo, assim como com balões, casamentos caipiras e bebidas, as práticas incluem também lavagens de imagens. Em algumas cidades, em particular naquelas que tem o Precursor como padroeiro, como Joanópolis/São Paulo, essa festa adquire central significado no repertório das expressões culturais e religiosas regionais.


Nem sempre, porém, conhece-se o significado das expressões simbólicas das tradições. A dificuldade da compreensão da linguagem visual dessas expressões na pesquisa brasileira explica-se pelo deslocamento do ano religioso relativamente ao ano natural no hemisfério sul. Para a leitura de sentidos das expressões exige-se um deslocamento do observador à situação do hemisfério norte, ou seja, à época não do solstício de inverno, como no Brasil, mas sim daquele do verão. A partir dessa perspectiva reconhece-se o vínculo da linguagem visual com a Natureza perceptível pelos sentidos e os elementos, abrindo-se caminhos para o entendimento do processo de resignificação de antigas práticas através de sua referenciação pelas Escrituras.


As imersões, lavagens ou „batismos“ conhecidos das tradições indicam o significado da água no conjunto das concepções e imagens. Elas adquirem assim relevância para os estudos culturais relacionados com a água, como aqueles que vêm sendo desenvolvidos pela A.B.E. em diferentes contextos e cidades balneárias do Brasil e da Europa (Veja por ex. http://revista.brasil-europa.eu/145/Vittel-Caxambu.html; http://revista.brasil-europa.eu/145/Vichy-Lambari.html).


Um dos principais centros de estudos desse complexo temático é o Museu de Cultura Balneária da cidade de Zúlpich, próxima de Colonia, o primeiro do gênero na Alemanha, recentemente instalado em edifício de exemplar arquitetura sobre os fundamentos de antigas termas romanas. Dando continuidade a seus estudos relativos ao tema, a A.B.E. promoveu uma visita a esse museu por motivo da festa de São João. Partindo do significado excepcional da água, dos banhos e dos balneários na Antiguidade, sobretudo na Grécia e em Roma, considera-se o papel das casas de banhos na Idade Média e as transformações por que essa cultura das águas passou nos séculos seguintes. Essas transformações, que levaram no século XVIII a retrocessos quanto à higiene, decorreram pelo que tudo indica paralelamente a uma perda de sentidos mais profundos da água e das lavagens de antiga proveniência.


Ainda no século XIX, porém, mantinha-se em Colonia a prática tradicional de festas de banhos no sentido de lavagens de cunho lúdico e sentido religioso da noite de São João. Conhece-se uma representação visual desse uso ao redor de 1840, de propriedade do Museu Wallraf-Richartz e da Fundacão Corboud, sendo que o original se encontra perdido desde a Segunda Guerra. O poeta e humanista italiano Francesco Petrarca foi testemunho de um banho de São João em Colonia no ano 1333.



23.06.2014

Hampton Court Palace and Gardens - sede da maior exposição de flores do mundo. Dimensões políticas de jardins, parques e obras paisagísticas. Os trabalhos recentemente realizados na Inglaterra no âmbito do programa Cultura/Natureza da A.B.E. motivaram reflexões sobre diversos aspectos a serem considerados no desenvolvimento de uma ciência da cultura de orientação ambiental segundo uma ética de respeito à Natureza.


A atenção prioritária a ser concedido a questões ecológicas no presente e a procura de uma solução baseada em plantas para problemas do homem, da sociedade e do globo, como preconizadas nos Jardins Botânicos Reais de Kew (Veja notícia), exige mudanças de mentalidades e atitudes que pressupõem análises de ações  do homem no passado e, entre elas, a valorização adequada de suas obras relacionadas com a ciência e a arte de jardins, parques e construção de paisagens.


Neste sentido, já realizaram-se estudos sob a perspectiva euro-brasileira que consideraram sobretudo aspectos simbólicos de plantas, flores e jardins como parte integrante do edifício de concepções e imagens herdado de remoto passado, focalizando-se sobretudo a noção de „hortus conclusus“ na religião, na vida monacal da Idade Média, assim como nas suas expressões artística e múltiplas repercussões. Pouco se tem considerado, porém, as dimensões políticas das transformações de concepções e práticas relacionadas com o mundo botânico e a organização espacial na arquitetura, no urbanismo e na configuração da paisagem de regiões e países. O reconhecimento dessas dimensões surge, porém, como necessário em presente marcado pela destruição assombrosa e bárbara de grandes áreas, sobretudo pelo incêndio voluntário de florestas que envergonha países como o Brasil e depõe contra a cultura do homem, de administradores e políticos.


A preocupação por questões concernentes à Natureza nos estudos culturais não pode restringir-se à consideração superficial de jardins e parques, mas sim levar

à compreensão de processos a serviço de uma atitude refletida no tratamento do paisagismo entendido da forma mais ampla como ciência e arte da configuração da terra.


Para essas reflexões, o Hampton Court Palace na periferia de Londres (Richmond upon Thames) oferece condições particularmente favoráveis, uma vez que foi o palácio preferido para a residência dos reis da Inglaterra, centro sob muitos aspectos da política britânica, nessa função antecedente àquela atual de Buckingham. A relevância do Hampton Court Palace não se limita à história da arquitetura e das artes como exemplo exponente do estilo Tudor e do Barroco, como centro de cultivo musical no qual atuaram compositores de renome, mas sim também pelos seus jardins e grande parque. Também estes refletem, como a própria arquitetura na sua diversidade e transformações, as mudanças da história inglesa, suas inserções em processos políticos internos e seus elos internacionais.


Esses vínculos com  situações de poder manifestam-se expressivamente no jardim interno da parte mais antiga do palácio, onde os canteiros são marcados com animais-símbolos de famílias de influência. Uma configuração totalmente diversa é aquela que se expressa na reforma ou reconstrução barroca do palácio de Christopher Wren (1632-1723), orientada segundo Versailles, e da qual os grandes jardins constituem parte integrante. Estes surgem como um dos principais exemplos da arte paisagística do Barroco com o predomínio do tratamento aritmético e geométrico do espaço e das plantas, de principios numéricos e formais a serviço do poder centralizado e absoluto segundo modêlo francês. Nas suas três partes, a área ajardinada do palácio compreende o Privy Garden, recentemente restaurado segundo as concepções originais do início do século XVIII; nas proximidades situa-se o „jardim de nós“ - característico da arte de jardins ingleses - e a maior parreira de uvas do mundo. Além do jardim particular real, distingue-se o das fontes, reformado no século XIX. A área inclui também um pomar com árvores frutíferas e praça de ginástica da época Tudor, da qual resta um labirinto, e o parque junto ao Tamisa, com canal, alamedas e animais selvagens. A sociedade real de Horticultura realiza anualmente o Hampton Court Palace Flower Show - a maior mostra de flores do mundo.



22.06.2014

Kent/Inglaterra: Sheffield Park - os jardins para todas as estações do ano e a internacionalidade no paisagismo. O ciclo de estudos da A.B.E. levado a efeito no corrente mês na Inglaterra, inserido no programa de pesquisas „Cultura/Natureza“, considerou vários aspectos do complexo temático relacionado com o meio ambiente a serviço do anelo de desenvolvimento de uma Ciência da Cultura de orientação ambiental.


Para além de aproximações e iniciativas de natureza antes científico-natural, da botânica e da ecologia, estudadas entre outros nos Jardins Botânicos Reais de Kew, refletiu-se sobre fatores culturais e estético-filosóficos na valorização do patrimônio de parques, jardins e do planejamento paisagístico em geral (Veja notícias anteriores).


Tanto sob o aspecto botânico, como o cultural, artístico e filosófico, a atenção foi dirigida aos elos internacionais na história cultural relacionada com as plantas. Já em estudos anteriores considerara-se em diferentes contextos a „viagem“ de espécies vegetais no decorrer da história, a transplantação de plantas para fins utilitários agrícolas, em particular de árvores frutíferas e os centros de aclimatação criados nos diferentes países. (Veja p.e.http://www.revista.brasil-europa.eu/125/Romantica_do_Mar_do_Sul.htm ; lhttp://www.revista.brasil-europa.eu/125/Taiti_e_Caribe.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Brasil-Singapura-Cultura-Natureza.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/125/Brasil-Taiti_e_Ananas.html). Esses transplantes estenderam-se também a plantas ornamentais, contribuindo à diversidade de parques e jardins europeus e de outras regiões do mundo.


Assim como muitos frutos transplantados a regiões distantes tornaram-se parte integrante da cultura alimentícia dos países receptores, constituindo hoje até mesmo parte de sua identidade, também as árvores, folhagens ornamentais e flores transplantadas não podem mais ser separadas da fisionomia de muitas regiões e cidades. A arborização de ruas de metrópoles sul-americanas com plátanos europeus, como no exemplo de São Paulo, representa uma determinada fase histórica relativa a concepções urbanas e de qualidade
de vida inserida em contextos e processos internacionais, devendo ser assim considerada segundo os seus próprios pressupostos. Se hoje as concepções diferem daquelas da época de sua implantação, essa arborização não deveria deixar de ser considerada como parte de um patrimônio cultural, merecendo ser conservada.


Para esse tipo de reflexões,  o parque do palácio de Sheffield, em Kent, oferece-se como local particularmente favorável. O visitante é de início impressionado sobretudo pela organização topográfica do parque, configurado em diferentes níveis marcados por lagos e interligados com cascatas que levam ao vale.Esse jogo de águas em diferentes planos e a vegetação exuberante de árvores centenárias e canteiros de flores fazem com que Sheffield Park seja considerado como um dos mais belos da Inglaterra.


Ainda que o mapa mais antigo da área seja apenas de 1745, sabe-se que a história da propriedade possui remotas origens. O seu nome remonta a finais da Idade Média, significando „clareira de carneiros“. No século XV, o pasto transformou-se.em parque de cervos. A grande transformação paisagística ocorreu nas primeiras décadas do século XIX com a ampliação dos lagos a conselho do jardineiro-paisagista Capability Brown (1716-1783) e de Humphry Repton, o Earl de Sheffield. Em 1876, estabeleceu-se a quadra de Kricket; esta deu início ao tournier australiano com o local, o que fundamentou a internacionalidade de Sheffield.


Essa internacionalidade, porém, teve a sua expressão na paisagem com a ação de plantio desenvolvida entre 1910 e 1934, quando, em grandes proporções, introduziram-se rhododendros, árvores americanas e arbustos japoneses. Com isso, procurou-se dar à paisagem valores estéticos durante todo o ano em artística mutação de cores correspondentes às diferentes estações, também sob o rigor do inverno europeu. As chuvas, a terra húmida e fria auxiliam o crescimento e a vida de plantas exóticas. Por essa razão, Sheffield tornou-se conhecido como o parque de todas as estações. Sob o aspecto dos estudos relacionados com regiões tropicais, cumpre salientar a existência de uma alameda de palmeiras integrada no parque.


A relevância de Sheffield como obra de arte paisagística é reconhecida e valorizada no presente. Após ter servido a uma divisão canadense durante a Segunda Guerra e posteriormente a campo de prisioneiros, foi adquirido em 1954 pelo National Trust, mantendo-se apenas a residência em posse particular. Nos anos 80, as suas azaléias de Gent adquiriram o predicado de „coleção nacional“. O National Trust é a principal instituição não-governamental de proteção patrimonial e natural da Grã-Bretanha. Ela depende para o seu trabalho de doações particulares.




21.06.2014

Corvey como Patrimônio da Cultura Mundial. No presente dia, a comissão do patrimônio mundial da UNESCO, reunida em Doha (Katar), inscreveu o ex-mosteiro beneditino de Corvey, - hoje palácio de Corvey -  em Höxter, cidade da região do rio Weser, Vestfália(Alemanha, na lista dos bens culturais da Humanidade. Esse reconhecimento do significado do edifício vinha sido defendido há anos e justificado pelo excepcional significado de Corvey não apenas para a história da Alemanha, como também da Europa e da expansão cristã em geral.


A antiga abadia beneditina remonta a uma fundação dos primos de Carlos Magno, Adalhard e Wala, no ano de 815. O convento, transferido para a outra margem do rio Weser, tornou-se um centro religioso e cultural; ali Widukind escreveu a sua história dos saxões. Em exposição permanente no museu instalado no edifício, salienta-se o papel desempenhado por Corvey na história missionária. Ali se demonstra como Corvey tornou-se centro de expansão missionária para o Leste e Norte europeu, assim como outras regiões da Europa Central. A Missão de Corvey na Idade Média foi dirigida aos dinamarqueses, aos suecos, aos frísios, aos tschecos, aos Wenden e sórbios. Ao mesmo tempo, tornou-se receptor de influências culturais e bens das diversas regiões, o que contribuiu ao poder e ao enriquecimento do convento. Por esse motivo, Corvey adquire especial relevância para o estudo de processos culturais.


Nesse sentido, foi alvo de visita de membros da A.B.E. em maio do corrente ano, atualizando-se conhecimentos e impressões obtidos em visitas realizadas nas décadas de 70 e 80 do século passado.


O reconhecimento da UNESCO diz respeito sobretudo à fachada ocidental carolíngia com os seus afrescos e à Civitas Corvey. O edifício e a igreja foram reformados e reconstruídos no período Barroco.


Desde 1792 sede de Principado Episcopal, a sua Biblioteca, criada no decorrer dos séculos, representa uma das mais valiosas da Europa. Nela se encontram, entre outros, os primeiros cinco livros dos Anais de Tacitus e várias obras de Cicero.


Hoffmann von Fallersleben (1798-1874), que ali foi bibliotecário por indicação de Franz Liszt (1811-1886), entrou na história cultural sobretudo como autor do Hino Nacional Alemão, sendo o seu túmulo alvo de visitas. A sua „canção da Emigração“ (Auswanderungslied) assume particular significado nos estudos da emigração alemã, também naqueles referentes ao Brasil. O papel de Corvey como centro cultural é mantido hoje através de vasta programação de exposições, conferências e concertos. A recuperação do órgão de 1681,  ameaçado pela corrosão, representa um dos grandes projetos da atualidade pelas grandes somas que exige.



20.06.2014

Kent/Inglaterra: Scotney Castle and Gardens - o fator estético do visual na análise do patrimônio paisagístico e nas reflexões relativas à configuração do meio ambiente. No ciclo de estudos do projeto Cultura/Natureza da A.B.E. desenvolvido em Londres e no Sul da Inglaterra (Veja notícias anteriores), visitou-se o castelo de Scotney e seus jardins, situado  no vale do rio Bewl, em Kent.


A Inglaterra adquire especial relevância para os estudos culturais de orientação ambiental sob diversos aspectos. Essa importância reside não apenas no papel que desempenhou na aclimatação e no cultivo de plantas de diferentes origens no passado e, na atualidade, nos estudos científico-naturais voltados à preservação vegetal e animal, à biodiversidade, ao desenvolvimento sustentável e à procura de soluções baseadas em plantas para problemas do homem e do planeta, anelo defendido pelos Jardins Botânicos Reais de Kew/Londres (Veja notícia). Com esses esforços relaciona-se a valorização de habitats em geral pouco considerados, como é o caso exemplar do Great Dexter relativamente a prados e campos (Veja notícia).


Para além de aproximações antes científico-naturais ao complexo Cultura/Natureza, não se pode esquecer que os jardins criados no passado fazem parte integrante do patrimônio cultural, necessitando ser considerados a partir de seus próprios pressupostos e nos respectivos contextos, como estudado em Sissinghurst. Aqui constatou-se a interação entre o jardim como obra de arte com correntes de pensamento e de modos de vida em dimensões internacionais que marcaram a história do pensamento, da literatura e das artes. (Veja notícia)


O castelo e os jardins de Scotney trazem à consciência ainda de forma mais impressiva a importância do fator estético na concepção e realização de parques e jardins e, em dimensões mais amplas, da configuração estética da paisagem do próprio país.


Pergunta-se se a percepção sensorial, em particular visual, e os critérios estéticos salientadose m Scotney não poderiam contribuir à procura de soluções dos problemas de degradação da Natureza que atingem muitos países do globo na atualidade, infelizmente também o Brasil.


A reconsideração atualizada dessa aproximação estética em discussão marcada antes por concepções científico-naturais relativas ao meio ambiente não deve ser vista como expressão de superficialidade no tratamento de tão graves problemas e de suas consequências sociais e humanas, mas sim de responsabilidade perante o meio ambiente, o homem e outras criaturas sob perspectivas filosóficas, uma vez que a estética se relaciona e interage com a ética.


Para esse tipo de reflexões, os jardins de Scotney oferecem condições particularmente favoráveis. A área no seu todo é considerada como um dos mais destacados exemplos de um estilo de orientação marcadamente visual ou pictórica (Picturesque style). Ainda que inserida no movimento romântico de fins do século XVIII e XIX, a concepção de que o homem pode ver a fisionomia da paisagem segundo critérios visuais da pintura - à época os do Belo e do Sublime -, sugere poder vir a ser atualizada. Ela possibilita uma aproximação mais imediata, antes intuitiva a valores da Natureza e pode assim ter uma função educativa mais ampla do que argumentos racionais de defesa do meio ambiente e da biodiversidade.


O castelo de Scotney e seus jardins  situam-se no centro de um grande parque florestal e podem ser considerados não apenas como modêlos de uma concepção estética dos próprios jardins, como também da configuração estética da paisagem envolvente. O romantismo de sua concepção evidencia-se sobretudo no fato de haver um velho castelo em ruínas - em parte construído já como ruína - na parte baixa da propriedade, destinado a criar um foco de contemplação a partir do palácio novo no alto da colina e daqueles que percorrem o jardim. Este novo castelo foi projetado em estilo elizabetano e construído em 1837 por Edward Hussey III. Ao foco representado pelo castelo em ruínas levam alamedas e caminhos de grandes rhododendrons, azaléias e calmias, intercalados com árvores e arbustos que na primavera e sobretudo no outono criam uma dos mais grandiosos espetáculos de cor em obras de arte paisagística da Europa e mesmo do globo.



19.06.2014

Kent/Inglaterra: Sissinghurst Garden: Cor e Forma na configuração paisagística. Natureza, Poesia, Relações Internacionais e Poliamor - lembrando Vita Sackville-West (1892)1962). A área ajardinada de Sissinghurst em Kent - o „jardim da Inglaterra“- é considerada como uma das mais belas do mundo. Com ca. de 5 hectares, é dividida em 10 espaços - jardins em jardim-, tratados temáticamente. Alguns foram configurados segundo cores das flores, havendo por exemplo um jardim branco e um rosa, indenpendentemente das espécies vegetais. Outros seguem outros princípios temáticos, como por exemplo o da utilização de plantas para usos medicionais. Os espaços se interligam de forma complexa, constituindo uma diversidade na unidade. Da torre da casa dos antigos proprietários tem-se uma visão global do complexo e das terras vizinhas, ocupadas para fins de agricultura e pecuária.


É justamente nessa complexidade de princípios ordenadores do espaço paisagístico ao redor do antigo castelo e das unidades ajardinadas que reside o principal interesse de Sessinghurst sob o ponto de vista dos estudos culturais de orientação ambiental. Foi por esse motivo que a área foi visitada no âmbito do ciclo de estudos realizados pela A.B.E. como parte do seu programa Cultura/Natureza em Londres e no Sul da Inglaterra (Veja notícias anteriores).


A visita a Sissinghurst traz à consciência que estudos culturais assim desenvolvidos não devem apenas limitar-se à consideração de perspectivas científico-naturais, da história da Botânica em relações internacionais e dos esforços atuais referentes à conservação do meio ambiente, à biodiversidade e à sustentabilidade. O patrimônio cultural-natural construído no decorrer dos séculos exige ser considerado também sob perspectivas adequadas aos respectivos contextos histórico-culturais em que surgiram, em particular a correntes estéticas, artísticas, literário-poéticas ou outras. É a partir dessas análises que se pode também compreender transformações por que passaram e a reciprocidade de interações entre imagens e concepções e o configurado nas relações entre o homem e a Natureza.


Em Sissinghurst, em particular na torre que conserva a vasta biblioteca de seus antigos proprietários e uma coleção de fotos e outros documentos, constata-se a diferença do pensamento e dos anelos da escritora Victoria Mary Sackville-West (The Edwardians; All Passion Spent; Poems of West und East, entre outros) e do diplomata e publicista Harold Nicolson (1913-1962), casal que, com grande vivência do mundo extra-europeu, em particular da Pérsia e marcado pela fascinação pela latinidade, mudou-se para o antigo palácio em 1932.


O castelo possuia uma longa história, remontando a uma fazenda de criação de suinos saxônica e da qual nada resta.  No século XVI, a área foi reformada, surgindo uma casa em estilo renascentista, com galeria, 37 chaminés e torre. No decorrer dos séculos, foi usado como prisão e abrigo de desempregados. No século XIX, os edifícios remanscentes foram recuperados. Manteve-se até hoje como uma fazenda com reses, carneiros e porcos; nas suas terras sobrevivem raras espécieds de flores silvestres, insetos e pássaros. Nessa propriedade,  os jardins foram implantados segundo princípios distintos, mas que se interagiram.


Vita Sackville-West orientava-se mais pelo critério literário e da cor, tendendo a uma configuração pictórica e poética da paisagem, Harold Nicolson representava antes uma concepção orientada segundo critérios abstratos e de morfologia do espaço. A propriedade foi visitada por grandes homes da literatura do século XX, personalidades que faziam parte do círculo de Vita Sackville-West. Entre eles salientou-se sobretudo Virginia Woolf, sendo Vita Sackville-West tratada na obra Orlando. Devido ao modo de vida dos proprietários, marcado por relações poliamorosas, adquirem hoje - assim como a sua obra paisagística e de jardinagem - particular interesse também sob a perspectiva dos Gender Studies.




18.06.2014

Condado de Kent. Great Dixter: The Exotic Garden e a valorização de prados e campos. O complexo de jardins do Great Camp Gardens em Kent, região vista como o jardim da Inglaterra, foi visitado no âmbito do ciclo de estudos do programa „Cultura/Natureza“ da A.B.E. desenvolvido em Londres e no Sul do país (Veja notícia anterior). Esse jardim foi criado por Roderick e Joy Cameron a partir de 1957 ao redor de uma casa senhorial do século XVII. Possui uma grande coleção de magnólias, azaléias e rhododendros, assim como uma grande quantidade de plantas exóticas. Os jardins são hoje mantidos por um curador, dois jardineiros em tempo integral e dois em tempo parcial, além de um grupo de voluntários. O principal interesse desse complexo  de jardins para as reflexões culturais de orientação ecológica da atualidade reside na valorização estética e paisagística ali dada aos campos e prados com flores silvestres.


Calcula-se que desde a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido perdeu 95% dos seus prados e capinzais, o que levou ao declínio de flores silvestres e da vida animal.  Em cotejo com os anos 40 do século XIX, hoje resta apenas 5% das flores de campos. Essas áreas são em geral pequenos campos e áreas adjacentes a propriedades rurais de agricultura e pecuária. A Weald Meadows Initiative (WMI) pretende restaurar 3700 hectares de áreas de campos ricas em flores silvestres, por considerá-las importantes para a bioseguridade e polenização. Great Dixter apoia o High Weald Landscape Trusts, cujo objetivo é duplicar o número de campos com flores silvestres na sua área até 2015.


Reconhecendo-se a importância dos habitats de grama alta no domínio do Great Dixter, o  objetivo da instituição passou a ser sobretudo o fomento da diversidade vegetal nessas áreas. A sua administração é conduzida no sentido de maximizar a diversidade das espécies vegetais e dos insetos e pássaros. Nesses esforços, o cultivo de orquídeas adquire especial significado. Os capinzais são cortados só no fim do verão, em meados de Agosto permitindo um amplo espectro de sementes, garantindo a biodiversitade. Após um segundo corte em Outubro/Novembro, a grama é mantida curta durante o inverno. Algumas áreas não são cortadas, formando um mosaico no gramado e possibilitanto cobrimento vegetal para insetos e animais.


Sob o aspecto de estudos referenciados pelo Brasil, o interesse de Great Dixter reside não apenas nessa valorização exemplar de prados, campos e capinzais, dos quais o Brasil é tão rico e que são em geral pouco presentes na consciência de planejadores, paisagistas, jardineiros e do povo em geral, mas sim também na existência de um espaço ali reservado a plantas exóticas, algumas delas provenientes do Brasil. Pode-se, assim, ali observar bananeiras, coqueiros, palmeiras, pés de mamona e outras árvores e arbustos conhecidos no Brasil e nem sempre valorizados nos seus aspectos estéticos e na sua importância na formação de meios marcados pela diversidade vegetal e animal.




17.06.2014

Londres. Kew - Royal Botanic Gardens e o projeto de soluções baseadas em plantas para para o Homem e o planeta. Inserido no programa „Cultura/Natureza“ da A.B.E. (Veja), realizou-se um ciclo de estudos a instituições, museus, parques e jardins da Inglaterra. Preparado por eventos na Alemanha e correspondendo às preocupações manifestadas pelo WWF referentes ao Brasil (Veja Notícia de 5 de Abril), o ciclo foi dedicado à observação dos projetos e das tendências atuais em instituições inglesas de relevância para o tratamento de questões ambientais nas suas relações com a cultura, em particular sob a perspectiva patrimonial.


O papel de extraordinária relevância exercido pela Inglaterra na história do paisagismo já foi considerado em vários eventos realizados em centros de estudos, em parques e jardins do continente europeu, no Brasil e em outros países fora da Europa (Veja por ex. http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Brasil-Singapura-Cultura-Natureza.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/123/Mauricio.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/125/Botanica_da_Polinesia.html).


Os parques inglêses, representando uma nova concepção no tratamento da natureza em jardins particulares e públicos nos séculos XVIII e XIX, influenciaram o desenvolvimento do paisagismo, do urbanismo e da arquitetura em vários contextos culturais. (http://www.revista.brasil-europa.eu/107/Parque-de-Woerlitz.htm) O surgir das novas tendências e sua ampla recepção decorreram em estreito relacionamento com o desenvolvimento dos conhecimentos botânicos possibilitados pela intensificação dos contatos entre povos e culturas no decorrer de processos coloniais e relações internacionais.


Esse extraordinário papel exercido pela Inglaterra não diz respeito apenas ao passado, mas também deve ser reconhecido no presente. Instituições inglesas, e mesmo britânicas em geral, realizam projetos e oferecem impulsos de relevância para a proteção ambiental, para desenvolvimentos sustentáveis, para uma arquitetura de orientação ecológica e para a transformação de formas de pensar e de atitudes do Homem perante a natureza em contextos globais.


Entre elas destacam-se os Jardins Botânicos Reais de Kew, na periferia de Londres como centro de uma rêde mundial de pesquisadores que procuram soluções para os problemas atuais concernentes à Natureza e nos quais o Brasil infelizmente ocupa uma posição de triste preponderância. Esss esforços de Kew se manifestam entre outros no projeto Breathing Planet Campaign.


O Jardim de Kew oferece uma vasta série de cursos, colóquios e conferências sobre o mundo das plantas, da ciência e da horticultura, incluindo temas de interesse explicitamente cultural., Entre êles, destacam-se no corrente ano os eventos „Kew the Music“ e „Botanic Art in the 21st Century“, além do projeto de „science of plant-lore“, voltado uso tradicional de plantas medicinais na Grã-Bretanha e sua potencialmente para a moderna medicina. Esse projeto, de interesse não somente para os estudos de Folclore, é apoiado pelo National Institute of Medical Herbalists, Chelsea Physic Garden, Royal Botanic Garden Edinburgh, the National Botanic Garden of Wales e o Eden Project.


Em Kew, sob a perspectiva euro-brasileira, a atenção é dirigida sobretudo a determinados complexos ali considerados, entre êles ao Jardim Mediterrâneo, ao Palm House e ao Waterlily House. O Palm House, construida em 1848, representa, assim como também o pavilhão de cristal do Temperate House, um marco na história da arquitetura em metal e vidro nas suas relações com a Botânica (http://www.revista.brasil-europa.eu/119/Paxton.html), de repercussão mundial e iniciador de um desenvolvimento que adquire hoje particular atualidade.


Nele encontram-se, na área destinada às Américas, várias espécies do Brasil, salientando-se aqui uma palmeira babaçu como a mais alta árvore cultivada no edifício, além de coqueiros, jacarandás e vários tipos de bananeiras e outras plantas. O Waterlily House, a mais quente e húmida das construções de vidro do Jardim, abriga plantas aquáticas da região tropical, entre elas Nymphea e Victoria cruziana, oferecendo fundamentais elucidações a respeito da Vitória Regia amazônica, de sua recepção na Inglaterra e sua difusão no globo, assim como de suas diferenças relativamente à flor de lotus da Índia.


O Palm House e o Waterlily House surgem assim como chaves na consideração da história da Botânica nas suas relações com processos históricos do colonialismo e do imperialismo do século XIX. Pode-se, assim, ali dar prosseguimento aos estudos desenvolvidos no pavilhão da Vitória Régia amazonense do Jardim Botânico de Adelaide, Austrália (http://www.revista.brasil-europa.eu/119/Schomburgk.html).





16.06.2014

Ribeirão Preto - L‘altra Italia. O SESC Ribeirão Preto em parceria com a Cia. Minaz apresenta neste mês o concerto "L'altra Itália". Concomitantemente, também oferece um "masterclass Canções e árias em língua italiana". No repertório estão contemplados compositores italianos e brasileiros que tiveram parte da sua formação na Itália. Os autores europeus serão interpretados pelo tenor italiano  E. Servidio, com participação da soprano Gisele Ganade cantando árias de autores brasileiros. O acompanhamento ao piano será feito pelo maestro Achilli Pichi. (Prof. Dr.J.G. Guimarães).



09.06.2014

A região do Westerwald e o Brasil: panorama geográfico-cultural aéreo. As reflexões encetadas em Dillenburg sôbre os elos entre a casa de Nassau na região de Hessen, os Países Baixos e o Brasil, marcados sobretudo por João Maurício de Nassau, vulto histórico da presença holandesa no Nordeste no século XVII (Veja Notícia), trouxe à consciência a diversidade de vínculos histórico-culturais entre essa região central da Alemanha e o Brasil no decorrer dos séculos.


O estudo dessas relações não se limita somente àquele de contextos relacionados com a história interno-européia de tensões religiosos e políticos que levaram à independência dos Países Baixos e suas irradiações internacionais, mas também a outras épocas e contextos que também atingem regiões em parte hoje pertencentes a Estados vizinhos, como a Renânia do Norte/Vestfália e a Renânia-Palatinado.


Este é o caso da emigração do Westerwald, região afastada de centros maiores, conhecida no passado pela sua fraca economia e mesmo pobreza. A complexidade da história dessa região deriva em parte dos seus diferentes inserções em esferas de influência de centros maiores ou de pertencimento a soberanos e autoridades eclesiásticas. Uma possibilidade para um estudo histórico-cultural diferenciado da região é a consideração de suas condições geográficas, rios, vales e barreiras naturais, ou seja, de determinantes de espaços naturais. A partir dos espaços e vias assim explicados pela própria paisagem pode-se melhor compreender os processos históricos que marcaram a região e a cultura daqueles que dela emigraram no passado. É também pressuposto para a consideração das grandes modificações por que passa no presente.


Com esse objetivo, e para obter-se uma visão geral dos espaços naturais da região e da distribuição de suas cidades e de vias de comunicação, fretou-se um aeroplano que sobrevoou o Westerwald e regiões circunvizinhas, em particular a terra de Siegen.



06.06.2014

Dillenburg: Contextos alemães no Brasil-Holandês. Por ocasião de visita de responsável pelo centro de estudos da A.B.E. no Brasil à Alemanha, procedeu-se a uma nova visita da cidade de Dillenburg, no Estado de Hessen. Essa região de Nassau, citcunscrição de Lahn-Dill, adquire particular significado para os estudos referentes às relações entre a Alemanha, os Países Baixos e o Brasil por ter sido sede da família que passou a ser a soberana da Holanda e local de nascimento do Príncipe João Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679), cujo nome entrou na história pela sua atuação no Nordeste do Brasil.


Dillenburg é uma das principais localidades da Rota dos Oranios, uma rota cultural-turística holandesa-alemã que toca os principais pontos relacionados com a família real holandesa. O burgo nos altos à beira do rio Dill, que deu nome à cidade, remonta aos séculos XIII e XIV; por não ser sujeito ao conde de Hessen, fundamentou uma posição de particular independência da localidade. No século XVI, esse burgo deu lugar ao castelo dos condes de Nassau-Dillenburg, sendo o seu principal vulto Guilherme de Orania, o „Taciturno“ (1533-1584), líder da resistência dos Países Baixos relativamente ao domínio espanhol. A sua estátua levanta-se hoje na praça abaixo da torre que leva o seu nome, recentemente inaugurada pela ex-rainha Beatrix. Foi essa personalidade que justifica os elos estreitos da cidade com os Países Baixos.


Destruído por incêndios e conflitos, do castelo restam hoje partes de fortificações, com sistemas de defesa subterrâneos. Marco simbólico de Dillenburg é a torre de Guilherme, terminada no século XIX no contexto do Historismo. O vulto de Guilherme de Orania traz à consciência o significado das tensões confessionais nas suas relações com configurações territoriais para análises da expansão holandesa em regiões extra-européias e a sua presença no Nordeste do Brasil. Sob Felipe II da Espanha, Guilherme tornou-se chefe dos condados da Holanda, Zeelandia e Utrecht. Os conflitos foram marcados por uma ação que merece especial atenção nos estudos culturais: a destruição de imagens nas igrejas pelos protestantes. Com a independência das províncias do Norte dos Países Baixos, Guilherme tornou-se chefe da República. Por essa razão, é considerado como "Pai da Patría" nos Países Baixos. Uma de suas filhas, Emilia (1569-1629), foi casada com D. Manuel de Portugal (1568-1638).


O Príncipe Maurício de Nassau, „o Brasileiro“, nascido em Dillenburg como  filho do conde João VII de Nassau-Dillenburg, assumiu em 1636 a responsabilidade pelas propriedades da Companhia das Ilhas Ocidentais Holandesas no Brasil. A visita de estudos a Dillenburg é completada pela visita a outros centros históricos da região relacionados com esse príncipe.



05.06.2014

Dom Pedro II na Alemanha: Uma amizade tradicional. Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança. Nesta sua nova obra, recém-publicada, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo dá continuidade à série de importantes contribuições à História do Brasil do passado monárquico, indispensáveis para os estudos culturais em relações entre a Europa e o Brasil. (Bragança, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e. Dom Pedro II na Alemanha: uma amizade tradicional. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2014, ISBN 978-85-396-0454-8, 176 págs. ilustr.). A edição pareceu ser oportuna devido à celebração do ano Brasil-Alemanha, em 2013.


O editor lembra de início que o interesse pela ciência, arte e cultura marcou a trajetória de D. Pedro II. O monarca jamais deixou de estudar, e para isso realizou viagens ao Exterior, onde travou contatos pessoais com intelectuais, artistas e cientistas. Nessa obra, Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança considera as visitas de D. Pedro II à Alemanha, um país que o fascinava. O autor, na sua Introdução, salienta a passagem dos 120 anos do falecimento do imperador em modesto hotel de Paris, „personalização do homem democrático e simples“, defensor da liberdade de imprensa, que desejava dar ao Brasil uma imagem cultural e de progresso que o distinguia de repúblicas sulamericanas.


Testemunhos de sua intensa correspondência com eruditos de língua alemã podem ser encontrados nos arquivos da Biblioteca Nacional, do Museu Imperial e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O interesse pelas ciências de D. Pedro II é documentado pelo grande número de títulos de obras recebidas. Também teve interesse particular pelos músicos alemães, tendo apoiado o Mozarteum de Salzburgo e a Casa dos Festivais, em Bayreuth. No acervo Grão-Pará, do príncipe d. Pedro Carlos, o autor encontrou importantes materiais para a sua obra. O arquivo da Fundação Krupp, em Essen, disponibilizou o seu arquivo fotográfico. Em Berlim,
Munique e Viena puderam ser encontrados apenas poucos elementos, uma vez que as viagens do Imperador eram realizadas em caráter particular. Também a imprensa européia, com exceção dos jornais de Viena, não considerou com grande atenção as visitas imperiais.


Pedro II esteve cinco vezes na Alemanha: em 1871, 1876, 1887, 1890 e 1891. O primeiro capítulo trata da primeira viagem (1871-1872), considerando a travessia aventurosa do Rio de Janeiro a Lisboa, a longa marcha de Portugal à Alemanha e, finalmente, o alcance desse país. O segundo capítulo, considerando a segunda viagem (1876-1877), trata dos pontos „O imperador yankee“, „No Velho Continente“, „Na terra de Goethe“, „Munique“ e „O músico do futuro“. O terceiro capítulo, relativo à terceira viagem (1887-1888), é dividido nos ítens „Anos decisivos“, „Uma travessia relaxante“, „Coburgo“ e „Deixando a Alemanha“. Por fim, o autor trata das Últimas visitas (1890-1891). Em anexo, transmite nota autobiográfica de d. Pedro II. O volume é encerrado com Bibliografia e menção de arquivos e períodos, assim como com um Índice Onomástico.


Essa obra vem de encontro aos interesses que marcam os trabalhos da Academia Brasil-Europa há décadas, enriquecendo de forma extraordinária os estudos. Assim, o Centro de Estudos Brasil-Europa em Colonia, em 1997, foi aberto com uma conferência de tema „D. Pedro II e as Ciências“. A Revista Brasil-Europa, no primeiro número de 2014, recordando antigos trabalhos da década de 70, trouxe relatos de estudos relativos às relações entre D. Pedro II e Bayreuth desenvolvidos em 1976 por ocasião do Centenário da Casa de Festivais (http://revista.brasil-europa.eu/147/Pedro-II-e-Bayreuth.html). Cumpre, assim, manifestar a Dom Carlos Tasso de Saxe-Coburgo os agradecimentos dos pesquisadores por essa obra que condensa conhecimentos, apresenta um panorama geral das viagens de D. Pedro II à Alemanha e oferece inúmeros novos subsídios.



04.06.2014

Gigantes construídos como „palavra em pedra“ e o Esporte. Estudos de Prora II. O atual debate concernente ao gigantismo construtivo e ao desperdício de recursos no contexto da Copa do Mundo 2014, que também influencia a imagem do Brasil no Exterior, foi considerado em estudos realizados na exposição do Centro de Documentação de Prora, Alemanha, exemplo por excelência de edificação superdimensionada e  sem uso (Veja Notícia de 26.05.). O centro surgiu como resultado da cooperação de vários países europeus e encontra-se sob a responsabilidade da fundação „Nova Cultura“.


Essa exposição permanente, de nome MACHTUrlaub, um jogo de palavras que relaciona o „tirar férias“ com Poder, documenta as bases propagandísticas do projeto por parte do regime nacionalsocialista. Nela apresenta-se o modelo social da „comunidade do povo“ e oferece-se uma visão geral da vida de trabalho sob o sistema autoritário.


De interesse é a relação entre a política de trabalho, a propaganda e o esporte. A „fronte de trabalho alemã“. de 1933, substituiu os sindicados extintos e devia servir aos interesses econômicos e sociais dos trabalhadores, sendo porém o seu objetivo maior a educação de todos segundo uma mentalidade nacionalsocialista.


O chefe da fronte de trabalho, Robert Ley, foi também o principal mentor da comunidade „Energia através da Alegria“, fundada em 1933, e que tinha como escopo orientar os trabalhadores no seu tempo livre. Esse objetivo levou a grandes projetos, entre êles o de uma frota de navios de férias, ao Volkswagen e também ao Balneário de Rügen. Este devia ser um modêlo de outros balneários de trabalhadores. A pedra fundamental desse balneário foi lançada no terceiro aniversário do ataque aos sindicatos, em 1936.


A partir de 1939, toda a organização da Fronte de Trabalho passou a servir objetivos de Guerra. O mesmo deu-se com os navios de férias, „Robert Ley“ e „Wilhelm Gustloff“. As viagens de férias para a educação nacionalsocialista dos trabalhadores que maior significado adquirem para os estudos portugueses e brasileiros são aquelas que se dirigiram a Portugal, em particular à ilha da Madeira. A imprensa da época apresenta textos que elucidam as estreitas relações entre uma retórica política voltada aos trabalhadores e uma euforia preparada e organizada pelo regime. A leitura de textos então publicados em jornais e revistas contribui para o reconhecimento da extensão da ideologia ao mundo de língua portuguesa. No Brasil, a visita do navio da organização, em meados dos anos 30, levou muitos alemães de São Paulo a Santos.


A arquitetura e o planejamento urbano, compreendidos no como „arte construtiva“, serviam no Nacionalsocialismo a uma concepção de espaço como palco permanente para encenações de poder e de propaganda. A arte construtiva servia à demonstração de monumental representação do Estado. Servia também a curto prazo a interesses econômicos da indústria de construção. Princípios de funcionalidade e utilidade passaram a dar lugar a intuitos representativos e estabilizadores de Poder. Sem considerar economia de recursos, as construções passaram a ter um caráter antes memorial.


O fomento do esporte foi desde o início um dos escopos do Partido nacionalsocialista. Estreitamente relacionado com a „saúde do povo“, o esporte surgia como uma tarefa do Estado. A educação física passou a ser um dever, entretanto apenas para „arianos“ e membros da „comunidade do povo“. Os jogos olímpicos de 1936 deviam demonstrar ao mundo uma imagem da Alemanha civilizada e pacífica, e o esporte devia demonstrar a superioridade da „raça ariana“.



02.06.2014

Responsabilidade social, cultura e educação: „Paz e Bem“. Um projeto modelar em Joanópolis/SP. Em 10 de janeiro de 2013, o Pe. Edson Gomes da Silva, Paróquia de São João Batista de Joanópolis, São Paulo, fundou o Projeto Santo Antonio de Pádua - Paz e Bem, associação civil, educacional, cultural, beneficiente e sem fins lucrativos. A coordenação pedagógica do projeto ficou sob a responsabilidade da comunidade franciscana da Misericórdia, aos cuidados da Ir. Floridalma Alvarado. Na atualidade, 100 crianças são atendidades, divididas em faixas de idade em quatro grupos, denominados de Sol, Estrela, Nuvens e Coração. Elas recebem ensinamentos em Artesanato, Educação Física, Música, Ensino Religioso, Dança, Horta, Auxílio doméstico, Estórias, sendo acompanhadas psicológicamente. O projeto lançou em 2014 um CD com um coro infantil formado pelas crianças, organizado pela folclorista Neide Rodrigues Gomes. As peças, tradicionais e eruditas, algumas do Folclore brasileiro, como „Linda Estrela“, tema de Pastoril e „Acordai quem está dormindo“, canto de Folias de Reis, foram arranjadas por Marcos José dos Santos.




29.05.2014

Museu Casa de Portinari, Brodwski/SP. Após permanecer fechado por dois anos para reforma e restauro será reaberto o Museu Casa de Portinari, na cidade de Brodwski. Além do acervo tradicional, o museu oferecerá novas salas de exposições e uma programação especial. A Cia. Minaz, de Ribeirão Preto, apresentará três espetáculos ao ar livre. Um deles terá músicas de Cole Porter e Gershwin, interpetadas por Gisele Ganade e Camilo Calandeli, acompanhados por um quarteto de cordas e piano. (Prof. Dr. J. Gerardo M. Guimarães)



27.06.2014

„O piano religioso de Franz Liszt“ por Sylvia Maltese. A pianista e pesquisadora paulista Sylvia Maltese acaba de lançar mais uma gravação de relevância não apenas artística, mas sim também para os estudos culturais e musicológicos. Com a gravação de obras religiosas ou de conotação religiosa de Franz Liszt (1811-1886), Sylvia Maltese dá sequência à série de CDs que testemunham a sua prática pianística fundamentada em pesquisas e estudos e que a colocam há anos em posição exemplar no Brasil.


Se as suas gravações anteriores foram dedicadas sobretudo a obras de compositores brasileiros, particularmente de São Paulo (Veja notícias), levantadas em pesquisas em acervos familiares e outros, neste projeto volta-se a um dos grandes pianistas e compositores da História da Música européia, de projeção internacional. Neste sentido, dedicara-se até hoje sobretudo à interpretação de obras de Chopin e Schumann, não tanto às de Liszt, pois as considerava como expressões de procura de brilho virtuosístico. O estudo das obras de maturidade do compositor a fascinaram, tornando este projeto, que considera o mais difícil de todos aqueles que desenvolveu, uma revelação e fator de enriquecimento pessoal.


O idealizador do projeto foi Sérgio Bittencourt-Sampaio, autor do estudo „Aspectos religiosos e transcendentes na música de Franz Liszt para piano“ (Música, Velhos temas, novas leituras ..., Rio de Janeiro: Mauad X, 2012) (Veja Notícia). No seu pormenorizado texto de encarte, este autor ressalta de início a presença religiosa como um dos traços constantes da vida de Franz Liszt e que, apesar da sua carreita em meios mundanos da Europa, manteve o sentimento religiosos, manifestados em seus diários e nas suas reflexões até que, em 1865, obteve as ordens menores. O autor lembra que, já no  seu primeiro artigo, „De l‘Avenir de la Musique Religieuse“ (1834), Liszt manifestou a sua inserção nas correntes imbuídas de anelos de restauração da música sacra que marcaram o século XIX. Com o tratamento de motivos religiosos e filosóficos, Liszt distinguiu-se de vários outros compositores de sua época. O projeto inclui as peças Consolation n° 3 e n° 4, Sposalizio (de Années de Pélerinage), Bénédiction de Dieu dans la Solitude, Hymne de l‘Enfant à son Réveil, Ave Maria, Pater Noster (de Harmonies Poétiques et Religieuses), Sursum Corda, Aux Cyprès de La Villa D‘Este - Thrénodie (Années de Pélerinage) e Rapsódia Húngara n° 5 - Héroide Elégiaque. O CD, produção fonográfica de Paulus, teve a Direção multimedial de Claudiano Avelino dos Santos, sendo gravado e editado pela Cia. Do Gato.



26.05.2014

Megalomania construtiva, esporte, alegria, violência e política. Estudos em Prora I. A imagem do Brasil no Exterior vem sendo marcada de forma ambivalente por euforia pelo campeonato mundial de futebol e por notícias de demonstrações que criticam o desperdício de verbas em construções de estádios, que surgem como incompatíveis com as necessidades sociais do país e de questionável utilidade no futuro: „elefantes brancos“. Essa ambivalência na dinâmica da imagem do Brasil chama a atenção sob a perspectiva dos estudos de processos culturais em relações internacionais a dimensões mais amplas, supra-nacionais da problemática. Torna-se necessário lembrar que o gigantismo construtivo relacionado com esportes e cultura física em geral é um fenômeno inserido em processos histórico-culturais que, desencadeados no século XIX, adquiriram no século XX particular significado em determinados contextos político-ideológicos. Analisar esses processos na Europa e nas suas extensões no Brasil surge assim como pressuposto para uma consideração esclarecedora de excessos, abusos e desperdícios, necessária para uma crítica voltada a fundamentos de relações entre megalomania arquitetônica, esportes e política.


Para a discussão das múltiplas questões que aqui se levantam escolheu-se o exemplo por excelência de um „elefante branco“: o balneário da „Força através da Alegria“ (KdF) em Prora, na ilha de Rügen, Alemanha. Trata-se de uma construção de 4,5 quilômentros de comprimento, levantada entre 1936 e 1939 pela comunidade nazista da „Kraft durch Freude“, próxima no seu conceito ao movimento da „Alegria dos trabalhadores“ em países de língua portuguesa do passado.


O projeto, do arquiteto Clemens Klotz, consiste em 8 edifícios dormitórios ao longo da costa. Nunca terminado, dele restam hoje três conjuntos ao sul de uma planejada praça festiva, e dois ao Norte, além de ruínas de dois outros blocos. Ao lado da área do partido do Reich em Nürnberg, esse empreendimento construtivo de Prora representa o maior resíduo do passado nacionalsocialista alemão. Nele deveriam passar férias ca. de 20.000 trabalhadores, conquistando-os para um sistrema que havia destruído as reais organizações trabalhistas em 1933. Com o inicio da Guerra, os trabalhos foram suspensos; os trabalhadores foram enviados para indústrias de armamentos e os prédios utilizados para a formação de batalhões e serviçais da marinha de Guerra. Nessa construção dedicada à alegria  e que, em caso de Guerra já havia sido pensada para servir de lazareto, passaram a atuar trabalhadores forçados e prisioneiros de um regime marcado pela violência.


Após a Guerra, a área foi interditada pela antiga República Democrática Alemã, sendo aberta em 1991, após a união das duas partes do país. Hoje, abriga um importante Centro de Documentação, procurado por grande número de visitantes, e que, apesar das questões que se colocam relativamente ao uso de tanto espaço abandonado e em parte em ruínas, surge como um memorial da história político-ideológica. Entre os assuntos tratados, considerou-se a extensão do ideário da KdF em Portugal e no Brasil com base em documentos históricos. Próximas notícias trarão breves relatos das reflexões.



25.05.2014

Bald Salzuflen: 100 anos. Elos com o Brasil - os Brandes. A cidade alemã de Bald Salzuflen, um balneário termal na região de Lippe, Estado da Renânia do Norte-Vestfália, goza de renome supra-regional pelas suas qualidades climáticas e medicinais, em particular inalatórias. Característica da cidade são as grandes estruturas gradeadas com galhos de arbustos secos, sobre os quais cai água salificada retirada das profundezas do solo e que faz com que o ar a seu redor torne-se portador de sal, criando condições atmosféricas marítimas. Essas armações representam um resíduo de antigas técnicas de obtenção de sal, sendo que agora são utilizadas para fins curativos em vários balneários na Alemanha. Em Bald Salzuflen adquirem um particular significado urbanístico, uma vez que os gradeados se encontram em região central da cidade, determinando toda uma área de parques, clínicas e edifícios representativos.


O centenário comemorado no corrente ano lembra a transformação urbana da antiga cidade com o aproveitamento de suas potencialidades termais e que foi marcado pela construção de numerosas mansões residenciais. Essas vilas abrigam hoje em considerável número pensões, hotéis e casas de repouso. Uma delas é a pensão de tratamento „Princesa Paulina“, na qual se hospedeu há alguns anos uma descendente da família Brandes, de origem alemã, proveniente do Rio de Janeiro. A partir dos contatos ali efetuados, foram enviados do Brasil documentos trazidos pelos primeiros imigrantes dessa antiga família à filha da proprietária da pensão, que é especialista em história local. Os documentos foram a seguir entregues ao Arquivo municipal, uma vez que o nome Brandes é de grande significado histórico para a história cultural da cidade e região. O mais conhecido representante da família é o do farmacêutico Rudolph Brandes (1795-1842), fundador da sociedade dos boticários, hoje a organização alemão de farmacêuticos, lembrando em obelisco, na designação de uma alameda e de ginásio. Também de particular significado histórico foi Johann Heinrich Karl Brandes (1798-1874), filólogo, pedagogo e autor de relatos de viagem. Espera-se um relato pormenorizado dessa documentação para a divulgação na Revista Brasil-Europa.



23.05.2014

Sergipe. Imagens de técnicas populares de indústria no seu significado para estudos culturais - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas VII. 


O objetivo do projeto „The New Brazil“, - como exposto em notícias anteriores - é considerar os anos que precederam a primeira Guerra em contextos internacionais, uma vez que representaram o ápice de desenvolvimentos originados ou intensificados no século XIX e que foram marcados por um grande dinamismo em várias esferas dos conhecimentos, das ciências e da cultura.


O Brasil republicano participou dessa atmosfera de entusiasmo pelo progresso, apresentando-se como uma nação decididamente voltada ao desenvolvimento de suas possibilidades e que experimentava grandes transformações sociais e urbanas em centros marcados pela prosperidade econômica, sobretudo na Amazônia da época do apogeu da borracha.


Textos relativos a Estados menores, como Espírito Santo, Alagoas e Sergipe de uma obra como The New Brazil de M.R. Wright, publicada na Filadélfia, em 1901 (Veja dados em notícia de 10.05), apesar do tom eufórico na descrição de desenvolvimentos comerciais e de sinais de progresso e prosperidade, incluiam fotos que mostravam a permanência de técnicas tradicionais de produção, beneficiamento e manufatura. Essas fotografias refletem a nova atenção dirigida à economia, á indústria e a seus métodos, inserindo-se assim no mesmo rol de preocupações que determinou uma maior consideração de ferrovias, fábricas e obras de engenharia em outros contextos.


Para os Estudos Culturais voltados a técnicas de trabalho populares, esses registros adquirem hoje particular significado. Um exemplo desse tipo de imagens, com o título de „A primitive industry“ oferece o „The New Brazil“ relativamente à lavagem de algodão tecido em Sergipe. A fotografia tematiza uma atividade e a permanência de métodos tradicionais de produção não tratados no texto. Este, refere-se sobretudo ao significado excepcional que era dado à educação e à cultura no Estado. Salienta-se a promoção de instituições de ensino pelo Govêrno, a existência de dez colégios de bom nível, de uma Escola Normal e mais de 200 escolas públicas. Menciona-se o Ateneu Sergipense, inaugurado em 1871, o Gabinete de Leitura, igrejas e capelas, mencionando-se, porém, no mesmo contexto tecelagens, fábricas de sabão e de trabalhos em metal. (op.cit. 289)



20.05.2014

Alagoas. O avanço comercial e social do Estado, a prosperidade de Maceó e métodos tradicionais de trabalho agrícola - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas VI.


Como relatado em notícias anteriores, o projeto „The New Brazil“ tem como escopo estudar a imagem do Brasil republicano em fins do século XIX e início do XX até o início da Primeira Guerra Mundial. Esses anos, de grande desenvolvimento científico, tecnológico e cultural em vários países, também foram marcados por uma nova presença do Brasil no Exterior, apresentado como um país voltado ao futuro, que procurava energicamente o seu desenvolvimento segundo o seu lema de ordem e progresso. Essa época de desenvolvimento e expansão sob vários aspectos teve o seu fim com a deflagração da primeira Guerra. São anos que foram em parte apagados da memória, neles se encontram porém origens de tensões que levaram à primeira das maiores tragédias do século XX.


Tendo o Brasil também participado dessa época de euforia, torna-se oportuno analisar a imagem da nova República no Exterior. Como a obra The New Brazil de M..R. Wright, publicada na Filadelfia, em 1901, indica (Veja dados em notícia de 10.05), a imagem de um país próspero e de grande futuro era fundamentada em grande parte nas expectativas dirigidas à Amazônia, então no apogeu da extração e comércio da borracha. Outros Estados do Brasil tiraram também proveito desse entusiasmo propagandístico, sendo apresentados ao Exterior sob o signo do desenvolvimento econômico, tecnológico e social. Mesmo Estados menores, como Sergipe e Alagoas, passaram a ser apresentados sob luz particularmente favorável.


Em especial Alagoas foi tratado por M. R. Wright como um Estado bastante avançado sob o ponto de vista comercial e social. Os empreendimentos agrícolas e de pecuária estariam em mãos de excelentes administradores e as exportações seriam consideráveis em quantidade e variedade, o que era admirável considerando-se as dimensões reduzidas do Estado. Em fins do século XIX, a exportação de produtos de Alagoas ao Exterior tinha aumentado constantemente, e essas relações comerciais prometiam um futuro promissor sobretudo relativamente a mercados norte-americanos, aos quais eram enviados anualmente grandes quantidades de açúcar e madeira. As indústrias manufatureiras do Estado se desenvolviam rapidamente, também as refinarias de açúcar, de fabricação de vinagre, de tabaco e charutos, de álcool, de algodão, de cerâmica, e de sabão. Dessa vitalidade produtiva participavam também um número crescente de fábricas menores, como de sapatos, mobília, couro e outros artigos. A capital, Maceió, era apresentada como um centro próspero, com uma fisionomia de cidade progressista e moderna. A partir de fotografia que ilustra o texto, o leitor constata a permanência de métodos tradicionais de trabalho na retirada de feijões, contrastantes com o teor do texto mas indicativos da energia do homem de Alagoas.



18.05.2014

Ceará. Estradas de ferro, viadutos e pontes como testemunhos de progresso - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas V.


O Ceará é apresentado na obra The New Brazil de M R. Wright, de 1901 (Veja dados em notícia de 10.05) como um dos Estados líderes do empreendimento político e do progresso no Brasil pela passagem do século XIX ao XX. Politicamente, sempre tivera e continuava a manter uma atitude de corajosa independência. O Ceará tinha desenvolvido na sua população um caráter de energia e indústria que não era ultrapassado por nenhum outro Estado do Norte e Nordeste. Assim, os cearenses tinham alcançado muito maior progresso do que os brasileiros de outros Estados vizinhos, ainda que estes pudessem ter tido mais favoráveis condições. (op.cit. 338)


Esse fato demonstrou-se quando o Ceará foi atingido por uma grande sêca em 1879, época na qual grande número de cearenses emigraram para o Pará e para o Amazonas. Ao espírito empreendedor de cearenses é que se devia em grande parte o desenvolvimento da economia da borracha. Foram êles que tinham aberto ao tráfego o Purus, o Acre, o Javari e outros rios de regiões dericos seringais.


Financeiramente e sob o ponto de vista industrial, o Ceará era apresentado ao Exterior como um Estado próspero. Como terra própria da Maniçoba, a árvore de borracha que vinha em significado logo após a da borracha do Pará, milhares dessas árvores haviam sido plantadas pelo Govêrno. A extração do produto oferecia menos dificuldades do que as da coleta no Pará, de modo que o seu cultivo prometia grandes rendimentos.


Considerando os empreendimentos das várias regiões do Estado, o The New Brazil partia das zonas costeiras, apresentadas como particularmente adequadas ao cultivo do algodão, que aqui possuia superiores qualidades. Já há muito plantado,  passava agora a ser importante produto de exportação. Também essa parte do Estado era adequada para o cultivo da cana de açúcar, que alcançava grandes alturas no vale do Aracape, entre Fortaleza e Baturité. Em alguns distritos, embora estagnada por muito tempo, esse cultivo ganhava novo alento com medidas que facilitavam o escoamento do produto. Além de considerar-se o significado do milho, da mandioca, do arroz, dava-se particular atenção ao café e ao tabaco. Estes prometiam grande futuro do Estado, uma vez que este também crescia em terras exaustas pelo cultivo da cana de açúcar.


Quanto ao interior, lembrava-se que o principal motor da prosperidade no interior do Estado residia na pecuária e na indústria de couro. Essas atividades tinham levado a que as terras do interior tivessem sido povoadas antes que as do litoral, exigindo agora meios eficientes de transporte.


A Associação Comercial do Ceará era apresentada ao Exterior como uma entidade aberta e progressiva, desejosa de expansão de suas relações internacionais. Interesses manufatureiros não faltavam, havendo várias fundições de ferro, carvoarias e indústrias de algodão. A maior destas fábricas era a de Fortaleza, estabelecida em 1884, dirigida pelo Dr. Antonio Pinto Nogueira Accioly, assistido pelo Dr. Antonio Pompeu de Souza Brazil e Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil. Outras grandes fábricas de algodão eram as de Hollanda, Gurjão & Co., fundada em 1889 e a de Baturité.


O comércio do Ceará tinha sido limitado devido às dificuldades de transportes até 1866, quando foram estabelecidas linhas diretas de vapores entre Fortaleza e Liverpool, o que levou a um incremento considerável de exportações e importações. Esse desenvolvimento do comércio externo exigia ser acompanhado por um melhoramento dos transportes entre o interior e a capital.


Sob o pano de fundo desse panorama das atividades produtivas e de manufatura do Estado segundo as suas diversas regiões, o leitor estrangeiro compreendia o significado dos transportes para o Ceará. Testemunhos dos esforços neste sentido oferecem fotografias de estradas de ferro, em particular de obras de arte, viadutos e pontes. Exemplo de construção sólida e tecnicamente avançada era a ponte de Acarahú. Simetricamente construída, essa ponte distinguia-se pelo fato de ter as partes laterais de pedras e alvenaria, sustentadas respectivamente por três grandes arcos, e a parte central de ferro, encaixada em vãos das laterais.


Também a ponte de Choró era um exemplo da alta qualidade de engenharia de pontes do Ceará. Longa construção em estrutura metálica, aberta com portais ornamentados, era sustentada por grandes apoios de pedra edificados com perícia e arte. Também aqui as laterais de acesso à estrutura metálica eram construções de pedra, com grandes arcos.


Embora a capital exigisse um maior desenvolvimento quanto ao abastecimento de água, o seu desenvolvimento era comprovado por vários edifícios, entre êles os da ferrovia. O quanto as ferrovias significavam como fator e testemunho da prosperidade cearense podia ser lido na foto do depósio ferroviário de Fortaleza, construção representativa arquitetônicamente, com portal clássico e corpos laterais dispostos simetricamente, sendo o conjunto emoldurado por jardins.  A cidade era conectada por trens com as cidades de Baturité e Quixadá: „and the public works in the nature of viaducts, bridges, etc., constructed on the line of this, as qell as other railroads, are most creditable to the business enterprise of the government.“ (op.cit. 337)


Um ano antes da deflagração da primeira Guerra, em 1913, as linhas do Ceará perfaziam ca. de 728klm. A rêde era constituída pela linha de Baturité, com ca. de 423 klms e a de Sobral, com ca. de 305 klms, sendo a concessionária a The South American Railway Company Limited, com contrato revisto em 1911. A linha de Baturité acusava um aumento de 47,74% quanto ao movimento de passageiros e de 54,41% quanto às mercadorias relativamente a 1910. Estava sendo prolongada, tendo sido o trecho de Iguatú inaugurado em 1910. O prolongamento da linha de Ipu a Crateus não tinha tido o desenvolvimento desejado por falta de braços. (Annuaire du Brésil Economique 1913, Rio de Janeiro: Le Brésil Economique 1913, 460-461)



16.05.2014

Maranhão. Gasômetro e companhia de algodão Santa Isabel como testemunhos do progresso - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas IV. Como referido em notícias anteriores, o projeto „The New Brasil“ tem como objetivo considerar a imagem do Brasil republicano na Europa e nos Estados Unidos pela passagem do século.


Esse novo Brasil apresentava-se como país de ordem e progresso, de prosperidade e grande futuro, correspondendo ao espírito do tempo de muitas capitais européias no período anterior à Primeira Guerra Mundial. Essa imagem podia ser fundamentada em fotos demonstrativas do desenvolvimento material e da vida cultural do país. Compreende-se, assim, que não apenas monumentos e paisagens, mas também indústrias, transportes, pontes e locais de trabalho agrícola e industrial tenham sido alvo de fotógrafos, divulgando a nova imagem, enérgica e dinâmica do Brasil.


Se esse desenvolvimento era fácil de ser documentado para o Amazonas e o Pará dessa época do apogeu da borracha, o mesmo não se dava em escala comparável em algumas outras regiões. No caso do Maranhão, a publicação dedicada à propaganda do Brasil republicano nos EUA, o „The New Brazil“ de M. R. Wright, de 1901 (Veja dados em notícia de 10.05), salienta o edifício do Gasômetro como documento do progresso. Trata-se de uma ampla e sólida construção de pedras, caracterizada pela alternância de diferentes cores nas cantarias:  „Near the Largo Fonte das Pedras the gas company has its chief establishment, the Gazometro, constituting one of the most conspicuous evidences of modern enterprise in the capital.“ (op.cit. 344).


Outro testemunho do empreendendorismo maranhense era a usina de beneficiamento de algodão de Santa Isabel, dirigida por Carlos Ferreira Coelho, Apolinario Jansen Ferreira, Candido José Ribeiro, sendo Crispim Alves dos Santos seu diretor. A fábrica possuia 500 tecelagens e dava emprêgo a mil pessoas.


A fotografia divulgada no Exterior mostra intensa atividade de operários e  o transporte de fardos em grandes carroças puxadas a cavalo. São veículos que merecem atenção, sobretudo pelas suas rodas de grandes dimensões. Sob a observação de capatazes adultos, pode-se ver meninos e jovens empurrando padiolas com carvão e fardos de algodão. Também um veículo coletivo aberto, uma jardineira puxada por animais, levando grande número de crianças, testemunha o trabalho infantil na Companhia Santa Isabel Maranhense.




14.05.2014

Pará. Qualidades urbanas de Belém, vegetação e música - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas III.  Não apenas a arquitetura, mas também e sobretudo o urbanismo vem merecendo particular atenção nos estudos de processos culturais em contextos euro-brasileiros. As múltiplas relações entre música, vida cultural e desenvolvimento urbano foram objeto de curso desenvolvido já no início da década de 70 em São Paulo no âmbito de cursos de Licenciatura da Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo com a cooperação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) e do Museu Paulista. Na Europa, salienta-se o relativamente recente curso de Música e Urbanismo realizado nessa tradição brasileira no Seminário de Musicologia da Universidade de Bonn (2003).


No contexto do projeto „The New Brazil“ (Veja notícias anteriores), dedicado à imagem do Brasil republicano nas décadas que precederam a primeira Guerra Mundial, passa-se a considerar com maior atenção o papel do desenvolvimento urbano de cidades brasileiras como sinais da prosperidade e do progresso do país. Se nesses estudos a Amazônia desempenha em geral papel de excepcional relevância por ser época do apogeu da borracha, cabe sobretudo a Belém especial consideração relativamente a seus aspectos urbanísticos e de urbanidade. Retomam-se, aqui, sob novos enfoques, estudos desenvolvidos em Belém nas décadas de 70 e 80. (http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM06-05.htm)


A cidade foi decantada como pitoresca e mesmo encantadora, capaz de oferecer aos visitantes muitas atrações com os seus jardins tropicais, amplas avenidas arborizadas com espécies de densa folhagem, com as suas aragens aprazíveis vindas da baía, convidativas para a praia ou para passeios de barco, o que tornava muito agradável viver nessa cidade equatorial. (M. R. Wright, op.cit. 355)


Belém surgia assim no Exterior como uma cidade que em poucos anos se transformara em metrópole moderna, sem perder as suas qualidades urbanas e naturais; pelo contrário, tornara-se um dos mais agradáveis locais para se viver no Norte do Brasil. Se o calor fazia com que os parques, avenidas e passeios fossem desertos durante o dia, excetuando-se as ruas comerciais e aquelas das docas, a cidade fervia à noite, com a população vestida com trajes cuidados, tudo transmitindo alegria e satisfação. Na Praça da República, decantada como um dos mais belos parques da cidade, uma banda de música apresentava-se duas ou três vezes por semana.


O Teatro da Paz era conhecido como um dos melhores e mais refinados da América do Sul: „large and fashionable audiences attend nightly, and excellent European companies are engaged every season by the government to give a series of operas, the Italian being the favorite school“. (loc.cit. 355) A qualidade da vida urbana de Belém manifestava-se na vida intensa e de suas ruas e de clubes sociais, em particular do Sport Club. „Handsomely dressed women may be seen promenading in company with their escorts, who are always relatives, and a long line of elegant carriages stands every evening for hours in front of the fashionable social clubs, one of which ist the Sport Club, situated in the most attractive section of the city, while the members pass away the evening at billiards, bowling, gymnastics, fencing, or the more restful entertainment of cards or books. On the ladies‘evenings the club-rooms are transformed into reception-rooms, decorated with flowers and vines, and a programme of music usually takes the place of more athletic pastimes.“ (loc.cit.)



12.05.2014

Amazonas. Os bondes de Manaus - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas II. O ressurgimento dos bondes na Europa e em algumas cidades dos Estados Unidos, assim como a sua manutenção e modernização em países de outros continentes, em particular na Austrália e Nova Zelândia, chama a atenção à história e significado desse tipo de transporte urbano no passado brasileiro. Muitas cidades do Brasil possuiram vasta rêde de trilhos e veículos de diversificados modêlos e origens, tendo sido marcadas no seu desenvolvimento urbano, na sua ordenação e mesmo nas suas imagens pelos bondes. O estudo desse patrimônio perdido abre perspectivas para análises culturais. (Veja notícias de 16. e 17.05),


No âmbito do projeto „The New Brazil“ (Veja notícia de 10.05), merece ser lembrada a atenção internacional ao sistema de elétricos de Manaus à época do apogeu da borracha. Essa rêde dava testemunho da prosperidade e modernidade da capital do Amazonas tanto quanto os seus monumentais edifícios e projetos. Admirava-se que os habitantes possuissem tantas comodidades possibilitadas pela energia elétrica. Como relatado na notícia anterior, um dos principais empreendedores era Charles R., Flint, de New York, que via a cidade como uma das maiores da América no futuro e que tinha, entre as suas empresas, a The Manaos Railway Company. Esses empreendimentos encontravam-se em mãos de E. M. Backus em Manaus, personalidade bem quista pela sua distinção. A capital era também admirada pelas suas ruas, amplas e bem pavimentadas, sendo que as principais ruas possuiam trilhos para o transporte elétrico, no total de 15 miles de extensão.


Decantada era a linha que levava aos subúrbios pitorescos de Cachoeirinha, Flores e outros, em cujo trajeto os veículos atravessavam densa vegetação. Tinha sido construída pela Railway Company de New York, com concessão do Govêrno do Amazonas para 30 anos, servindo para o transporte de passageiros e cargas. A viagem a esses subúrbios, pela beleza do trajeto, era um dos principais atrativos da capital, correspondendo às expectativas de encontro com a natureza tropical de europeus e norte-americanos: „(...) along the road to which the car passes through beautiful arbors of green, dense thickets of the richest tropical foliage, and avenues of magnificent palms; past flourishing fields of maize and feijões; over two handsome iron bridges that cross the river on the outskirts of the city, offering one of the most attractive of sylvan scenes.“ (M. R. Wright, op.cit. 377)


A linha que corria ao redor do centro e se dirigia aos subúrbios correspondia assim àquelas de outras cidades brasileiras que as uniam a bairros ou localidades mais afastadas, como a de Santo Amaro, São Paulo, mixto de ferrovia e transporte urbano de bondes, também de qualidades paisagísticas e turísticas. No presente, esse aspecto do sistema de bondes na Europa tem sido também valorizado. Uma linha tradicional de relevância turística é aquela que corre pelo litoral da Bélgica e do Sul da Holanda; aquelas de Santos e São Vicente do passado ofereciam ainda maiores qualidades de fruição paisagística à população.


Com os seus bondes abertos, alguns também com reboques, o transporte urbano de Manaus vinha de encontro às necessidades do clima tropical.„It is a throughly equipped as any trolley road in South America, the cars being of modern-style and construction, the powerhouse and car sheds of steel structure, and the entire system a credit in every way to the progress of the community“. (M. R. Wright, loc.cit.)



10.05.2014

Amazonas. O Palácio do Governador em Manaus e o Reichstag de Berlin - „The New Brazil“. 1914-2014: Cem anos da 1a. Guerra Mundial - um projeto de análise cultural a partir de fontes fotográficas I. Em 2014 dá-se a passagem dos cem anos da deflagração da Primeira Guerra Mundial, uma das maiores tragédias da Humanidade, determinadora de profundas mudanças políticas em dimensões internacionais, término de uma antiga ordem para muitas nações, em particular das potências centrais da Europa, de grandes consequências culturais.


O mundo após 1918 não seria o mesmo daquele anterior a 1914, também sobre o ponto de vista da vida cultural em dimensões mundiais: diferentes pesos quanto a centros culturais surgiriam, com novos referenciais e correntes estéticas, e com a nova constelação política os países do Novo Mundo  alcançariam maior significado em processos científico-culturais, literários e artísticos. Relembrar a hecatombe de 1914-1918 torna-se assim uma exigência para os estudos culturais, uma vez que constitui a cisão divisória de universos culturais, sob vários aspectos o verdadeiro término do século XIX. Essa consideração assume atualidade por levar a comparações entre a situação precedente à Guerra e os desenvolvimentos preocupantes no Leste europeu, ameaçadores de conflitos de incalculáveis dimensões.


Uma análise das profundas mudanças ocorridas com a Guerra deve partir do exame da situação anterior, um mundo submerso nem sempre presente na memória e considerado à altura. Esta deficiência é grave, uma vez que foi um período marcado não apenas por  desenvolvimentos políticos, diplomáticos, militares, econômicos e de movimentos nacionalistas e separatistas que surgem como pressupostos do conflito, mas sim também por grandes avanços científicos e técnicos e extraordinário florescimento da vida acadêmica e artística de muitas metrópoles européias. Esses centros culturais foram de grande significado para o Brasil, pois nele se formaram brasileiros que posteriormente levaram impulsos e modêlos obtidos ao país, que em parte vigoraram mesmo após a Guerra, mantendo-se assim longe da Europa ressonâncias de um Velho Mundo submerso.


O Brasil no período anterior à Guerra no Exterior era aquele que procurava mostrar-se como novo, um país de ordem e progresso, decididamente dirigido a um futuro que despertava grandes expectativas. A imagem do país na antiga Europa sofrera profundo abalo com a implantação do regime republicano, uma vez que D. Pedro II gozava de extraordinária reputação como chefe de Estado esclarecido e amigo das ciências, da filosofia, da cultura e das artes. O novo Brasil das décadas ao redor da passagem de século era o republicano, nesse sentido antes próximo dos EUA, e isso testemunha de forma expressiva uma das mais representativas obras referentes ao país, o livro The New Brazil de Marie Robinson Wright, publicado na Filadélfia, em 1901. (The New Brazil: Its Resources and Attractions, Historical, Descriptive, and Industrial, Philadelphia: George Barrie & Son, London: C.D.Cazenove & Son; Paris: 19 Rue Scribe.). Esse livro é significativamente dedicado ao Dr. Manoel Ferraz de Campos-Salles (1841-1913), Presidente do Brasil, louvado como „A leader among the great men who are shaping the destiny of the Western World and honored as one of the foremost Statesmen in the creation of the new Republic“. A obra tinha como objetivo a descrição da vida e do progresso da nação que demonstrava sua firme aderência aos princípios da independência na grande prosperidade do „New Brazil“.


Compreende-se a importância dada à Amazônia nessa obra, então marcada pelo apogeu do comércio da borracha. A autora salienta que o Brasil controlava praticamente o comércio do produto no mundo que tinha nos Estados do Amazonas e do Pará as suas mais ricas regiões. A promessa de que o produto  alcançaria no futuro preços ainda mais altos fundamentava as incalculáveis possibilidades de prosperidade do Brasil. Um americano, Charles R. Flint, de Flint, Eddy & Co., New York que visitara a região em 1884, era um dos principais investores na extração, criando vasta infra-estrutura. Um de seus empreendimentos foi The Manaos Railway Company.Entre os mais importantes comerciantes dessa „Cinderala da civilização“ contava-se The Rubber Goods Manufacturing Company dos EUA e The American Cycle Company. Principal referência na valorização do Amazonas nos EUA era Louis Agassiz (1807-1873), propagador das qualidades climáticas e da fertilidade do vale do Amazonas, apto a ser foco de uma imensa imigração.


Manaus era o mais evidente testemunho do desenvolvimento rápido que se processava e a sua fisionomia era a de uma cidade de grande atratividade. Os edifícios governamentais, levantados a altos custos de milhões de dólares, não eram superados em atratividade por nenhum de outros Estados do país. Além do Palácio da Justíça, monumental construção de mármore branco e do Teatro Amazonas, um dos mais belos das Américas e principal evidência da grande prosperidade material do Estado, do Ginásio, do Instituto Benjamin Constant, igrejas e do mercado, salientava-se novo palácio do Govêrno, visto como modêlo de beleza.arquitetônica e construção de grandes comodidades.


Para demonstrar a prosperidade que se manifestava nesse projeto, a autora oferece uma fotografia do antigo palácio do Govêrno e uma imagem desenhada do novo. O edifício, de monumentais dimensões, com uma rotunda e cúpula central acima de basamento quadrado neorenascentista  e pórtico clássico, elevado, possibilitaria de seus altos descortinar extraordinário panorama. Se já o antigo palácio do Govêrno possuira um pórtico neoclássico com duas colunas centrais, o novo edifício apresentava um número muito maior de colunas. O edifício traz à lembrança modêlos norte-americanos, podendo ser comparado com vários edifícios governamentais dos EUA, sendo o mais exponente exemplo o Capitólio de Washington, sede do Congresso, do Legislativo. No seu sentido simbólico, remontando à colina capitolina da antiga Roma, representaria a nova ordem republicana.


Diferindo porém desse edifício neoclássico dos EUA, o projeto de Manaus evidencia uma grande similaridade com o Reichstag em Berlim, marcado este por um estilo neo-renascentista, com elementos neo-barrocos e neo-clássicos. Diferentemente do projeto de Manaus, a construção alemã possuia uma cúpula em construção metálica. O edifício do Parlamento do Império Alemão foi construído pelo arquiteto e professor Paul Wallot (1841-1912), iniciado em 1884 e terminado em 1894. Este desenvolvera o seu estilo em várias viagens pela Itália e Grã-Bretanha, sobretudo de estudos da obra de Andrea Palladio (1508-1580). Não sem significado teria sido o fato de ser maçom na análise de sentidos do projeto; este teria correspondido às convicções do arquiteto quanto ao à unidade nacional alemã para além de seus muitos estados, na sua orientação nacional-conservadora pertenceu à liga pangermânica (Alldeutscher Verband). A construção foi realizada contra a vontade do Imperador Guilherme II, que nela - em particular na cúpula - via símbolos de um papel central a ser concedido do Parlamento.




09.05.2014

Arquitetos alemães no Brasil. Matthäus Häussler e a presença de Baden e Württenberg nos Campos Elísios, São Paulo. Correspondentes da A.B.E. de São Paulo chamam a atenção a um crescente interesse pela arquitetura do século XIX e início do XX da metrópole. Até há poucas décadas desvalorizada como expressão de ecletismo e de tendências de emulação de modêlos europeus, muitos de seus exemplos passam a ser hoje considerados com maior atenção, também por arquitetos. Mesmo assim, porém, percebe-se a permanência em entre-linhas de textos de resquícios de posições desqualificadoras, como se persistisse ainda uma certa reserva ou pudor na apreciação desses edifícios, exigindo-se assim constantes relativações.


Essa situação não é desconhecida na Europa, e apenas em décadas mais recentes constatam-se atitudes com menor carga de pré-julgamentos estéticos no estudo de obras de arquitetura que muitas vezes constituem partes das mais valiosas do patrimônio arquitetônico de muitas cidades. Uma das razões dessa situação reside na condução de estudos da história da arquitetura no contexto de escolas superiores ou faculdades de formação de arquitetos. Ainda que a História da Arquitetura faça parte de Institutos de Ciências ou de História da Arte de Faculdades de Filosofia de Universidades européias, sente-se falta de institutos dedicados exclusivamente a uma aproximação científico-cultural da arquitetura, ou seja, de uma arquiteturologia. Tem-se aqui um problema similar àquele da Musicologia, cuja condução adequada apenas pode ser em Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras, e não em Escola Superior de Música ou Escola de Comunicação e Artes. Também o estudo científico da Arquitetura não deveria ser conduzido prioritariamente em escolas originadas de um mixto de tradições de Escolas Politécnicas, Escolas de Belas Artes e de Artes e Ofícios. Somente uma visão científico-cultural pode possibilitar uma distância relativamente à prática criadora e fazer jus de forma especializada às dimensões
amplas e ao significado da arquitetura em contextos globais. Não apenas perspectivas históricas convencionais desempenham aqui um papel, mas também aproximações da pesquisa empírica, em geral insuficientemente consideradas, e, sobretudo, de inserções adequadas em processos internacionais.


Edíficios levantados em cidades brasileiras não possuem apenas significado para o país, mas para contextos globais da arquitetura e apenas assim revelam o seu real significado. Um caso agora lembrado é o de obras de arquitetos alemães em São Paulo e que merecem ser consideradas também como inscritas em desenvolvimentos alemães. Alguns desses edifícios, embora levantados no Brasil, podem representar as mais destacadas de obras desses arquitetos formados na Alemanha, sendo expressões salientes de correntes do pensamento e da criação arquitetônica de centros alemães.


Este é o caso do Palácio dos Campos Elísios em São Paulo, que passa agora a receber maior atenção pelo projeto de nele instalar-se um museu. Edificado entre 1890 e 1899 para Elias Antonio Pacheco e Chaves (1842-1903), exportador de café, político conservador e empreendedor multifacetado, a partir de 1915 sede do Governo do Estado, e sua apreciação não deve reduzir-se á excelência dos materiais empregados, em grande parte importados da Europa e dos Estados Unidos. A qualidade do projeto deve ser vista como testemunho da solidez da formação do seu arquiteto, Matthäus Häussler, nascido em Königsbrunn, cidade da Suabia/Baviera e que também atuou em Zurique. A família é conhecida sobretudo em Neu-Ulm, limite entre a Baviera e Württenberg, assim como em Marbach, Württenberg, cidade de excepcional significado histórico-cultural por ser a de nascimento de F. Schiller. Matthäus Häussler era considerado na Suíça como sendo da região de Württenberg. A constatação de similaridades com o palácio d‘Écouen, próximo de Paris, hoje sede do Museu Nacional da Renascença, traz à consciência o significado de elos franceses e sobretudo do interesse pela Renascença na obra de arquitetos alemães. Entretanto, a consideração desses elos com o palácio francês necessita maior diferenciação.


O estudo da obra de Häussler pressupõe a consideração da história da arquitetura e do seu ensino em Baden. A Escola Superior Técnica de Karlsruhe, a primeira na tradição politécnica na Alemanha, manteve uma posição de preeminência na arquitetura alemã até fins da Primeira Guerra. Um dos professores da Politécnica foi Heinrich Hübsch (1795-1863), autor do livro Em que estilo devemos construir?, que documenta a mudança de orientação do Classicismo a um Historismo fundamentado tecnologicamente. O seu projeto do edifício da Escola Politécnica, construido ao redor de 1830, apresenta os arcos circulares que caracterizaram muitois edifícios nessa corrente estético-cultural. Nessa tradição poder-se-ia inserir Josef Rudolf Durm (1837-1919), principal nome da neo-Renaissance e do entusiasmo pela Itália que marcou a fisionomia de Karlsruhe, e Carl Schäfer (1844-1908)  - este representante do neo-Gótico. Também autores de manuais de construção, esses arquitetos demonstram o significado da técnica e do artesanal de alta qualidade nessa tradição construtiva e que corresponde ao significado do Liceu de Artes e Ofícios na obra de Häussler em São Paulo. Em outra direção  do conservativismo ou tradicionalismo arquitetônico conduz a consideração da Escola de Stuttgart. Similar sob alguns aspectos acorrentes do Países Baixos, da secção de Arquitetura da Escola Técnica Superior sairam arquitetos de renome, entre êles Paul Schmitthenner (1884-1972), Professor de Projeto e Construção após a Primeira Guerra, assim como Paul Bonatz (1877-1956), nome hoje conhecido sobretudo devido à Estação de Stuttgart. A discussões recentes causadas por projetos relativos a essa estação - de dimensões supra-regionais na Alemanha - tornam particularmente atuais estudos de extensões da arquitetura alemã no Brasil.



08.05.2014


Ibiza. Ilhas Baleareas em enfoques brasileiros - o caso das Castanyetes. O Mediterrâneo vem sendo por diversos motivos alvo de estudos euro-brasileiros e merecerá renovada atenção em ciclos de estudos programados para o corrente ano. A existência de instituições euro-mediterrâneas - consideradas em encontros nesses trabalhos - testemunha a atenção dada na Europa a relações no passado e no presente entre países europeus centrais e ocidentais com aqueles do Mediterrâneo. (http://www.revista.brasil-europa.eu/095/Instituto-Euromediterraneo.htm)


O programa voltado ao Mediterrâneo da A.B.E. completa-se porém com aquele voltado às relações Mediterrâneo-Atlântico, uma vez que possibilita assim a principal ponte para Portugal e Brasil. (http://www.academia.brasil-europa.eu/Mediterraneo-Atlantico.htm)  Ao mesmo tempo, reflete a consciência de que os estudos atlânticos exigem a consideração da área mediterrânea. Esta representa sob muitos aspectos pressupostos para análises de processos culturais que partiram do extremo Ocidente da Europa junto ao Atlântico. Isso diz respeito sobretudo a questões de fundamentos, necessários para exames de imagens ainda presentes em expressões tradicionais que foram transplantadas para o Brasil no âmbito da colonização portuguesa. Compreende-se, assim, que estudos de folclore comparado, conduzidos sob perspectivas teóricas atualizadas tenham desempenhado até hoje papel relevante.


Entre as pesquisas in loco na área do Mediterrâneo devem ser salientadas aquelas desenvolvidas em várias de suas ilhas. Ainda que em geral pouco consideradas nos estudos brasileiros, as ilhas Baleares merecem aqui atenção. Algumas delas são visitadas por brasileiros residentes na Europa pelas suas praias e atmosfera festiva, centros de turismo para ingleses e europeus de países da Europa Central, em particular Mallorca e Ibiza. Pouco se tem presente, porém, que essas ilhas possuem significado cultural mais profundo para o Brasil. (http://www.revista.brasil-europa.eu/103/Mallorca.htm)


Com o sentido de analisar essas relações em expressões culturais realizou-se há 5 anos viagem de estudos a Ibiza, e cujos resultados servirão de base para os trabalhos planejados para o corrente ano em outras regiões mediterrâneas. Um dos aspectos então considerados disse respeito a instrumentos e seu simbolismo, um interesse despertado pela constatação do significado da música, da dança e de instrumentos musicais tradicionais na vida cultural de Ibiza do presente.


Em visita a uma oficina artesanal de produção de castanholas (Castanyetes), considerou-se que o uso desse instrumento, que não abrange apenas a Espanha, mas várias outras áreas da esfera mediterrânea, e que representa significativo elemento de identidade ibérica e insular, possui remotas raízes na Antiguidade, conhecida no Oriente, no Egito e no mundo helênico. Os estudos organológicos têm lembrado aqui o crótalo grego. Entre as questões que se levantam salientam-se não apenas aquelas de suas origens, mas também as de sua  difusão e sobrevivência, em particular no mundo ibérico.


Coloca-se porém a questão das razões pelas quais esse instrumento não se encontra pelo menos de forma manifesta no populário tradicional festivo do Brasil. Não só castanholas, mas também o estalar de dedos não surgem como elemento cultural identificador em danças tradicionais no Brasil. Vários fatores explicativos foram analisados, sendo o mais plausível aquele que indica elos com culto de antiga deusa e, a partir destes, com uma época do ciclo do ano natural do Hemisfério Norte, a saber o de fim de outono. Explicar-se-ia, assim, relações simbólicas com castanhas e também com conchas. A transposição de expressões para o Hemisfério sul teria desfavorecido essas relações, nada impediria, porém, que a função exercida pelo entrechocar das partes do instrumento tivessem-se mantido sob outras formas. Neste contexto, colocou-se porém a questão da similaridade e diferença de sentidos com o sistro, cuja permanência de funções no Brasil já havia sido estudada e tratada em colóquios no exemplo do pandeiro de pastoril.



07.05.2014

Parada GLBT de São Paulo. Correspondentes da A.B.E. em São Paulo relatam as extraordinárias dimensões da parada realizada em São Paulo e que adquire significado global em movimentos de direitos humanos e de minorias. A participação de muitos intelectuais e artistas, assim como o programa paralelo ao evento, com exposições e apresentações de livros testemunham a sua importância para os estudos de processos culturais em relações internacionais no presente.



07.05.2014

Arqueologia músico-cultural de cidades submersas na Europa e no Brasil: exemplo Redenção e Natividade da Serra. Como relatado em notícias anteriores, pela passagem dos 10 anos da visita de estudantes do curso de Arquitetura e Música da Universidade de Bonn a cidades do Vale do Paraíba no contexto do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais, retomaram-se questões então tratadas agora referenciadas segundo o maior lago artificial da Renânia do Norte/Vestfália (Veja notícias de 04 e 05 de maio).


Um dos problemas tratados em paralelos disse respeito às tentativas constatadas atualmente em localidades e bairros resultantes de translocamentos populacionais na Europa e no Brasil em redescobrir o seu próprio passado através de fontes diversas. Procura-se, assim, ganhando profundidade histórica, manter a consciência de identidade de comunidades em novas situações. Devido à frequente dispersão de habitantes de cidades extintas ou translocadas a diferentes localidades, esse trabalho não pode ser restrito a uma determinada cidade, exigindo que se parta de rêdes. Esse procedimento leva também a uma atenção mais pronunciada a rêdes de contatos e intercâmbios culturais no passado. O estudo de sua estrutura e dinâmica oferece caminhos para o reconhecimento de relações culturais entre cidades em contextos regionais e suas transformações.


No âmbito dos trabalhos do I.S.M.P.S., dando prosseguimento àqueles do Centro de Pesquisas em Musicologia fundado em São Paulo em 1968, vem-se salientando o papel da música no estudo de rêdes sociais e de processos culturais no Brasil. A análise de distribuição de nomes e obras em diferentes cidades pode já mostrar em diferentes casos relações de mestres e músicos entre si, difusão de repertórios, composições que se tornaram parte de tradições locais reconhecidas por comunidades vizinhas, participações recíprocas em festas, composições que marcaram a imagem das cidades de uma determinada rêde e muitos outros aspectos de significado para o estudo histórico-cultural que exigem a consideração de contextos e a visão „do outro“ ou de vizinhos, marcada essa por laços de amizade ou de tensões e rivalidades.


Exemplo de estudos que vêm sendo assim desenvolvidos oferece o Vale do Paraíba, mais especificamente a rêde constituída por São Luís do Paraitinga e Lagoinha, Paraibuna, Cunha, assim como Natividade e Redenção da Serra, cidades atingidas pela barragem de Paraibuna. Não apenas elos entre os pontos internos da rêde, mas também interações com outras rêdes, no caso sobretudo com o litoral em Parati e com os centros maiores do Vale do Paraíba - Guarantinguetá, Pindamonhangaba, Lorena veem sendo aqui analisados desde o início da década de 70, sendo obras apresentadas em concertos e consideradas em publicações. Entre outras ocasiões, o assunto foi tematizado com apresentação de obra de André Gonçalves Paixão no Simpósio Internacional „Música Sacra e Cultura Brasileira“ realizado em São Paulo, em 1981.


Estudos assim conduzidos consideram as estreitas relações entre a prática musical nas igrejas e a das bandas de música, em geral mantidas por famílias de músicos. Pode-se assim considerar modificações na recepção de composições e estilos, em particular também de danças e gêneros de maior difusão internacional. Um desses casos foi a difusão da Polca em cidades da região, algumas delas tornando-se emblemas de localidades. Para a submersa Natividade, pode-se citar como exemplo a Polca Marcial Ao Amanhecer. Outros exemplos da popularidade da Polca nessa região são, para Paraibuna, a Polca Província de Verissimo de Carvalho e a Polca Revolução de Portugal.



05.05.2014

Paraibuna e Redenção da Serra - planejamento, ambiente e cultura em paralelos internacionais. 10 anos de visita da Universidade de Bonn - Vale do Paraíba e Biggesee II.  As reflexões sobre questões culturais relacionadas com planejamento, renaturação, paisagismo e urbanismo de cidades atingidas por grandes projetos de infra-estrutura levadas a efeito de forma contextualizada no maior lago artificial da Renânia do Norte/Vestfália (Veja Notícia de 04.05) foram motivadas pela passagem de 10 anos da visita a cidades do Vale do Paraíba de estudantes do Seminário de Urbanística e Música então desenvolvido na Universidade de Bonn.


Essa visita inseriu-se na programação do colóquio internacional de estudos interculturais realizado pelos 500 anos da fundação de São Paulo. O objetivo foi o de considerar o significado do Vale do Paraíba na história de processos culturais no Estado de São Paulo nas suas relações com desenvolvimentos globais e, ao mesmo tempo, as consequências que transformações ambientais trouxeram e podem trazer para os estudos culturais, uma vez que modificam imagens,  memória e identidades. Essas considerações puderam basear-se em décadas de estudos referentes ao Vale do Paraíba e à cultura de suas cidades.


Nos primeiros trabalhos em fins da década de sessenta e início dos anos 70, as preocupações foram marcadas em grande parte pelos planos de represamento dos rios Paraitinga e Paraibuna, o que implicou no desaparecimento da velha Natividade da Serra e, em parte, no abandono de Redenção da Serra, com a transferência da população para uma colina próxima, então loteada. Da antiga Redenção restaram apenas poucos edifícios, a igreja, remontante ao ano de 1877, e a Prefeitura e Câmara, vazios e cercados por um muro levantado para protegê-los de uma eventual subida das águas. Procurou-se então, em visitas a essas e cidades circunvizinhas, obter-se dados relativos à história cultural local sob a perspectiva de rêdes de relações e intercâmbios regionais, em particular com as cidades maiores do Vale do Paraíba e, em menor escala, com o litoral.


Essa atenção ao Vale do Paraíba manifestou-se em várias iniciativas, cursos, conferências e concertos no Brasil e na Europa, sendo a região considerada sob diversos aspectos na Alemanha a partir de 1975. Esses estudos levaram à inclusão de São Luís do Paraitinga na programação do Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira em 1981, quando a cidade e a região foram alvo da atenção de personalidades relacionadas com a cultura do Vaticano, da Alemanha e dos Países Baixos. Considerou-se ali, abrindo os trabalhos do Simpósio, o papel do Vale do Paraíba em processos culturais remontantes à colonização e ocupação do interior de São Paulo e o significado do seu estudo para a atualidade.


Em 1992, realizou-se uma nova visita, agora com a participação de especialista norte-americano em questões visuais. Pelos 500 anos do Brasil, encerrando o triênio de estudos, em sessões efetuadas em Parati, considerou-se em particular o Caminho do Ouro na possibilitação de vínculos e intercâmbios entre regiões de Minas Gerais, o Rio de Janeiro e a Europa e, neste contexto, o desenvolvimento cultural de cidades do alto da serra. Em 2007, membros da A.B.E. retomaram essas questões em Parati, São Luís do Paraitinga e localidades vizinhas. Considerando as destruições causadas pela enchente de 2013 em São Luís do Paraitinga, inclusive com a destruição da matriz, esses trabalhos até então realizados adquirem particular importância.


Membro da A.B.E. de São Paulo chama a atenção agora à atualidade das atenções a cidades do Vale do Paraíba, em especial a Redenção da Serra. Um testemunho dessa atualidade é artigo publicado na imprensa paulista (Edison Veiga, „Para unir a nova e a velha cidade de Redenção“, O Estado de São Paulo, Metróle A 31, 8 de outubro de 2013).  O seu autor salienta de início a surprêsa que pode causar o fato de existir duas cidades de Redenção da Serra, a nova e a velha. Referindo-se apenas de passagem à história local mais remota, concentra a sua atenção no receio que tomou conta da população em fins da década de sessenta de que as águas da represa para a Usina Hidrelétrica de Paraibuna subissem e alcançassem a cidade. Com autorização oficial, os moradores puderam usar dos materiais das casas então demolidas nas novas construções da área prevista para a nova cidade. O autor salienta que a vida na nova localidade começou „totalmente desconectada desse passado“.


Entretanto, hoje há a consciência do significado da história de Redenção da Serra nas suas dimensões até mesmo supra-regionais, em particular para estudos da escravidão e da emancipação. Como a sua própria designação indica - muito posteriormente dada à localidade - a comunidade local entrou na história como sendo a primeira a libertar os seus escravos, fato ocorrido no dia 10 de fevereiro de 1888 na praça central, hoje cercada por muros. As autoridades locais de Cultura e Turismo procuram hoje caminhos para o resgate da memória e identidade da comunidade. Um arquiteto, que também esteve na cidade nos anos 70, trabalha hoje em projeto de reintegração da cidade nova à velha, prevendo-se restaurações de edifícios e reconfiguração da praça da matriz, a ela devolvendo monumento comemorativo da abolição da escravatura. Para tal, propõe-se a construção de um dique para afastar os temores da população de uma possível enchente, o que, infelizmente foi a causa da recente tragédia de São Luís do Paraitinga. Os relatos das reflexões de Biggesee terão continuidade.



04.05.2014

Cidades submersas ou translocadas na Europa em paralelos com o Brasil - Biggesee e Vale do Paraíba I. Um tema que se coloca em estudos culturais relacionados com planejamento, urbanismo e ecologia é o do desaparecimento ou translocação de cidades causados pela construção de represas ou obras de extração de riquezas do solo. Os problemas que aqui se colocam adquirem atualidade na Europa. São considerados sobretudo sob o aspecto de destruição do meio ambiente em discussões sôbre o uso do carvão de minério no contexto do abandono gradativo da energia nuclear.


Grandes regiões marcadas pela extração carbonífera, por exemplo em Brandenburgo e no território do Ruhr sofreram profundas modificações nas suas configurações paisagísticas. Em países e épocas onde predominou o interesse econômico de forma radical, como à época da antiga República Democrática Alemã, vastas regiões foram degradadas. Em outras, porém, por exemplo na Alemanha ocidental, procederam-se a recuperações após o uso do subsolo, surgindo configurações quasi-naturais de paisagens, com novos usos e funções.


Cada vez mais intensamente toma-se consciência das dimensões culturais da extinção de povoados, cidades e do deslocamento de populações que se tornam necessários para esses empreendimentos. Como pode ser observado recentemente na região de Erkelenz na Renânia do Norte, onde vários povoados foram atingidos (entre outros Keyenberg, Borschenich, Kuckum, Beverath), o último carnaval, a última missa solene antes da profanização da igreja paroquial, a últuima procissão, a última festa de padroeiro ou de associação cultural em cidades já marcadas por casas com janelas cerradas e em ruas abandonadas surgem como momentos altamente emocionais.


A translocação populacional é solucionada diferentemente de caso para caso, levando ou a novas fundações de localidades em outra área ou à distribuição de moradores em cidades vizinhas. Sempre é, porém, vinculada a profundas modificações em rêdes sociais e na consciência comunitária. Por anos mantém-se a situação de nostalgia causada por edifícios, igrejas, estações, caminhos e ferrovias abandonados. Se gerações mais velhas continuam a manter nas novas localidades a memória de situações passadas e se as mais jovens mais facilmente se adaptam, destas surgem posteriormente desejos de redescobrimento do contexto de vida e da história de seus antepassados. A tradição oral dos mais idosos, fotografias, jornais e outros documentos contribuem a essas reconstruções. Para as novas localidades, esses elos com o passado submerso de parte de sua população, em geral próximo no âmbito regional, adquire também significado sob o ponto de vista cultural, uma vez também que implica em referenciações em contextos já não mais existentes, mas porém vigentes de forma virtual, até mesmo fantasmagórica.


A consideração de paralelos de situações em diferentes regiões e países pode contribuir ao reconhecimento mais diferenciado desses mecanismos de transformação cultural e de identidade de comunidades locais e regionais. Também no Brasil várias localidades foram já extintas, parcialmente ou totalmente abandonas ou translocadas, em geral devido à submersão sob águas represadas com a finalidade de abastecimento de outras cidades ou para usinas elétricas. Alguns desses casos foram lembrados no contexto de áreas submersas em meados do século XX em regiões centrais da Alemanha, onde, mais precisamente na região de Berg e no Sauerland, ocorreram grandes transformações naturais.


Uma delas é a represa do vale do Bigge, construída entre 1957 e 1965, mas cujo projeto já era muito mais antigo, remontando aos anos 30. A transformação ambiental, social e cultural da região relacionou-se com outras transformações mais distantes, uma vez que o represamento teve a finalidade de suprir necessidade de água em empreendimentos de escavação carbonífera e de usinas da região do Ruhr. Ainda hoje mantém-se a lembrança das inseguranças e dificuldades da população atingida no período precedente ao represamento, quando já vigorava a proibição de novas construções, com consequente estagnação, o que levou a iniciativas desesperadas de impedimento do projeto.


Inicialmente partiu-se de uma transferência da população para cidades vizinhas - Olpe e Attendorn -, as comunidades, porém, revoltaram-se contra a sua dissolução, preferindo uma translocação de toda a sociedade para uma nova área. Surgiram assim as localidades de Sondern e Neu-Listernohl, cujo passado histórico e memória se encontram agora sob as águas. A represa e essas novas áreas urbanas exigiram novas infra-estruturas, pontes, estradas, edifícios públicos, linhas regionais ferroviárias levando a profundas reconfigurações naturais. Estas, porém, representam uma das mais bem sucedidas obras de refuncionalização regional, renaturação e recomposição paisagística. Hoje, a região serve, pelas suas belezas naturais, a atividades de esportes e turismo,
atraindo sobretudo holandeses que, no seu próprio país, não distante da região, não dispõem de lagos entre montanhas. Esses visitantes estrangeiros, porém, vêem com outros olhos a região do que os seus próprios habitantes, uma vez que desconhecem a sua história. Trazê-la á consciência surge, assim, como um dos anelos das populações locais.


Na consideração desse maior lago artificial da Vestfália lembrou-se de similares situações brasileiras, em particular de cidades do Vale do Paraíba, atingidas pelo represamento dos rios Paraibuna e Paraitinga também na mesma época em que, na Alemanha, se processou a do vale do Bigge. Alguns dos aspectos dessas reflexões serão relatados em próximas notícias.



03.05.2014

Invenção de Santa Cruz - e o Descobrimento do Brasil. As recentes solenidades de santificação de dois papas em Roma trouxeram à memória e à discussão o significado da veneração de relíquias no Catolicismo. Atos e festas relacionados com a veneração de relíquias marcam a vida cultural tradicional de cidades e regiões de vários países. Entre eles, destacam-se aqueles voltados a pessoas e objetos citados mo Novo Testamento e que adquirem repercussão supra-regional. Este é o caso do lenço de Verônica em Roma e de partes da coroa de espinhos em Paris.


A veneração de reliquias foi e é ainda de muito significado na Alemanha, podendo-se citar o manto de Cristo em Trier, sandálias de Jesus em Prüm, fraldas de Jesus em Aachen e dos Reis Magos em Colonia. Relíquias, e em especial o seu descobrimento relacionam-se estreitamente com milagres. Descobrimento por excelência na história dessa veneração e de concepções milagrosas foi aquela da verdadeira cruz por Santa Helena, compreendendo-se que esta seja lembrada em contextos de outros descobrimentos ou redescobrimentos, por exemplo de cruzes perdidas, como é o caso em Freckenhorst, na região de Muenster. Anualmente celebra-se até hoje a festa de 3 de Maio nesta localidade alemã com procissões, missa solene e festas populares, a assim chamada Kruessing.


A história do Brasil vincula-se  com a da veneração da verdadeira cruz e que foi grande significado popular na Europa de fins da Idade Média. A data desta festa caia em época das festas do período pascoal e do mês de maio, havendo interações de sentidos e expressões festivas que merecem particular atenção nos estudos de tradições populares. O Berasil não foi descobrerto no outono do Hemisfério Sul, mas para os europeus, na primavera do Hemisfério Norte!


Essa festa adquiriu significado não só no Brasil, mas também em países latinoamericanos descobertos pelos espanhóis, como no Peru e no México, também aqui relacionada em geral com descobrimento e redescobrimentos, inclusive de cruzes perdidas. O Brasil, porém, adquire especial significado nesse contexto de relações entre o significado cultural da festa, o Descobrimento e a sua imagem, uma vez que foi até mesmo designado como Terra de Santa ou Vera Cruz, uma denominação diretamente relacionada com a tradição do achamento da verdadeira Cruz pela mãe do imperador Constantino.


As relações entre o poder real de um império mundial e a Redenção foram objeto de considerações de doutores da Igreja e teólogos e abrem perspectivas para estudos de simbólica hagiográfica nos seus elos com a história política de Portugal. Para esses estudos, a consideração do pensamento tipológico da hermenêutica medieval é fundamental, lembrando-se aqui das relações Eva/Maria como mãe de Jesus Cristo e Helena como mãe do Imperador.


Há, porém, outras possibilidades de aproximações aos estudos respectivos se as atenções forem dirigidas aos fundamentos antigos das imagens nas suas relações com o ciclo do ano. Esforços nesse sentido vêm sendo feitos desde a década de 70 no âmbito dos estudos de relações Antiguidade e Cristianismo sob a perspectiva dos estudos referenciados pelo Brasil. Relações substitutivas entre antigas divindades e fatos da história cristã podem ser estudadas da própria narrativa do feito de Santa Helena, no caso sobretudo de Venus, cultuada nessa época do ano. Em diversas ocasiões tratou-se assim em estudos eurobrasileiros do elo simbólico da cruz descoberta por Santa Helena com o sinal da cruz da constelação do Cisne, relacionada também com a parte do ano respectiva e que coincide com o período ascendente do ano no Hemisfério Norte.


Essas relações assumem particular significado, uma vez que possibilitam o reconhecimento de elos com a linguagem mitológica da Antiguidade não-bíblica e com concepções musicais, a do cantar daquele que morre. Essa referência à Cruz do Norte dessa constelação no alto dos céus relativa fundamentalmente aquela do significado do Cruzeiro do Sul, relacionada com a figura do Centauro, antes de conotações negativas, uma vez que foi interpretada - como as demais situadas abaixo do Zodíaco-  como sinal da antiga Humanidade, superada. O Cruzeiro do Sul, imagem de importância para muitas nações do Hemisfério Sul, entre elas a  Austrália e a Nova Zelândia, não pode assim dar margens a mal-entendidos na sua interpretação. Se for decantado sem a consideração de sua referenciação anti-tipológica, isso não corresponderia a seus sentidos históricos, o que dificultaria análises de expressões culturais.


Essa problemática foi considerada sob diversos aspectos com pesquisadores culturais de tradições brasileiras dessas festas, sobretudo conhecidas em antigas aldeias remontantes à história jesuítica. Constituiu centro das atenções na discussão de tradições da Dança de Santa Cruz em Carapicuiba com Rossini Tavares de Lima no âmbito de estudos de Recepção cultural no Brasil em preparação ao Simpósio „Música Sacra e Cultura Brasileira“ em 1981, tendo continuidade em conferência de Américo Pellegrini na Abadia de Maria Laach na Alemanha em 1989 e em conferência de Hélio Damante por ocasião do II Congresso Brasileiro de Musicologia no Rio de Janeiro, em 1992. Por dizer respeito de forma fundamental à simbólica referente ao Brasil e à própria imagem do país - cujo nome refere-se à madeira vermelha - o exame desse complexo temático está ainda longe de ser encerrado. O fato dessa festa já não contar do calendário religioso pode encobrir o seu significado para os estudos culturais e daqueles referentes a mentalidades que podem ter influência em problemas de relações entre Cultura e Natureza, tão agudos no presente brasileiro.



02.05.2014

Sons do Pará, Worldmusic e Copa do Mundo FIFa 2014. Uma das questões que vem se colocando presentemente a brasileiros e interessados em assuntos relativos ao Brasil na Europa diz respeito às relações entre a imagem do Brasil e a atenção mais intensa que o país recebe e receberá com a Copa do Mundo 2014.


Nessa imagem, a música desempenha um papel de particular significado, superior àquele que exerce para a maior parte das nações. De muitos lados observa-se que essa imagem passou e passa por transformações, o que se manifesta musicalmente. Um retrato do país marcado pela Bossa Nova e pelo samba nas últimas décadas mantém-se no presente, despertando a própria música associações com o Brasil. Entretanto, cada vez mais pode-se constatar um crescente interesse por produções musicais do Nordeste  e do Norte do Brasil. Se o Forro alcançou popularidade em comunidades de brasileiros e amigos do Brasil em algumas cidades da Europa, como constatado no Forro Gringo 2013 no Sul da França (Veja http://revista.brasil-europa.eu/145/Nimes-Brasil.html), hoje observa-se recepções positivas de expressões do Norte do Brasil, em particular do Pará, como se manifesta em comentários na imprensa de gravações como Siriá (ed. Analog Africa) (p.ex. F. Sawatzki, "Brasilianische Partydamplok", Kölner Stadt-Anzeiger, Magazin 1/2.Mai 2014, 9).


Essa divulgação de música marcada pelo nome de Mestre Cupijó, falecido com 73 anos há poucos anos (2012), adquire significado como documento da história da música popular e, em dimensões mais amplas, dos Estudos Culturais em geral, em particular do Folclore nas suas relações com a cultura popular urbana. Compreensivelmente, esse significado da música do Pará expressa em gêneros como o Carimbó vem sendo estudada por pesquisadores culturais e tratada em seminários e colóquios.


Na década de 80,  realizaram-se viagens ao Pará, ao Amazonas e ao Amapá, quando, em particulo no Marajó, puderam ser feitas observações e registros de danças e outras expressões populares que levaram a  uma documentação que serviu de base aos estudos posteriores. A música e as danças do Pará foram alvo de comunicação de representantes de instituições universitárias e da política cultural desse Estado no Primeiro Congresso Brasileiro de Musicologia no Ano Villa-Lobos de 1987. Seguindo às conferências proferidas no então Museu de Folclore da Associação Brasileira de Folclore por esses pesquisadores locais, considerou-se como essas expressões paraenses transpassam esferas do popular e do folclórico, demonstrando interações e a necessidade do questionamento dessas categorizações através de um direcionamento das atenções a processos, como vem sendo propugnado desde 1968.


Em 1989, no colóquio internacional realizado em várias cidades da Alemanha com a participação de folcloristas e outros pesquisadores do Brasil, no qual expressões tradicionais do espaço luso e brasileiro e da imigração lusófona na Europa foram tratadas, Luis Fernando de Andrade Soares apresentou resultados de suas pesquisas no Pará, em especial em Marajó. Esse pesquisador voltou a tratar do Carimbó e de outras danças e sua música no encerramento do triênio de estudos pelos 500 anos do Brasil em 2002, em sessões dedicadas ao tema Rural/Tribal levadas a efeito em Joanópolis/São Paulo. No colóquio Brasil 2001 da A.B.E., realizado em conjunto com a Universidade de Colonia, essas expressões culturais foram foco das atenções então dirigidas a tendências culturais do início do século XXI.


Um dos aspectos salientados no seminário dedicado à Worldmusic na Universidade de Bonn, em 2003, foi o da inserção das expressões paraenses em configuração geocultural de diferentes características daquela da Bossa Nova e do Samba que até agora determinaram a imagem do Brasil. Nela manifestam-se interações com expressões e desenvolvimentos dos países vizinhos e do Caribe, constelações interamericanas e caribenho-brasileiras que devem ser consideradas nas suas múltiplas implicações sob o aspecto da Globalização. A atenção mais intensa dada ao Brasil por motivo da Copa do Mundo 2014 oferece a oportunidade de retomada desses estudos sob as novas condições da atualidade.



01.05.2014

Aventura Oriente - Max von Oppenheim e seu descobrimento do Tell Halaf - Impulsos para estudos eurobrasileiros. Inaugurou-se no dia 29 de abril exposição no Foum da Sala de Arte e Exposicão da República Federal da Alemanha em Bonn, evento de grande projeção na Alemanha e que oferece impulsos para estudos relacionados com o Brasil. Em cooperação com o evento, a Fundação Humboldt promove no dia 6 de maio uma conferência da Profa. Asli Özyar da Universidade Bogaziçi Universität em Istanbul e do Prof. Mustafa Hamdi Sayar da Universidade Istanbul.


Max Oppenheim (1860-1946), de família de proprietários de banco de Colonia, fascinado pelo Oriente através da literatura da segunda metade do século XIX, colecionou grande número de valiosos objetos e obras de arte da cultura islâmica. O seu nome ficou marcado sobretudo pelas escavações em colina de ruínas de Tell Halaf, nos limites entre a Síria e a Turquia. Oppenheim, presente com o seu Salão no Museu de Etnologia Rautenstrauch-Joest em Colonia, foi relembrado na exposição „Fascinação Oriente“ nessa cidade e, a seguir, em 2011, em exposição na Ilha de Museu de Berlim. O centro das atenções foi aqui dirigido às grandes esculturas de deuses, recuperadas após a sua destruição por bombardeios na Segunda Guerra. Os seus achados já eram conhecidos em Berlim na década de 30, quando Oppenheim abriu um museu particular. Em 1929 criara uma Fundação. A atual exposição, com materiais de vários museus alemães e norte-americanos, procura realizar uma síntese do universo de Oppenheim. O fascínio pelo Oriente e pela arqueologia da segunda metade do século XIX surge como de significado para o Brasil através sobretudo das viagens de Pedro II.


O descobrimento de Tell Halaf é estreitamente vinculado a expansão alemã ao Oriente e à ferrovia de Bagdad, caminho que levou os alemães ao local em 1899. O significado desse contexto para os estudos relacionados com o Brasil já foram considerados em artigos publicados na Revista Brasil-Europa. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/144/Alemaes-na-Turquia-e-politica-colonial.html;http://revista.brasil-europa.eu/144/Von-Hattorf-na-Turquia-e-no-Brasil.html).


As escavações em Tell Halaf, realizadas entre 1911 e 1929, pertencem já a uma outra época da história das relações entre a Alemanha e os países do Oriente, marcadas pela cisão da Primeira Guerra, quando Oppenheim tornou-se chefe do Serviço de Notícias alemão para o Oriente.Os trabalhos arqueológicos levaram a construções palacianas da cidade Guzana (ca. 100 a.C.), onde falava-se o Aramaico, idioma de Jesus. O significado das monumentais estátuas encontradas adquirem grande significado para estudos religioso-comparados e imagológicos que vem sendo desenvolvidos a partir de estudos sobre o sincretismo no Brasil. Uma das mais importantes imagens pode ser analisada no seu sentido a partir de concepções conhecidas de Xangô.



29.04.2014

Tarefas da Filosofia em era de constelações transnacionais e Direitos Humanos. O Prêmio Mestre Eckhart de 2014, no valor de 50.000 Euros, concedido bi-anualmente desde 2007 pela Identity Foundation em conjunto com a Universidade de Colonia, desde 2014 em cooperação com a phil.Cologne - Festival Internacional de Filosofia -, coube a Seyla Benhabib, nascida em 1950 em Istambul. A Identity-Foundation é uma entidade de utilidade pública para o fomento da Filosofia, fundada em 1998. O seu objetivo é a promoção de reflexões sobre o tema Identidade. A premiada, doutorada na Yale University em New Haven, foi professora na New School for Social Research em New York e na Harvard University em Cambridge. Desde 2001 é Professora de Teoria Política e Filosofia na Yale University. A escolha de seu nome para o prêmio justificou-se pela sua contribuição ao estabelecimento de uma compreensão transnacional de Direito como base de um Governamento Global, demonstrando a nova tarefa que se coloca à Filosofia em era de configurações transnacionais.



28.04.2014

São Paulo. Ubaldo de Abreu (1892-1975) e sua Musicografia -  bandas, rêdes sócio-culturais e comércio musical no Brasil. Correspondência atual entre descendente de Ubaldo de Abreu à procura de dados genealógicos e o I.S.M.P.S. traz à lembrança o nome desse hoje esquecido músico e mestre de banda, compositor, editor, comerciante de música e influente personalidade na organização profissional e sindical de músicos, perenizado em designação de rua de São Paulo. O seu nome traz por sua vez à lembrança o significado da música de bandas para estudos histórico-culturais do Brasil, em particular de cidades do interior, onde as corporações marcaram a vida musical, social e cívica por décadas desde meados do século XIX.


Sendo uma prática situada entre o erudito e o popular, não foi suficientemente considerada nos estudos culturais, um problema que não é apenas brasileiro. Implicando em mudanças de perspectivas e procedimentos, foi considerado em encontros e viagens de pesquisas em várias regiões do Brasil no início da década de 70 e, em nível internacional, em conferência realizada em 1985 na Hochschule fuer Musik und darstellende Kunst em Graz, Áustria, promovida pela Sociedade Internacional para a Pesquisa e o Fomento da Música de Sôpro (Internationale Gesellschaft zur Erforschung und Förderung der Blasmusik) (A.A.Bispo, „Pesquisa e fomento da banda de música no Brasil - Blasmusikforschung und -förderung in Brasilien“,  W. Suppan u. E. Brixel, ed., Alta Musica 9, Tutzing 1987, 253-262).


Nascido em Pratinha, pequena cidade de Minas Gerais, Ubaldo de Abreu representa uma tradição mineira de vida e prática musical que estendeu-se a São Paulo e a outras regiões do Brasil e que marcou significativa fase da história da música popular nas suas relações com a música de salão e de banda. Como muitos outros músicos nessa tradição, Ubaldo de Abreu dominava vários instrumentos e unia a prática instrumental à instrumentação, à composição e ao empreendedorismo. Alcançou renome sobretudo por gravações realizadas para a Casa Edison do Rio de Janeiro. Grande difusão alcançou, entre outros, o seu dobrado Facão, difundido em gravação da Odeon em 1914 e que passou a fazer parte do repertório de muitas bandas.


Através dessas gravações, não apenas tornou-se conhecido em rêdes de mestres, músicos e corporações interligadas por elos de formação, amizade, intercâmbio e comércio de músicas, como também passou a usar dessas rêdes para um trabalho de difusão da música de banda e de comércio, influenciando a formação do repertório de vários agrupamentos, em especial de cidades do interior, não só de São Paulo. Edições de Ubaldo de Abreu foram encontradas até mesmo em cidades do litoral da Bahia e no Recôncavo, no início da década de 70 (http://www.akademie-brasil-europa.org/Materiais-abe-49.htm)


Ubaldo de Abreu desenvolveu esse trabalho de difusão através de uma casa editora - Ubaldo de Abreu: Acessórios e Músicas em geral. Nessa casa - conhecida como Musicografia Ubaldo de Abreu - fazia cópias mimeografadas de músicas para banda por êle instrumentadas a partir de manuscritos - em geral partes separadas de instrumentos, nem sempre com partituras gerais. Em pequeno formato, as cópias mimeografadas eram adequadas para bandas que tocavam marchando ou em retretas ao ar livre.


Ubaldo de Abreu não escrevia apenas para banda ou fazia instrumentações. Também compunha e escrevia textos para peças de outros gêneros e para outros instrumentos. Também fazia êle próprio arranjos de suas composições de um para outro instrumento ou para banda, por exemplo do maxixe 30 contos, ou de banda para instrumentos, como a Valsa do Trapézio, reelaborada para acordeon (São Paulo: Vitale). 


Alcançando sucesso comercial com o seu trabalho de reprodução mimeográfica e venda de instrumentos, a Musicografia passou a ocupar instalações mais amplas em zona mais central da cidade (Rua Rego Freitas),  incluindo também o comércio de discos. Tornou-se um centro procurado por músicos vindos do interior à procura de materiais para bandas na capital nos anos 60 e 70.


Nessa época, as edições Abreu compreendiam dobrados (entre outros Camaradas Sinceros; Súplica Atendida; Santa Cruz; O Mercenário; Padre Chico; Waldir; 182; Dois Amigos; Dois Corações; Maxambomba e Maracatú; Cisne Branco; Cel. Lino; Sumaré; Traidores; Vitória da Coligação; Rio Bonito; Um Adeus); música popular para retretas (A Banda; A Praça; Cinderela; O Furão; Galo Branco; Tarantela Napolitana; Helena; Abigail; Saltitando; Carinhosa); marchas „de sucesso mundial“ (Colonel Boogey; Emblema Nacional; Ancoras Levantadas; Velhos Camaradas; Paris Belfort; Despedida dos Gladiadores; Expedicionários); arranjos de „melodias célebres“ (Tocam os Sinos ou Jingle Bells; Deus Salve a America; Tema de Lara, Serenata de Schubert; Marcha Nupcial); música erudita ou ligeira de maior divulgação (Céu e Inferno, suite; Sinfonia do Guarany; Poeta e Camponês, sinfonia; Cavalaria Ligeira; Il Rigoleto, fantasia); e hinos religiosos católicos (Queremos Deus; Louvando Maria; Eu Prometi; Rosa Mística).


Se inserções políticas e elos com a classe comercial já foram reconhecidos como de significado no estudo das bandas de música, o nome de Ubaldo de Abreu dirige a atenção ao papel de músicos situados entre a esfera do erudito e do popular para a história da organização profissional e na defesa de interesses e de direitos de músicos. A sua atuação na Ordem dos Músicos do Brasil, que parece não deixar de ter tido dimensões políticas, mereceria ser considerada com maior atenção.



27.04.2014

Foz do Douro, Porto. Falecimento do Dr. Vasco Graça Moura (1942-2014). A Arqta. Alda Santos de Foz comunica o falecimento do Dr. Vasco Graça Moura no dia 27 de abril, jurista, escritor, tradutor e político português, de família da Foz, sua conhecida e amiga. Graça Moura foi há anos viver em Lisboa, onde desempenhou algos cargos públicos e culturais. Como escritor, obras suas foram traduzidas para o espanhol, francês, italiano e sueco. Destacou-se como tradutor, tendo traduzido obras da literatura mundial para o português, entre elas Dante Alighieri, sendo considerado o seu melhor tradutor, W. Shakespeare, Federico Garcia Lorca e de vários autores alemães, como Rainer Maria Rilke, Walter Benjamin, Hans Magnus Enzenberger e Gottfried Benn. Como político, foi Secretário de Estado a partir de 1975, atuando nas áreas da  da Segurança Social e dos Portugueses do Exterior. Seu caminho na esfera político-cultural foi marcado por atividades de direção da emissora RTP em 1978, da Casa da Moeda (1979-1989) e, sobretudo, da Comissão Nacional dos Descobrimentos Portugueses, cargo que exerceu até1995. As suas atividades em dimensões européias culminaram na primeira década do século atual, quando representou o seu partido no Parlamento Europeu. Alda Santos lembra a sua atuação no Centro Cultural de Belém em anos recentes e o fato de ter sido uma daquelas personalidades que se recusaram a usar o novo acordo ortográfico.



24.04.2014

Lisboa. Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa como alvo de críticas. Personalidades da vida científica e cultural de Portugal vêm manifestando posições críticas quanto ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, recusando-se a aceitá-lo e empregá-lo. Alguns dos argumentos são de natureza cultural ou político-cultural. A atualidade da discussão decorre do fato de que o novo Acordo Ortográfico, decidido em 1990, entrou em vigor em janeiro de 2009, com tolerância em Portugal da grafia atual até 2015; nas escolas, passou a vigorar a partir de setembro de 2011, na Administração Pública, a partir de janeiro de 2012. O Acordo foi resultado do empenho da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. Foi fechado por representantes de sete países que empregam o português como língua oficial, tendo sido ratificado posteriormente por Timor-Leste.


O próprio intento de chegar-se a um acordo ortográfico entre os países lusófonos pode ser considerado como apto a ser analisado sob a perspectiva histórico-cultural. O Acordo atual, certamente a não última reforma do gênero, insere-se numa longa história de esforços e fracassos, de reformas de questionável utilidade e sentido. Entre os marcos dessa história, citam-se a reforma ortográfica em Portugal de 1911 e as tentativas de unificação ortográfica em Portugal e no Brasil em 1931 e 1945, sendo essas últimas modificações não ratificadas pelo Brasil. De 1959 data a Nomenclatura Gramatical Brasileira, de 1967 a Nomenclatura Gramatical Portuguesa, substituída depois pelo Dicionário Terminológico. Reformas nos anos setenta levaram a aproximações ortográficas entre os dois países que, porém, não se tornaram normas oficiais. Os críticos do atual Acordo argumentam que este não contribui nem a uma forma mais refletida ou racional de escrita, nem à consciência etimológica, à harmonização da língua falada à escrita, a exigências constatadas por escritores ou à simplificação. As alterações são em grande parte iincompreensíveis no seu sentido e as exceções que contém relativam justificativas unificadoras. Assim, alguns críticos vêem o Acordo como exemplo de um questionável uso de assunto cultural  para fins políticos. Tem-se salientado as dimensões culturais problemáticas do Acordo, uma vez que sobretudo portugueses podem sentir-se atingidos quanto às suas características particulares de expressão escrita, o que contribui ao surgimento ou à intensificação de ressentimentos, em especial relativamente a uma influência brasileira que passa a ser sentida como excessiva.



23.04.2014

São Paulo. A obra arquitetônica de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) - necessidade de sua reconsideração. O Caderno Paulista XLIV, publicação da Imprensa Oficial do Estado, encartado no D.O. Leitura, publicou um artigo de Rosa Camargo Artigas, ilustrado com imagens de significativo valor documental da Biblioteca da FAU/USP (C.A. Lemos).


O artigo adquire atualidade sob diversos aspectos. A autora, fundadora da Associação de Docentes de Arquitetura e Urbanismo, ternina o seu texto dizendo ser um mistério saber por que é que Ramos de Azevedo tornou-se mais conhecido como arquiteto do que empresário e organizador cultura. „Talvez a responsabilidade seja da crítica ligada ao movimento moderno (...) que negou e ridicularizou toda a cultura acadêmica e eclética daquele período por inautêntica, colonizada e de mau gosto. Isso fez com que só recentemente, quando o próprio projeto moderno passou a ser revisto, a historiografia procurasse entender os papéis desempenhados pela arte e arquitetura na história das cidades durante a Primeira República. Essa traição da memória é fruto de uma característica perversa da história da cultura no Brasil: a cada geração, a vida intelectual parece começar do zero.“


Essas pertinentes observações correspondem às tendências de valorização do patrimônio do Historismo do século XIX e parte do XX em centros europeus, para a qual exige-se, porém, aproximações e perspectivas adequadas, antes de natureza histórico-cultural. Ramos de Azevedo foi um dos arquitetos que mais marcaram a fisionomia de São Paulo e a própria imagem da cidade no Exterior, em parte ainda vigente, procurada e destilada do complexo visual que a cidade oferece no presente. A autora lembra vários de seus projetos e empreendimentos, muitos realizados em colaboração com outros arquitetos (Ricardo Severo, Maximiliano  Hehl, João Frederico de Aguiar, Victor Dubugras, entre outros). Cita vários edifícios, alguns emblemáticos, entre outros o da Secretaria da Fazenda (1886), da Pinacoteca do Estado (1897), do Quartel da Polícia da Luz (1888), da Escola Normal da Praça da República (1890), da Escola Modelo do Brás (1890), do Colégio Sion (1901), do Instituto Pasteur (1903), do Teatro Municipal (1903), do Colégio Rodrigues Alves (1919), da Faculdade de Medicina (1920), do Edifício dos Correios (1922) e do Palácio das Indústrias (1924).


Tecendo um panorama geral da época em que nasceu e atuou, lembra que a formação de Ramos de Azevedo deu-se em período de florescimento da economia cafeeira, da imigração e da transformação urbana de São Paulo. A sua formação na Europa, traçada pela autora, indica os contextos em que se inseriu. Tendo dado continuidade a seus estudos em Gand, Bélgica, entre 1875 e 1878, recebeu também uma formação na Escola Politécnica belga, sendo esta orientada segundo a Escola Politécnica de Paris. Estudou também desenho na Escola de Belas Artes.


Retornando em 1879, trabalhou nas obras finais da catedral de Campinas, assim como em projetos de residências particulares. Convidado pelo Presidente da Província, dedicou-se ao projeto do Tesouro Nacional. No início da República, construiu a Secretaria da Fazenda e da Agricultura, para as quais tornaram-se necessárias amplas demolições.


A autora salienta concepções culturais ou civilizatórias relacionadas com os projetos arquitetônicos da época, lembrando porém, que Ramos de Azevedo distinguiu-se particularmente pela sua competência organizativa de indústria de construção civil. Juntamente com Antonio Francisco de Paula Souza, empenhou-se pela criação de uma escola de Engenharia. O Liceu de Artes e Ofícios, nascido em 1873, e que era centro de formação de artesãos para a indústria e mobiliário, passou a ser por êle dirigido em 1895.


De particular relevância é a menção dos elos da construção civil com empreendimentos econômicos, de financiamento imobiliário e de importação. Em fins do século, Ramos de Azevedo passou a dedicar-se ao investimento imobiliário como diretor da Carteira Imobiliária do Banco União, depois da Cia. Financiadora Predial, da Azevedo, Bueno e Cia. e da firma de materiais importados „Casa Ernesto“. Em 1907, criou o Escritório Técnico F. P. Ramos de Azevedo, em 1910, a  Cia Cerâmica Vila Prudente; com Ermelino Matarazzo e C. S. Telles fundou o Banco Ítalo Belga, em 1911, e, em 1913, fundou a Cia. Suburbana Paulista. Foi vice-presidente do Conselho Administrativo da Caixa Econômica Federal e diretor da Cia. Mogiana.


As citadas palavras finais da autora, relativando a crítica da cultura acadêmica e eclética ligada ao movimento moderno, que sugerem a necessidade de reconsiderações, não se coadunam, porém, com o uso do termo „Babel Arquitetônica“ com as suas conotações negativas ou irônicas, manifestadas em especial em texto de Zélio Alves Pinto, coordenador editorial. Uma visão em dimensões amplas em relações Europa-Brasil, dirigida a processos culturais que se manifestam também na arquitetura, levanta questões quanto ao emprêgo desse termo pejorativo, bastando lembrar que também valeria para cidades européias. A verdadeira Babel arquitetônica é aquela que oferece a cidade atual, resultado sobretudo da perda de configuração no seu Skyline pela proliferação desordenada quanto altura de edifícios.



21.04.2014

Kyoto. Do Brasil aos brasileiros e latinos em geral que vivem e trabalham no Japão. A Ir. Miria T. Kolling comunica que viaja no dia 30 de Abril para o Japão, onde ficará até o dia 3 de Junho cantando e dando orientação religiosa a brasileiros e latinos em geral que vivem e trabalham em várias cidades da Diocese de Kyoto. Uma profunda emoção será a visita a Hiroshima e Nagasaki. O calendário de atividades, de lá enviado, compreende: 3 de Maio, Karasaki (Retiro da Crisma); 4 de Maio Nagahama (Missa da Partilha); 5 de Maio, Karasaki (Liturgia Musical: Missa, Festa do Senhor, Salmodia); 6 de Maio (Liturgia Musical, Liturgia para catequese); 8 de Maio, Suzuka (Ministérios); 9 de Maio, Ueno (Terço nas casas); 10 de Maio, Ueno (Liturgia Musical- Mariana); 11. de Maio, Kusatzu (Missa da Partilha,  Acolhida Evangélica); 13 de Maio, Suzuka (Liturgia Musical, Leitores e Salmistas); 17 de Maio, Minakuchiu (Liturgia Musical: Ministério da Música); 20 de Maio, Suzuka (Liturgia Musical, Acolhida); 21 de Maio, Nagahama (Liturgia Sacramental); 22 de Maio, Nagahama (Ligurgia Sacramental); 23 de Maio, Hikone (Terço nas casas); 24 de Maio, Hikone (Liturgia Musical: Ministério da Música); 25 de Maio, Hikone (Missa da Partilha, Ministérios); 27 de Maio, Suzuka (Liturgia Musical: Ministério da Música); 29 de Maio, Nagasaki; 30 de Maio, Hiroshima; 31 de Maio, Ueno (Infância Missionária); 1 de Junho, Suzuka (Liturgia para catequesa, Missa da Partilha).



20.04.2014

Goiânia. Vida cultural à época da fundação de Goiânia. A Profa. Dra. Maria Augusta Calado Rodrigues comunica o prosseguimento do programa de pesquisas da vida cultural e musical de Goiás à época da fundação da sua capital. A atenção dirige-se no momento a peça de teatro de revista criada em 1938, um gênero até então desconhecido no Brasil Central.



20.04.2014

Lisboa. Correspondência sôbre música e instrumentos musicais chineses. Macau tem sido alvo de estudos do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Veja http://ismps.de/China_ISMPS.html) e a Revista Brasil-Europa dedicou um de seus números à China (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Indice_137.html). Na atualidade, desenvolve-se uma troca de correspondência com pesquisador que atuou durante 16 anos em Macau, em diversas atividades culturais, e que hoje prossegue os seus estudos em Portugal. Temas principais das reflexões são o da bibliografia e o da classificação de instrumentos chineses. Um dos problemas que aqui se colocam diz respeito à transplantação de uma sistemática de classificação desenvolvida segundo uma lógica derivada da prática ocidental a outro contexto cultural. Esse problema já foi reconhecido há muito. Em português, basta lembrar o artigo de Ma Hiao-tsiun ("A Musica chinesa", Enciclopédia da Plêiade, A Música I, Ed. Arcádia, 1965), onde o autor menciona a própria classificação chinesa de instrumentos segundo o material empregado, mas prefere a ocidental por ser mais racional.


A classificação chinesa tem conotações e implicações simbólicas amplas, de visão do mundo e do homem, cujo estudo fica prejudicado se os instrumentos passam a ser considerados segundo a sistemática ocidental. A própria literatura sôbre a música e os instrumentos musicais da China deve ser considerada na sua história e nos seus condicionamentos. Entre eles: o próprio pensamento classificatório ocidental relativo a instrumentos; o tradicional chinês nas suas diferentes relações com o Confucionismo, Budismo e outras tradições e correntes filosóficas, religiosas e de visão do mundo;  aquela derivada da ocidentalização da China e mesmo as das tendências atuais. Essa perspectiva é no caso das relações sino-portuguesas fundamental, pois dirige a atenção antes a processos de assimilações e mudanças de formas e sentidos dos instrumentos. Isso não precisa manifestar-se só em formas híbridas, mas também em estilos, práticas, preferências por determinados instrumentos, técnicas de impostação de voz e de toques instrumentais e realidades sonoras dos dois lados. A pesquisa histórica necessitaria aqui da complementação empírica, da pesquisa cultural de expressões tradicionais ainda hoje cultivadas e da prática de macaenses músicos. Este foi um intento salientado no Colóquio Internacional levado a efeito em 1998 em São Paulo e que deu origem ao projeto de envio de pesquisadores a Macau.



19.04.2014

Ouvindo o Papa Francisco: Prioridade aos pobres e Estudos Culturais. Já em Evangelii Gaudium, promulgado a 24 de Novembro de 2013, o atual Pontífice indica os caminhos para a Igreja nos próximos anos. Considerá-los surge como necessário para estudos voltados ao presente, sobretudo para nações tão marcadas pelo Catolicismo como o Brasil, pois permitem a compreensão de processos em desenvolvimento e seus fundamentos conceituais.


O capítulo II do documento demonstra o central significado da crítica a uma Economia que leva à exclusão e à inegualdade social que fomenta à violência no pensamento pontifício. Ao no mesmo tempo, demonstra a relevância de conceitos relacionados com a cultura nas explanações e orientações.


O texto trata explicitamente de desafios culturais do presente, desafios da „Inculturação“ e desafios de culturas urbanas. No capítulo III, considera „o mundo da cultura, do pensamento e da Educação“. Inclui aqui as culturas científicas e acadêmicas no encontro entre a fé, a razão e as ciências. As universidades surgem como locais privilegiados para essas relações, compreendidas como interdisciplinares.


No capítulo IV, tratando desse diálogo, e após crítica ao cientismo e positivismo, salienta um caminho que considera um uso responsável dos métodos das ciências empíricas e outras, assim como com da Filosofia e da Teologia. Se as ciências em seriedade acadêmica permanecerem no seu objeto específico, não ultrapassando os seus limites, tornando-se ideologia, então não haveria obstáculos para o diálogo.


Neste mesmo sentido deve-se lembrar consequentemente que também o conceito de cultura e as reflexões culturais possuem a sua história, diferenciam-se segundo épocas, correntes de pensamento, contextos e rêdes de pesquisadores, o que deve ser considerado. 


A atenção aos pobres, simples, desprivilegiados marcou em grande parte a história dos estudos voltados à cultura nas suas diversas fases de desenvolvimento. O despertar de interesses pelas tradições populares no século XIX, época do Romantismo e Historismo, foi sobretudo voltado às lendas, usos e costumes, à sabedoria e aos conhecimentos do homem simples, de campôneos e pescadores, e esse direcionamento da atenção marcou toda uma área disciplinar, a dos estudos do Folk-lore. Também a Etnografia e a Etnologia dedicam-se em grande parte a grupos e contextos culturais marcados pela exclusão e injustiças, por exemplo a indígenas. Nas correntes mais recentes dos Cultural Studies, a atenção é voltada aos trabalhadores, aos operários, a contextos urbanos e industriais, à influência dos meios de comunicação.


Tratar-se-ia, portanto, de reconscientizações de objetivos, de correções de desvios e instrumentalizações, mas também da análise do pensamento relativo à cultura no decorrer do tempo e o desenvolvimento das reflexões segundo as exigências da atualidade. Estas não podem permanecer no estágio teórico dos anos setenta do século XX. Considerando-se o atual empenho de revisão dos esforços realizados nos últimos 40 anos em relações euro-brasileiras, recapitulações e balanços à luz da necessária prioridade apontada pelas orientações pontificias deverão marcar o próximo número da Revista Brasil-Europa.




18.04.2014

Ucrânia-Brasil. Atenção internacional na situação crítica da atualidade e Estudos Culturais - O simbolismo dos ovos de Páscoa. Com os problemas políticos dos últimos anos e, em particular os etno-culturais de regiões com população de idioma russo do Leste do país e a passagem da Criméia à Rússia, a Ucrânia passou a despertar de forma mais intensa as atenções internacionais.


Cumpre lembrar nesta situação que, sob a perspectiva do Brasil, já em 2009 considerou-se o país, sua cultura e seus problemas político-culturais em ciclo de estudos levados a efeito em Kiew. Esses estudos foram precedidos por viagens a Odessa e à Criméia. (http://www.revista.brasil-europa.eu/122/Estudos_do_Leste.html)


Esse interesse pelo país e sua cultura manifestou-se também na presença de uma pesquisadora ucraniana no Colóquio de Estudos Interculturais realizado pelos 450 anos de São Paulo em 2004. Entre as instituições particularmente consideradas em Odessa e em Kiew salientaram-se aquelas dedicadas aos Estudos Culturais, ao Folclore/Etnografia, Etnologia e Estudos Regionais.


A Ucrânia assume sob esse aspecto particular significado para os Estudos Interculturais relacionados com o Leste europeu. Entre os muitos aspectos que podem ser considerados inclui-se aquele da tradição ucraniana da ornamentação de ovos de Páscoa. Ovos pintados ou ornamentados com uso de outras técnicas nesta época do ano natural e religioso constituem relevante expressão da cultura tradicional de muitos países do Leste, entre êles a Armênia, Bulgária, Croácia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, República Tcheca, Países Bálticos, Polonia, Rússia e, na Alemanha, entre os Sórbios, grupo cultural no Leste do país.


Essa tradição foi mantida por grupos de imigrantes em países ocidentais, também em círculos de passado imigratório no Brasil. Ela difere, no pêso dado ao símbolo e nas suas características, das expressões tradicionais de origem colonial portuguesa no Brasil.


Embora os ovos de Páscoa tenham-se difundido em época mais recente nos costumes de países latinoamericanos, a linguagem visual das expressões tradicionais mais antigas possui outros acentos. Uma das razões que se têm considerado para essas diferenças quanto a imagens é aquela da defasagem do ano natural com relação ao ano religioso no Hemisfério Sul. O símbolo do ovo indica elos estreitos com a primavera do Hemisfério Norte e, assim, ao desabrochar da natureza, ao renascer, ao reproduzir, ao crescimento e, em ampliação de sentidos, ao amor, à saúde e à prosperidade; era presente na antiga mitologia e foi cristianizado como sinal da Ressureição. Esse argumento, porém, perde a sua força considerando-se que também as expressões tradicionais do ciclo de ano brasileiro remontantes à colonização portuguesa manifestam elos com a época primaveril do ciclo do ano natural do Norte, ainda que com outra linguagem visual.


Como tratado na visita ao Museu de Etnografia de Kiew (http://www.revista.brasil-europa.eu/122/Comparatistica.html), uma das características da tradição ucraniana reside no uso da cêra na ornamentação de ovos, os chamados Pysanky, uma técnica também conhecida em outros países. A confecção desses ornamentos é acompanhada por práticas tradicionais de antigas proveniências e
sentidos, tais como gritos e apelos propiciatórios. Pesquisadores locais têm procurado explicar os motivos utilizados como resíduos de antigas culturas, remontantes até mesmo ao Neolítico, resignificados com a missionação cristã. Exames comparados de linguagem visual e de mecanismos resignificativos do sistema de imagens do Cristianismo do Leste e do Ocidente, como aquele vivo em expressões brasileiras podem contribuir ao esclarecimento de concepções e à compreensão mútua.


17.04.2014

Milão-São Paulo. Coletivos e mobiliário urbano na percepção e vivência de cidades. Dando continuidade às reflexões sôbre temas sugeridos de S. Paulo, cuja atualidade manifesta-se em artigos da imprensa, tem-se dirigido a atenção ao significado dos veículos coletivos e da mobília urbana para a percepção de cidades e para a qualidade de vida de seus habitantes.


A percepção e a vivência de ruas, praças, de „micro-espaços“ que envolve o homem não é apenas determinada pelos edifícios, que muitas vezes o passante nem enxerga ou lê na sua arquitetura, mas sobretudo pelo seu mobiliário. A discussão que se constata em certas cidades alemãs a respeito de formas e cores de postes de iluminação, traz à consciência o significado dos postes de luz para a unificação do visual urbano. Isso vale também para a imagem de cidades brasileiras, como é o caso de São Paulo, onde os postes-candelabros do centro marcam com o seu estilo a feição da capital. A importância dessa mobília urbana é reconhecida por exemplo na Inglaterra, onde as  cabines telefônicas, sem mais função na era dos celulares, não podem deixar de continuar presentes sem que ruas e cidades percam significativa característica. O debate, que demonstra os elos afetivos da população com essas cabines, diz também respeito a caixas de correio, latas de lixo, relógios de rua, grades e outros objetos.


Também os veículos coletivos marcam de forma significativa a imagem de ruas, praças, bairros e cidades. São elementos de um „patrimônio móvel“ e, ao mesmo tempo, mobília. Não há visitante que, em Lisboa, não queira sentir os espaços da Alfama em viagem de bonde pelas suas ruas estreitas; também não se pode imaginar São Francisco sem os seus cable cars.


Assim como os edifícios com os seus diferentes estilos, avenidas e praças estabelecem elos de similaridades entre cidades, também os coletivos criam vínculos e aproximações. Veículos da mesma marca e sobretudo aqueles adquiridos já usados de outros países trazem consigo elementos estéticos e conotações culturais, estabelecendo relações entre imagens urbanas. Desempenham, assim, papel em processos de identidade cultural, sobretudo naqueles relacionados com a imigração.


Esse fato pôde ser recentemente constatado durante os estudos dedicados à Turquia (Veja), onde várias cidades adquiriram bondes usados de cidades alemãs. Um exemplo é Antalya, que implantou na sua avenida à beira-mar e numa de suas principais ruas trilhos para bondes vindos da Alemanha. As estreitas relações entre a Alemanha e a Turquia adquirem uma particular evidência visual; o turista alemão sente-se em casa nessa cidade e, reciprocamente, o turco retornado reencontra na sua terra um visual familiarizado da Alemanha.


O mesmo pode ser dito com relação a São Paulo do passado e Milão. Um paulista que visite a capital da Lombardia reconhece, se visualmente sensibilizado, similaridades entre edifícios ecleticistas milaneses e edifícios do centro de São Paulo; se for de mais idade, fica porém ainda mais surpreendido em encontrar os mesmos bondes, com a mesma cor, os „camarões“ de São Paulo, fazendo os mesmos ruídos do compressor e com o mesmo odor. A similaridade de São Paulo com Milão e outras cidades italianas - mas também com Madrid e com cidades dos Estados Unidos - explica-se pelos veículos da série ATM (Azienda Trasporti Milanesi)1500, de 1927/28. Devido ao ano de sua construção, passaram a chamar-se Ventotto. Foram empregados em várias cidades italianas, entre elas Turim, Trieste, Pádua, Nápoles e Gênova. Os elos com a América explicam-se pelo fato dessa série basear-se em tipo de veículo construído por Peter Witt nos EUA e pela ida de veículos usados para San Francisco.


Veículos similares aos milaneses trafegavam em várias linhas de São Paulo, entre outras Bela Vista, Pinheiros, Jabaquara, João Teodoro, Bom Retiro, ipiranga, Fábrica, Jardim Paulista e, posteriormente, substituindo os abertos, também em direção a outros bairros. Maiores, de similar design, mas quase que como unicats com as suas diferenças próprias, eram aqueles que se dirigiam a Santo Amaro. Sensíveis diferenças havia também entre os abertos, os menores, de outra proveniência, ligeiros como aqueles que ainda trafegam em Lisboa ou os de Santa Teresa no Rio, e que corriam em direção à Lapa, Barra Funda, Vila Buarque, Belém, Higienópolis ou à Penha; os maiores, com dois ou mesmo três estribos, com ou sem reboques, trafegavam em várias linhas, por exemplo à Mooca. Distinguindo-se desses bondes com bancos de madeira eram aqueles de „palhinha“, adquiridos usados dos Estados Unidos e que percorriam bairros mais privilegiados da cidade, o Avenidas pela Angélica e Paulista, ou o Perdizes. Dá-se conta, assim, que São Paulo teve um patrimônio móvel diversificado e com múltiplas conotações: aquelas de origem - se Milão, Filadélfia ou outras - e aquelas que adquiriram com o seu emprêgo em diferentes bairros. As relações eram aqui tão estreitas que um morador podia reconhecer à distância, pela aparência do próprio veículo, se este o levava ou não a seu destino.


Muitos dos edifícios do passado foram conservados e têm hoje o seu valor histórico-cultural reconhecido. Os postes de luz ainda continuam. Um elemento, porém, que marcou por muitas décadas a fisionomia de São Paulo falta. Não é possível desenvolver estudos histórico-culturais do século XX de São Paulo sem considerar os seus bondes. As cidades européias que reintroduzem esse tipo de transportes na atualidade, não o fazem por motivo museal ou turístico, mas sim a serviço da revitalização de centros e seu comércio e de uma locomoção que não dispensa a fruição urbana. Nada impede, porém, que se organizem ocasionalmente viagens histórico-culturais com os antigos veículos, como é o caso de San Francisco.




16.04.2014

São Paulo. A reintrodução de bondes em cidades da Europa: Economia, Urbanismo e Urbanidade. Defasagem do Brasil? Reflexões sobre a "arqueologia de trilhos" do Largo da Batata. A reintrodução de bondes em muitas cidades da Europa e em algumas outras de outros continentes representa um surpreendente processo que ocorre nos últimos anos e que é resultado de diferentes intenções, tais como planejamento urbano com vistas ao desenvolvimento comercial de centros antigos, fomento do turismo, da conservação patrimonial, da renovação estética do mobiliário urbano e melhoria da qualidade de vida de habitantes. Diz respeito à Economia, ao Patrimônio, ao Urbanismo e à Urbanidade, adquirindo, assim interesse para os estudos culturais sob diferentes aspectos.


Esse é um fenômeno que merece ser considerado com atenção, pois surge como uma verdadeira „mudança de paradigmas“ relativamente a convicções dos anos 60 e 70 e que levaram, justamente sob o aspecto da cidade adaptada ao automóvel, à abolição do transporte urbano em trilhos à superfície como entraves ao tráfego. Esse ressurgimento dos bondes não surge de forma alguma como expressão de saudosismo ou apenas para a alegria de crianças, a serviço de conservação ou exposição museal de velhos veículos em praças como objeto nostálgico de brinquedos, como acontece na Praia do Gonzaga, Santos.


Pelo contrário, a reintrodução dos bondes é celebrada em muitas cidades européias como uma conquista urbana e dos transportes, realizada com muita criatividade e segundo os mais avançados desenvolvimentos da técnica. As cidades orgulham-se de suas linhas e veículos, divulgando-os como novas marcas de sua imagem.


Esse modernidade do bonde como uma solução de hoje para muitos problemas urbanos e para a reconquista de uma cultura urbana de centros que correm o perigo de ter o seu patrimônio arquitetônico degradado voltou a ser considerada na Alemanha a partir de recortes enviados de S. Paulo (Veja notícia) e que, entre êles, inclui-se um texto de Ivan Finotti de título „Os trilhardários“, publicado na Folha de São Paulo de 8 de agosto de 2013.


Esse texto se refere às obras de revitalização do largo da Batata, que teriam revelado um „artefato arqueológico incomum aos paulistanos do século 21: trilhos de bonde. Os tais estavam embaixo do asfalto da rua Teodoro Sampaio e, após limpos e estudados, serão expostos na praça em construção no local“. O autor lembra de artigo com imagens da repórter Letícia Mori, que salientou a perplexidade dos operários e a excitação dos pedrestes. Com razão o autor do texto lembra da grande malha viária de trilhos que São Paulo possuiu.


O que seria necessário lembrar é que muitas vezes os bondes não só acompanharam como também precederam a expansão de barros, ou seja marcaram fundamentalmente a ordenação da cidade (p.ex. Bosque da Saúde, Jaraguá, bairros entre o centro e Santo Amaro). Entrelaçaram-se assim estreitamente com a rêde viária e com a criação de pontos e sistemas referenciais. A sua extinção contribuiu fundamentalmente à decadência de praças, largos e ruas centrais da cidade (Clovis Bevilacqua, S. Bento, Tesouro, S. Francisco e outras) como também de ruas, avenidas e seu comércio (por ex. Celso Garcia, Florencio de Abreu e mesmo São João). Muitas outras cidades brasileiras possuiram consideráveis rêdes de trilhos que também marcaram a vida e a imagem de bairros (Rio de Janeiro, Campinas, Salvador e muitas outras), até mesmo cidades menores (por ex. Piracicaba).


O fenômeno de ressurgimento dos bondes na Europa da atualidade indica em parte intenções de corrigir na medida do possível tais graves êrros de planejamento de décadas passadas, desordenadores do ponto de vista urbano-cultural e prejudiciais à identidade de bairros. Isso, porérm, em função de exigências do presente, de forma criativa e com uso de tecnologia avançada. Assim, não apenas centros velhos, praças e vias recuperam os seus bondes, em geral com restrições de automóveis e tornando-se apenas vias de pedestres, como se criam novas vias separadas para bondes em grandes avenidas, ajardinadas, contribuindo assim ao paisagismo e à ecologia.


Se o primeiro caso pode ser observado sobretudo em linhas circulares ou que  ligam estações de subterrâneos ás círcunvizinhanças, de menor extensão, o segundo caso é aquele de linhas de grande distância, que ligam centros à periferia ou que atravessam centros em contextos subregionais, como na exemplar solução encontrada para Sta. Cruz de Teneriffe, Canárias, Espanha.


Um exemplo da engenhosidade na procura de novas soluções é o sistema que pode ser analisado em Nancy, França, uma vez que o bonde, embora monotrilho, mas também possuindo pneumáticos, transforma-se também em ônibus elétrico ou ônibus comum ao trafegar em ruas sem trilhos ou ainda sem trilhos.


Muitas são as cidades que poderiam ser citadas como exemplos da nova qualidade de vida - e de cultura urbana - reconquistada com a introdução de bondes, entre elas Paris, Lille, Bordeaux, Marseille e Bilbao ou, na Suiça, Lausanne.


Sob o ponto de vista estético e cultural, os novos bondes valorizam centros, estruturam-nos espacialmente e também temporalmente, unindo com o seu design e tecnologia avançada o presente com o passado do patrimônio histórico. Contribuem à modernização de mentalidades em processos interculturais. Marseille é aqui um dos principais exemplos.


Em cidades da Alemanha, onde manteve-se em grande parte antigas linhas, constata-se uma interação por vezes contraditórias de concepções urbanas, aquela do passado, que acentua os problemas de ruídos, de estorvo de tráfego, da poluição visual devida aos fios e outros argumentos, e que levou e leva à supressão de linhas, com a dos novos desenvolvimentos, que dão origem a  novas linhas (por ex. Oberhausen, Saarbruecken, Heilbronn). Constatam-se tentativas de adaptação das duas concepções e dos dois processos, por um lado através  da modernização de antigas linhas e veículos, sobretudo  em cidades do Leste, mas também em centros ocidentais, como Freiburg. Os antigos veículos são vendidos para outras cidades, que passam a introduzir o sistema de bondes, por exemplo em Istambul e Antalaya, Turquia. Nessas cidades, o visitante alemão encontra de repente uma imagem urbana que lembra Nürnberg ou Colonia, acentuando-se assim no contexto urbano os estreitos elos entre os dois países. Os migrantes turcos que vivem na Alemanha encontram, ao retornar, cidades turco-alemãs no seu visual.


Em resumo: trilhos de bonde do largo da Batata não são achados arqueológicos nem relitos, mas sinais de uma necessária revisão de modos de pensar do passado e que abre perspectivas para novas soluções adequadas ao presente, favoraveis ao comércio, ao patrimônio construído, à ecologia e surpreendentemente também ao tráfego, mas sobretudo à qualidade de vida e à cultura urbana.



15.04.2014

São Paulo. A cultura na revitalização do centro antigo em comparações com o Exterior: um ano do Festival Baixo Centro de 2013. A Dra. Neide Carvalho, que por muitas décadas acompanhou profissionalmente projetos e realizações da Secretaria de Estado da Cultura, envia regularmente ao Centro de Estudos da A.B.E.  recortes da imprensa paulista que dizem respeito a temas que vêm sendo tratados em ciclos de estudos. Muitos deles retomam assuntos considerados em várias ocasiões em excursões de estudantes europeus e participantes brasileiros de colóquios da A.B.E. no âmbito dos programas „Análise cultural urbana“ (http://www.brasil-europa.eu/Anais/Anais_Exercicios.html) e „ Poética da Urbanidade“. (http://www.arquitetura.brasil-europa.eu/) As origens desses programas remontam a iniciativas da FAU/USP e da Sociedade Nova Difusão, de 1969. O tema Arquitetura e Urbanismo nas suas relações com os Estudos Culturais, em particular com a música, foi tratado em seminários realizados nas universidades de Bonn e Colonia. Neles, São Paulo sempre desempenhou importante papel.


O jornal O Estado de S. Paulo publicou, no dia 24 de Março de 2013 (C9), sob o título „A ‚Invasão‘ que está mudando o Centro: Manifestações artísticas e movimentos de rua recuperam áreas antes degradadas de São Paulo“, matéria de Juliana Deodoro, onde se menciona o papel de coletivos de artistas em mansões nos Campos Elísios, em galerias no Vale do Anhangabú, eventos festivo-políticos na Praça Roosevelt e, sobretudo o Festival Baixo Centro, que teve lugar entre 5 e 14 de abril. Esse Festival baseia-se em redes sociais para a sua efetivação. Um dos coletivos, o Voodoohop, iniciativa do jovem alemão Haferlach, organiza o Domingão no Minhocão.


Cumpre recordar que já há uma história longa de tentativas de revitalização do centro de São Paulo através da cultura. Já no início da década de 70 realizaram-se concertos em praças e igrejas com esse escopo, salientando-se o Festival de Outono da Nova Difusão, apoiado pelo Departamento de Cultura do Municipio, podendo-se mencionar a participação do conjunto Paraphernália no „levar música às praças“, entre outras à Roosevelt e República e, fora do centro, na Freguesia do Ó, Jardim da Aclimação, Horto Florestal e Jardim Botânico.Também não se pode esquecer outras iniciativas culturais e histórico-culturais de revitalização do Jardim da Luz, inclusive com concertos de bandas e danças do passado, entre muitas outras.


A presença de músicos populares, em particular de migrantes do Nordeste no Largo São Bento e no Jardim da Luz foi objeto de particular atenção em viagem de estudos da A.B.E. em 2007. Gravações e fotos foram objetos de considerações na Alemanha. Esforços de recuperação de cidades baixas podem ser constatados em numerosas cidades da Europa e das Américas. Torna-se aqui necessário comparar os diferentes caminhos tomados e as diversas estrategias, assim como os resultados. Alguns países se destacam pela qualidade recuperada dos antigos centros, podendo-se mencionar aqui a França. Algumas cidades de outros países sugerem
antes a revivificação de centros de forma espontânea ou através da cooperatividade e de rêdes sociais, como no caso de S. Paulo. Tudo indica, porém, que as instâncias da Administração não podem deixar de fornecer a infra-estrutura necessária para revitalizações de maior estabilidade e de recuperação efetiva do patrimonio edificado. No caso da França, em parte Suíça e também em cidades alemãs, o processo revitalizador foi em grande parte possibilitado pela reintrodução de linhas de bondes.



14.04.2014

Repercussões de publicações pelos 80 anos do Dr. Armindo Borges (2013). O Pe. Dr. Armindo Borges, natural dos Açores, nascido em 1933, formou-se no Seminário Episcopal de Angra e atuou na então Vila da Praia da Vitória. Extremamente dinâmico, já em 1961 criou um plano cultural e educativo para esta cidade, incluindo o da fundação de um instituto de cultura musical e de uma academia. Nas suas pesquisas, revelou pela primeira vez nomes de compositores açorianos do passado. Estudou no Pontificio Istituto di Musica Sacra em Roma à época do Concílio Vaticano II. É testemunho, assim, de uma das fases mais importantes da história eclesiástica do século XX. Na Alemanha, passou para a Pesquisa e atuou durante anos como pároco da comunidade portuguesa de Colonia. Tornou-se, nessa função, personalidade de central importância dos imigrantes lusófonos na Europa Central, organizando, encontros e festivais. Também vem atuando na comunidade lusófona de Toronto e Missisauga, Canadá. Esteve no Brasil, onde proferiu conferência sôbre tradições do Espirito Santo no Brasil e nos Açores. O número 148 da Revista Brasil-Europa inclui trabalhos inéditos de A. Borges relativos a Évora, hoje já históricos, uma vez que foram escritos ao redor de 1975. Inclui também fotografias históricas relativas ao Seminário de Angra do Heroísmo. Esse significado foi reconhecido em mensagem enviada à A.B.E. pelo Reitor do Seminário, P. Dr. Hélder Miranda Alexandre, que considerou o contributo como precioso no que se refere à instituição.http://revista.brasil-europa.eu/148/Seminario-Angra-do-Heroismo.html



13.04.2014

Espaço Portugal-Brasil: primeiras conferências de pesquisa em Educação Artística e música nos anos 70. O segundo número do corrente ano da Revista Brasil-Europa/Correspondência Euro-Brasileira, com os seus 26 artigos, é uma das mais amplas edições do órgão. Seguindo o escopo do corrente ano de balanços e reajustes pelos 40 anos de atividades na Europa, a atenção é dirigida às primeiras conferências internacionais dedicadas ao espaço luso e brasileiro sob a perspectiva especial dos estudos relativos à música e à Educação Artística que tiveram lugar na Universidade de Colonia a partir de 1975. Três personalidades são particularmente consideradas: o compositor Jorge Peixinho (1940-1995), principal impulsionador do programa luso-brasileiro preparado no Brasil, a Profa. Dra. Maria Augusta A. Barbosa (1913-2013), Presidente Honorária do ISMPS, e o Dr. Armindo Borges (1933-), Vice-Presidente da instituição. A publicação inclui vasta documentação relativamente às interações entre desenvolvimentos e experiências da Educação Artística no Brasil e em Portugal, entre êles um questionário enviado a muitas universidades européias. Esses materiais serviram também a projetos relacionados com o Brasil. Um dos principais objetivos foi o de contribuir à compreensão do modo de pensar e dos procedimentos de M. A. A. Barbosa, de significado para a leitura adequada de sua obra. Esse modo de pensar, que surge como complexo e prolixo, explica-se pela cultura de saber em que se inseriu. Procura-se demonstrar, assim, que a sua tese sôbre Vicentius Lusitanus, se considerada devidamente com os seus anexos, adquire especial relevância para os estudos culturais. As correntes de pensamento próximas às da pesquisadora portuguesa indicam a sobrevivência de posições de autores do passado, em particular alemães, salientando-se a Teoria dos Círculos Culturais. A edição inclui vários artigos relativos ao significado da pesquisa de elos e relações, ou seja, de contextos para a imagem histórica, assim como a dos seus enfoques segundo a posição do pesquisador. http://revista.brasil-europa.eu/148/Luso-Brasileiros-e-Jorge-Peixinho.html



05.04.2014

„Brasil na divisória“/„Campo de jogo Natureza“ como tema do Magazine do WWF de 2014. Como anunciado (Veja notícias anteriores), o WWF dedicou a segunda edição do seu magazine de 2014 à proteção da Natureza no Brasil. Maria Cecilia Wey de Brito, gerente WWF Brasil, expõe, em comentário introdutório que a natureza no Brasil se encontra em grande desafio. A procura de matéria prima aumenta e, com ela a pressão sôbre sistemas ecológicos, áreas de reserva e a legislação brasileira de ambiente. O futebol, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, dirigem a atenção internacional ao Brasil. Esse fato representaria uma chance para mostrar ao mundo como é importante um desenvolvimento sustentável do país com a conservação da diversidade biológica nas florestas do Amazonas, no Pantanal, nas florestas litorâneas e no Cerrado. Por essa razão, desenvolvem-se várias iniciativas, também em cooperações no sentido de lutar contra a questionável reforma do código florestal. A cooperação internacional torna-se necessária, pois os mercados e atores globais co-determinam o destino das florestas. (pág. 3). A matéria central, de título „É verde o futuro do Brasil?“ salienta não apenas os superlativos positivos do Brasil, 24 vezes maior do que a Alemanha, cobrindo quase que a metade da América do Sul, mas também o negativo das enormes dimensões da destruição da natureza, sobretudo no Amazonas e nas matas atlânticas. Críticas são feiras ao atual govêrno e sobretudo a parlamentares e ao lobby agrário. (S. Hahne)






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para comunicados: Contato

coordenação e redação: Centro de Estudos Brasil-Europa da A.B.E.
Direção geral: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo, Universidade de Colonia, Alemanha



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