Brasil-Europa: Notícias atuais da organização de estudos de processos culturais em relações internacionais - A.B.E.

Brasil-Europa
Notícias atuais
Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais
Academia Brasil-Europa (A.B.E.)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (I.S.M.P.S.e.V.)
 
 

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05.05.2018


Noticias de março e abril de 2018


Bad Kissingen. Principal cidade-balneário alemã nos estudos culturais Brasil-Europa. O papel desempenhado por balneários na história das relações internacionais tem sido objeto de estudos em diferentes contextos, tanto no Brasil como na Europa nas últimas décadas. Estâncias de águas foram, até passado relativamente recente, principais centros de encontros de personalidades das política, de intelectuais e artistas. Sobretudo no século XIX e início do XX, foram procuradas também por brasileiros e vários deles levaram impulsos para iniciativas no Brasil.


Estudos contextualizados foram realizados em várias cidades européias, em particular na França, na Alemanha e na República Tcheca, sempre considerando-se em particular o seu significado para o Brasil. Esses trabalhos tiveram continuidade em março de 2018 nas cidade de Bad Kissingen, situada na Baixa-Francônia, Baviera, a mais conhecida estãncia termal da Alemanha.


A cidade destaca-se sob o ponto de vista arquitetônico pelos seus representativos edifícios. Objetivo principal dos estudos foi o de considerar a presença brasileira na história da cidade e, através das personalidades que ali fizeram estação de águas, considerar repercussões de correntes do pensamento e das artes no Brasil.


Bad Kissingen adquire significado sobretudo pela sua intensa vida musical. A orquestra do balneário (Kurorchester Bad Kissing) conta com longa tradição e renome pelos músicos que nela atuaram e pelo nível alcançado. Desenvolve ainda hoje intensas atividades, com contínuas apresentações, atuando por vezes duas ou três vezes por dia nas representativas salas das termas ou dos teatros locais.


Relevante é o significado da orquestra sob a perspectiva dos estudos da músicas ligeira. Estes são de interesse especial para o Brasil, uma vez que no seu repertório encontram-se obras de autores latinos. Pode-se, neste contexto, mencionar composições de José Gomes de Abreu/Zequinha de Abreu (1880-1935), executadas em elaboradas versões orquestrais.


A cidade destaca-se hoje também como centro da prática de instrumentos de percussão. Esta tem o seu centro na Escola de Música Municipal local, dirigida por Thomas Friedrich. Vários músicos ali formados adquiriram renome internacional, tornando-se conhecidos pela criatividade e domínio técnico que marcam as execuções. O tratamento da percussão é amplo, incluindo os mais diversos instrumentos e materiais diversos e palmeados. As elaborações adquirem significado também pela interação de estilos e de práticas rítmicas de diferentes contextos culturais.



Da correspondência


Falecimento da Profa. Dr.Dra. Julieta de Andrade. O Prof. Luís Fernando Soares comunica o falecimento, no dia 15 de janeiro, como resultado de problemas cardíacos, da Profa. Dra. Julieta de Andrade, uma das mais destacadas representantes dos estudos de Folclore e culturais em geral do Brasil. O papel por ela desempenhado na pesquisa pioneira de complexos temáticos e regionais e no desenvolvimento das reflexões teóricas foi de alta relevância  Foi diretora da Escola de Folclore do Museu da Associação Brasileira de Folclore. Entre as suas várias pesquisas, salientam-se aquelas relativas ao Cocho Matogrossense, ao Cururu, ao Santo-Dai-Me no Acre e de indígenas no Amapá, estas últimas como responsável por grupo de pesquisas de projeto internacional sobre as culturas musicais indígenas do Brasil. Tendo participado em várias ocasiões de eventos dedicados a questões culturais brasileiras na Europa, foi membro fundador e do conselho científico da A.B.E. e do I.S.M.P.S..Co-organizou, no Brasil, simpósios e encontros das instituições, nos quais tomaram parte ativa vários pesquisadores formados sob a sua direção. Deixou uma vasta biblioteca, com ca. de 10.000 volumes, para a qual procura-se agora uma universidade com interesse na sua aquisição, sendo desejável que seja mantida na sua integralidade em perpetuação do seu nome. A Revista Brasil-Europa publicará textos que considerarão as suas contribuições para os estudos científico-culturais.


Ir. Miria Therezinha Kolling – um ano de falecimento. A congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Mnaria comunica a realização de uma celebração na Paróquia São José do Belém, no dia 5 de maio de 2018. A seguir, o Coral de São José dos Campos apresentará obras compostas pela musicista.


A A.B E. publicará na Revista Brasil-Europa texto referente à intensa participação da Ir. M. Th. Kolling nos trabalhos internacionais da organização desde a década de 1970. A religiosa, musicista e pesquisadora, realizou estudos de aperfeiçoamento em música sacra na Alemanha, na década de 1980, sob os auspícios da seção de Etnomusicologia do Instituto de Estudos Hinológicos e Etnomusicológicos da organização pontifícia de música sacra CIMS. Foi membro do ISMPS e da ABE. Desenvolveu uma intensa atividade músico-religiosa, marcando a prática de cantos comunitários com inúmeras composições e gravações.




A Biblioteca Real da Bélgica comunicou a realização de recital do violinista canadense Kerson Leong. Apresentando-se com instrumento Guarnerius del Gesù, fabricado em 1730, o musicista aperfeiçoa-se na Chapelle Musicale Reine Élisabeth sob a supervisão do violinista e regente francês Augustin Dumay. O programa consta de obras de  J..S. Bach (1685-1750), Eugène Ysaÿe (1858-1931) e Francisco Tárrega (1852-1909). Deste último, executa os Recuerdos de l’Alhambra em arranjo de Ruggiero Ricci (1918-2012).



Chinese Music as Cross-culture. 21st CHIME International Conference. (Chinese Music and Musical Instruments, 3a conferência de Lisboa). Enio de Souza anuncia a realização de conferência da CHIME- European Foundation for Chinese Music Research – em Lisboa, de 9 a 13 de maio de 2018. O comitê do programa é constituído por Frank Kouwenhoven, François Picard, Helen Rees, Shao Ling e Enio de Souza. O evento realiza-se no Centro Científico e Cultural de Macau, Rua da Junqueira 30, Lisboa. Conta com a cooperação da Universidade Nova de Lisboa/FCSH e do Instituto Confúcio/Universidade de Lisboa.


Lançamento do livro „Instrumentos Musicais Chineses“ de Enio de Souza. No dia 11 de Abnl, o Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa e o Instituto Internacional de Macau promoveram o lançamento da obra na Sala da Expansão Missionária, Edifício das Biblioteca João Paulo II, Palma de Cimna, Lisboa. A publicação foi apresentada pelo Prof. .Dr. Rui Simões.



Mara Publio de Souza Veiga Jardim associa-se como membro correspondente da A.B.E. A pesquisadora é Mestre em Gestão de Patrimônio Cuiltural e realiza trabalhos sobre cidades históricas do Estado de Goiás. É tradutora juramentada e comercial, atuando como intérprete de conferências.


Realização lírica em Belo Horizonte. O Prof. Dr. Mauro Chantal, UFMG, comunica a sua participação na ópera La Traviata, salientando a alta qualidade de sua encenação.


Paulo Cezar Alves Goulart entra em contato com a A.B.E – Música e publicidade. Desde fins da década de 1970 e início da década de 1980 Paulo C. A. Goulart produziu uma série de livros para as coleções da Escola de Folclore, São Paulo. Graduou-se em arquitetura, pela FAU-USP e fêz Mestrado em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Ao longo de 30 anos realizou pesquisas abrangendo áreas diversas. Até 1994 realizou pesquisas estando vinculado a instituições como o Centro Cultural São Paulo e Instituto Geográfico e Cartográfico. A partir dessa data, vem desenvolvendo um trabalho autônomo, com alguns projetos autorais, ou prestando de serviços através da A9 Editora por êle fundada, juntamente ccom a sua esposa, Marisa de Paula Souza. Resultaram dessa atividade empresarial 10 livros, tendo atuado como pesquisador, autor, produtor gráfico e editor.


Entre as pesquisas realizadas, destacam-se três: os livros Música e Propaganda e Partituras Publicitárias Antes do Rádio – por Amilton Godoy, bem como a pesquisa Partituras de Propaganda – Brasil, do século XIX a 1930.


Em Música e Propaganda, edição da A9 Editora, de 2011, aborda as origens e a evolução da música publicitária no Brasil, abrangendo o período que vai de meados do século XIX a 1935, data em que surgiram os jingles comerciais no Brasil, que eram discos gravados especialmente para divulgação de músicas comerciais através do rádio. Realizada a partir do levantamento nos acervos digitais e físicos das principais instituições detentoras de coleções de partituras no Brasil, o principal objetivo foi o de iniciar uma investigação sistemática sobre fontes e mecanismos necessários a uma proposta de inventário de música publicitária, ou seja, daquelas composições cujo título e versos faziam referência a marcas comerciais: nomes de produtos e de estabelecimentos comerciais.

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A partir desse primeiro estudo, elaborou o projeto Partituras de Propaganda – Brasil, do século XIX a 1930, visando participação no Prêmio Funarte de Música, em 2012. Para este projeto a principal fonte consultada foram as próprias partituras. Entre as partituras convencionais publicadas no século XIX e início do século XX, era usual a impressão na última página dos diversos títulos de composições editadas pelo estabelecimento musical. E, através dos títulos das músicas, a partir dos quais pude identificar novas partituras publicitárias, o estudo ampliou o número de composições de interesse para o tema.Em função desses dois trabalhos, o Instituto Cultural ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, por intermédio do seu diretor Geraldo Alonso Filho, convidou-o para escrever e editar o livro Partituras Publicitárias Antes do Rádio – por Amilton Godoy.

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Dando continuidade à pesquisa de fontes, iniciou uma consulta sistemática em jornais do século XIX, por enquanto utilizando apenas os periódicos paulistanos.

Devido às pesquisas realizadas até o momento, foi possível identificar cerca de 350 partituras publicitárias através das quais está sendo possível delinear uma história mais aprofundada e consistente em relação ao que foi exposto no livro Música e Propaganda. Os trabalhos de Paulo C. A. Goulart devem ser mais amplamente divulgados internacionalmente, procurando-se agora meios para possibilitar a realização de conferências suas em encontros na Europa.


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01.03.2018


Noticias de janeiro e fevereiro de 2018


Abertura dos trabalhos de 2018 da A.B.E. e do I.S.M.P.S.. Os „cantores da estrela“ na Alemanha e a festa de Reis nos estudos culturais do Brasil em relações com o Caribe. A festa de Reis no dia 6 de janeiro é marcada na região onde se encontra o centro de estudos da A.B.E. e do I.S.M.P.S. - Reno do Norte - pela tradição dos „Sternsinger“. Apesar de ser uma região sobretudo protestante, as comunidades católicas mantém a tradição. Essa permanência explica-se pela intensidade da veneração dos santos Reis na esfera da Arquidiocese de Colonia, cuja catedral conserva dese 1164 como uma de suas principais preciosidades o relicário dos santos Reis. Tornou-se, assim, no passado, um centro de peregrinações de irradiaçao européia e de veneração dos santos Gaspar, Melquior e Baltasar.


O culto dos santos Reis - e a Epifania nos seus sentidos e significados - são estreitamente vinculados com a história e o presente de Colonia, marcando compreensivelmente os estudos culturais que se desenvolvem nas suas instituições. Foram, assim, de grande significado também para aqueles estudos relacionados com o Brasil desde meados da década de 1970. A prática pode ser estudada em outras regiões da Europa Central, em particular na de Salzburg, onde as fontes já a registram em 1541.


Em 2017, convidados brasileiros da A.B.E. puderam não só visitar o relicário dos santos Reis na catedral de Colonia como também o Convento de Ettal, na Baviera, onde a tradição dos „cantantes da Estrêla“ é documentada por fonte de 1569.


Há porém uma outra explicação para a continuidade da tradição em regiões protestantes. Com a Reforma, as igrejas perderam em várias regiões e países os seus recursos financeiros,   e um dos meios encontrados pelas escolas conventuais foi o envio de suas crianças para a realização de coletas por ocasião das festas de de Reis. Essa prática,assumindo características de obtenção de esmolas, chegou a levar a proibições. Cada vez mais crianças pobres passaram a usar a prática tradicional para a mendicância e ajuda de suprimento de suas famílias. No século XX, houve um redescobrimento e revalorização do uso, utilizando-se as coletas para fins beneficientes, em particular a favor de crianças necessitadas de países extra-europeus, entre elas também para crianças brasileiras. O tema de 2018 foi o do trabalho infantil.


No presente, trata-se nos „Sternsinger“ de um grupo de pessoas que, com três crianças representando os Reis, visitam casas das redondezas de paróquias, realizando coletas. Os reis-crianças trazem os seus atributos - entre outros os receptáculos com incenso, ouro e mirra que levaram como dádivas ao présepio (Mt 2,1). Ao serem recebidas, cantam às portas, recebem guloseimas e dinheiro para o fim a que fazem a coleta e deixam a marca de sua presença escrita com giz no alto das portas ou batentes.


Na visita do corrente ano, lembrou-se mais uma vez da existência de práticas similares das festas de Reis na América Latina, em particular também no Brasil. Lembrou-se que se trata de uma prática de antiga tradição, relacionadas com representações lúdicas medievais e que teve grande significado justamente à época dos Descobrimentos e das primeiras décadas da história missionária e colonial na América Latina do século XVI. A consideração de seus sentidos é de grande significado para a compreensão dos processos culturais então desencadeados. Como vem sendo estudado, dizem respeito a concepções simbólico-antropológicas fundamentais e também simbólico-etnológicas relativas à Ásia, Europa e África. Compreensivelmente, essas concepções marcaram também a linguagem visual de folguedos do Caribe e da América Central, como considerados nos estudos realizados em vários países e territórios da região em fins de 2017. A sua leitura e compreensão, porém, exige a consideração da exegese e da catequese de fins da Idade Média. Vários aspectos dessa discussão são considerados em textos do primeiro número da Revista Brasil-Europa de 2018.


Recepção e jornada festiva - quatro décadas de atuação conjunta de membros da diretoria da A.B.E./I.S.M.P.S.. Em solenidade realizada na Prefeitura de Gummersbach, reuniram-se, no dia 3 de fevereiro, personalidades relacionadas com a diretoria da A.B.E. e do I.S.M.P.S. provenientes de várias regiões da Alemanha. Ao ato seguiu-se recepção e encontro vespertino no Centro de Estudos Brasil-Europa.


Celebrou-se, nesta data, que em 2018 completam-se 40 anos de intensa atuação conjunta de dois membros da diretoria a serviço idealístico dos estudos euro-brasileiros e, em particular, daqueles referentes a processos músico-culturais nos países e comunidades de língua e/ou formação cultural portuguesa. Em alocução festiva, apresentou-se, em grandes linhas, o desenvolvimento histórico de esforços e movimentos voltados a Direitos Humanos, em particular daqueles de minorias das últimas quatro décadas.


Apresentou-se, no encontro na sede das instituições, áudio-visual com imagens desses 40 anos de atividades. Lembrou-se dos elos pessoais e profissionais que possibilitaram a realização de grande número de viagens e ciclos de estudos em diversos países de todos os continentes. Acentuou-se, nessa ocasião, que os trabalhos foram desenvolvidos com recursos particulares, sem pedidos e emprêgo de meios financeiros de órgãos públicos. Considerou-se em particular o ciclo de estudos recentemente realizado em países do Caribe e da América Central e que retomou pesquisas e debates encetados em viagens anteriores à região e que levaram a cursos e seminários.


Esse empreendimento quis salientar a importância concedida aos estudos intermericanos na tradição das instituições e que as inserem em linha de desenvolvimento remontante ao Instituto Interamericano de Musicologia na sua orientação inter- e panamericana representada em Montevideo durante décaas pelo Prof. Dr. Francisco Curt Lange. A viagem a Montevideo em 2016 de membro da diretoria da A.B.E. salientou o significado de instituições culturais uruguaias nos estudos latino-americanos em geral.


Apresentou-se, no encontro, de forma sumária, os principais temas tratados na República Dominicana, St. Kitts and Nevis, assim como em Antigua e Jamaica, e os aspectos relatados no primeiro número da Revista Brasil-Europa de 2018. Ao tratar-se de Jamaica, lembrou-se de Olive Lewin, a „embaixadora da cultura jamaicana“ que, durante décadas, marcou relações jamaicano-brasileiras nos estuos culturais. Neste contexto, lembrou-se das diferenças entre a sua personalidade e aproximação teórica com a de Curt Lange nos trabalhos relacionados com a América Latina há mais de quatro décadas.


Da correspondência


Programa de Recuperação do Trecho Ferroviário Mauá-Fragoso, da E. F. Mauá, a primeira do Brasil, no Município de Magé/RJ. Antonio Pastori, Vice-Presidente no exercício da presidência da AFPF - Associação Fluminense de Preservação Ferroviária, solita assinatura de manifesto pela volta do trem Rio-Petrópolis. Procura alcançar um total de 20 mil apoios para que o assunto seja abordado na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal.


Biblioteca Real da Bélgica. Realizou-se, no dia 23 de fevereiro, concerto de obras esquecidas do século XVIII, trazendo à consciência a importância da via musical vienense do século XVIII nas suas irradiações internacionais. O programa incluiu, ao lado de Joseph Haydn (1732-1809), autores caídos no esquecimento como F. Adam Míča (1745-1811), Paul Wranitzky ((1756-1808) e Georg Druschetzky (1745-1819).


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03.01.2018


Notícias do mês de dezembro de 2017


Balanço das atividades da A.B.E./I.S.M.P.S. de 2017. O trabalho euro-brasileiro de 2017 foi determinado por seis grandes complexos temáticos. Estes foram relatados e comentados nos seis números da revista Brasil-Europa.


Em primeiro lugar, tratou-se de questões de natureza fundamental referentes a processos psico-físicos e mentias nos estudos culturais à luz de desenvolvimentos atuais. A razão desse procedimento residiu na passagem dos 50 anos de publicação da Sémantique Musicale de Alain Daniélou (1907-1994). A obra e o pensamento desse musicólogo, indólogo e filósofo-culturais francês desempenharam um papel importante nas discussões à época do movimento de renovação teórica que levou à fundação a sociedade estudos de processos culturais e do seu departamento de musicologia em São Paulo, em 1968. Trata-se, fundamentalmente, da questão de interações entre aproximações históricas e sistemático-antropológicas de uma pesquisa de processos culturais e de uma musicologia compreendida como ciência condutora. A Sémantique Musicale ofereceu bases para áreas de estudos como Percepção, Comunicação, Psicofisiologia e Sinestesia. O pensamento desse pesquisador surge hoje como de singular atualidade, pois contribuiu a um reconhecimento de fundamentos filosófico-antropológicos de questões relativas aos direitos humanos.


Partindo-se desse reestudo de Alain Daniélou, a atenção voltou-se nos trabalhos de 2017 à problemática do ressurgimento do nacionalismo, do movimento identitário e do pensamento povístico na Europa na crise do presente.


Essas tendências do presente político possuem implicações teórico-culturais e merecem ser considerados em particular sob a perspectiva latino-americana. A história e as concepções culturais nos países da América Latina são marcadas profundamentemente pelo pensamento nacionalista, e questões relativas à identidade cultural dominam hoje os debates. Isso vale sobretudo para a música. Entre os muitos aspectos tratados, salientaram-se aqueles concernentes a dimensões imagológicas de processos culturais, sobretudo daqueles de relevância simbólico-musical.


As relações entre Ocidente e Oriente salientadas pela releitura da obra de Daniélou foram aprofundadas em estudos concernentes a Malaca. Essa antiga conquista portuguesa do século XVI no Sudeste Asiático foi considerada in loco e em estudos de fontes nas suas relações com o Brasil. Como os processos político-culturais da época dos Descobrimentos dizem respeito estreitamente à problemática da expansão islâmica, essa atenção a Malaca adquire hoje uma singular atualidade. Em Malaca há até hoje um grupo populacional que apresenta uma marcante identidade portuguesa, ainda que a língua portuguesa já seja pouco falada. O estudo dessa comunidade trouxe à tona um importante aspecto dos estudos de processos culturais da esfera cultural referenciada segundo a cultura e a língua portuguesas. Tradições, danças e músicas que são consideradas como relitos de um distante passado no sentido de continuidade histórica podem ser resultados de trabalhos missionários mais recentes, em particular daqueles da época do Estado Novo dos anos 30 e 40.


Os estudos da presença portuguesa no mundo insular malaio tiveram prosseguimento de forma especial com a consideração de Timor-Leste nas suas relacões com outras regiões da Indonésia e da Austrália. Se essa presença em Malaca e em outras localidades - até mesmo nos grandes centros de Macau e Goa - pertence em grande parte à história, Timor-Leste mantém-se como país marcado pela língua e pela cultura portuguesas. Uma das preocupações dos estudos foi a de analisar as razões desse fenômeno. Uma particular atenção mereceu o papel desempenhado pelos Dominicanos na história missionária de Timor. Esse estudo já tinha marcado os trabalhos do Instituto de Estudos Hinológicos e Etnomusicológicos de Maria Laach, fundado há 40 anos, e que, em parte, continuam, sob novo signo, nos empreendimentos do I.S.M.P.S..


Um importante complexo temático que marcou os trabalhos de 2017 foi a lembrança do I° Congresso Brasileiro de Musicologia, realizado em São Paulo por motivo do Centenário de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) em 1987. A reconsideração dos trabalhos então realizados para a preparação e a concretização desse evento surgiu como pressuposto para o tratamento da problemática do nacionalismo no presente. Teve-se aqui a possibilidade de recordar e avaliar as tendências do pensamento de vários pesquisadores que atuaram em estreito relacionamento com o I.S.M.P.S.. A problemática do nacionalismo ganhou novas dimensões no corrente ano pelo fato de comemorar-se os 250 anos de nascimento do Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), o grande nome da história da música do Brasil do passado mais remoto. Com isso, as reflexões concentraram-se nas relações entre a linguagem estética do nacionalismo nas suas diferenças com aquelas dos ideais clássicos. As questões que aqui se levantaram foram consideradas sobretudos em trabalhos levados a efeito no Sul da Alemanha e na Áustria. Esses estudos foram favorecidos pela rememoração, em 2017, dos 200 anos da chegada da Arquiduquesa Leopoldina ao Brasil, acompanhada que foi por eruditos e cientistas.


O significado dos ideais clássicos justamente numa fase histórica de formação de Estado independente foi considerado em estudos que relacionaram o Brasil e a Grécia nos seus elos com a Baviera e a Áustria. Esses paralelos entre duas nações que proclamaram a sua independência à mesma época dirigiu a atenção para o Filohelenismo nas suas relações com desenvolvimentos político-culturais em dois diferentes contextos no século XIX. Para a Grécia, o redescobrimento e a revalorização da Antiguidade no sentido de uma suposta continuidade histórica foram de fundamental significado. Também no Brasil, grande foi o interesse pela antiga cultura, literatura e filosofia. Uma particular atenção foi dedicada ao interesse pela obra de Homero no Brasil e à visita de Dom Pedro II a Troia e Micenas, onde então realizava escavações arqueológicas Heinrich Schliemann (1822-1890). Essa visita do imperador brasileiro foi considerada in loco em viagem de estudos em 2017. As relações de outros vultos da história cultural e diplomática grega com a esfera alemã e austríaca e o Brasil trouxe à luz sobretudo o significado da formação humanística e da procura de fundamentos filosóficos de validade a-temporal e independente de contextos em intentos de organização de Estados recentemente emancipados. Esse aspecto da história política e do pensamento, pouco considerado na historiografia por demais marcada por visões nacionalistas, adquire singular atualidade no presente perante o recrudescimento de tendências identitárias e povísticas com as suas consequências para problemas globais, sejam ambientais, sejam relativos à ética e aos Direitos.


Caribe e América Central. Viagens de atualização de conhecimentos e contatos promovidas pela A.B.E.. Grande parte do mês de dezembro de 2017 foi dedicada à realização de viagens de estudos euro-brasileiros a diferentes países e territórios europeus na esfera do Caribe e da América Central. O escopo desse empreendimento foi o de atualizar conhecimentos e tomar conhecimento de desenvolvimentos mais recentes nessa região. Vários dos países já tinham sido visitados em viagens anteriores e considerados em seminários e colóquios. Retomou-se, com esse empreendimento, uma corrente de estudos iniciada em 1977 e que teve um de seus principais momentos na realização do Encontro para a América Latina e o Caribe de projeto do IMC/UNESCO levado a efeito em São Paulo, em 1987. Os próximos números da Revista Brasil-Europa trarão relatos dos encontros e dos estudos realizados.


Gummersbach. Encontro de encerramento do ano de 2017. Apresentação de Maxwell Oliveira. Realizou-se, no dia 29 de dezembro, no Centro de Estudos Brasil-Europa da A.B.E. e o I.S.M.P.S., um encontro de encerramento dos trabalhos da A.B.E. e do I.S.M.P.S. de 2017. Maxwell Oliveira, violonista e compositor brasileiro graduado pela UFMG e radicado na Alemanha, apresentou várias de suas obras, comentando-as. Ofereceu um quadro geral de sua formação e de sua trajetória artística, assim como dos princípios e pensamentos que orientam a sua atividade criadora. Esta ultrapassa esferas do erudito e do popular, relacionando-as. Uma de suas preocupações diz respeito a questões ambientais, o que se manifesta em composição que se refere à tragédia do Rio Doce. A Revista Brasil-Europa publicará matéria mais pormenorizada sobre as atividades e obras.


Gummersbach. Encontro de encerramento do ano de 2017. Conferência sobre museus do Peru de Klaus Jetz. Já se tornou quase que como tradição considerar-se museus de países latino-americanos em encontros de encerramento de atividades da A.B.E./I.S.M.P.S. Em 2016, o romanista e latino-americanista Klaus Jetz apresentou um relato dos museus por êle visitados no Chile e no Uruguai. No corrente ano, as atenções foram voltadas ao Peru. Dedicando-se sobretudo à literatura, à história e à política - nessa ordem de interesses - apresentou alguns dos principais museus do Peru, considerando alguns aspectos de sua orientação e pedagogia museológica. Tendo realizado uma viagem de estudos de várias semanas com Thierry Debois pelo Peru, também membro do círculo administrativo da organização, trouxe vasto material fotográfico e ganhou conhecimentos que serão considerados em publicação latino-americana na Alemanha.









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As páginas eletrônicas da Academia Brasil-Europa/I.S.M.P.S. e.V. deixaram de ser atualizadas em 2018. A publicação regular da Revista Brasil-Europa/Correspondência Euro-Brasileira foi suspensa com o seu número 175. Os textos até agora publicados permanecem disponíveis.

O trabalho científico das instituições continua a ser desenvolvido com a mesma orientação progressista e conservacionista que sempre guiou as suas atividades. Afirma-se o seu escopo de contribuir, através de estudos e da cooperação científica a uma formação de consciência marcada por princípios de proteção do meio ambiente, de defesa dos direitos humanos e da vida animal, de valorização da diversidade cultural, étnica e de gênero, em particular também da cultura indígena e do patrimônio natural. Empreendimentos de pesquisa e colóquios continuam a desenvolver-se na tradição do pensamento humanista e esclarecedor de séculos, um intuito que é visto como de premente significado perante o obscurantismo que se utiliza da religião como justificativa, perante a ignorância, irresponsabilidade e barbárie que levam à trágica destruição do patrimônio natural e cultural. Os trabalhos serão divulgados oportunamente por meios mais adequados do que os atuais.