BRASIL-EUROPA
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Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa (A.B.E.)
e Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa I.S.M.P.S. e.V. (1985)

 
 

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Rêde de correspondentes da organização
Direção geral: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo, Universidade de Colonia


para comunicados: Contato

coordenação e redação: colaboradores do Centro de Estudos Brasil-Europa



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31.03.2013

Pesquisa histórica e antropológica nas Canárias, Economia e estudos euro-brasileiros. Colegio Oficial de Doctores y Licenciados en Filosofía y Letras y Ciencias, Museo de Historia y Antropologia e Real Sociedad Econômica de Amigos del País de Tenerife, La Laguna. Os atuais trabalhos relativos à esfera atlântica da A.B.E. incluiram, com base em estudos preparatórios, a visita de instituições acadêmicas insulares. O objetivo dessas visitas foi o da tomada de conhecimento do estado atual dos conhecimentos e projetos nas diferentes regiões, esperando-se uma intensificação de cooperações. Se o ponto de partida foi o Museo Canario em Las Palmas, que, com as suas coleções, suas publicações e seu arquivo musical surge como o principal centro de estudos canários, particular atenção foi dada às instituições de La Laguna, antiga capital de Tenerife. A razão dessa atenção reside no fato de ser esta a cidade de José de Anchieta SJ, estando assim particularmente relacionada com o Brasil (Veja notícia). Salienta-se ali, entre as instituições acadêmicas, o Colegio Oficial de Doctores y Licenciados en Filosofía y Letras y Ciencias, que promove, entre outros eventos, cursos itinerarios por cidades e lugares históricos das Canárias, agora na sua oitava edição, e que corresponde, assim, sob muitos aspectos, aos procedimentos da A.B.E. como instituição de pós-graduados promotora de ciclos de estudos.


Instituição que merece também particular consideração é o Museo de Historia y Antropología de Tenerife, pelas similaridades na aproximação teórica em relacionar metodologia histórica à arqueológica e empírica. Encontra-se instalado em edifício do século XVI que, por razões familiares de seus antigos proprietários, exemplifica elos com a Itália, em particular no seu portal, testemunho do Maneirismo genovês no mundo insular.


Para os estudos bibliográficos, salienta-se a Biblioteca e o Arquivo da Real Sociedad Econòmica de Amigos del País de Tenerife. Essa tradicional sociedade encontra-se instalada na Casa de los Jesuitas. A Sociedade de Jesus estabeleceu-se em La Laguna em 1639,
quando instituiu-se um colégio em casas cedidas pelo Can. Juan González Boza. Este começou a ser construído em 1733. A sociedade realiza os seus trabalhos em auditório que surge como uma das mais representativas salas de conferências da esfera atlântîca. Entre os temas considerados, tratados em publicações, entre estas no boletim da sociedade, salientaram-se a questão do impacto da crise na economia canária nas suas implicações para o futuro e questões culturais africanas em textos de Antonio-Garcia Ysábal. Segundo Andrés de Souza, Presidente da sociedade, qualquer cidadão preocupado pode ingressar na instituição. O principal escopo da entidade é manter vivo o patrimônio da casa e garantir a sua difusão. Como sociedade mais antiga da ilha, tendo nascida à época da Ilustração para dar resposta às inquietações sociais e sugerir soluções a seus problemas, La Real, como é conhecida popularmente, guarda o fundo documental mais importante das ilhas, que incluem dados sobre a vida civil, religiosa e institucional de La Laguna desde o século XVI. A entidade participa de todas as celebrações da cidade, como a do XII aniversário de sua declaração pela Unesco. O acervo de livros da época da Ilustração é o mais importante das Canárias, assumindo assim particular interesse nas preocupações atuais por crescentes tendências obscurantistas do presente por parte de Estudos Culturais conscientes de estar a serviço do Esclarecimento, como tratado nos ciclos de estudos eurio-brasileiros de 2012 da A.B.E..(http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Indice_138.html)



30.03.2013

Semana Santa nas Canárias à época de Colombo e tradições da „Ilha Colombina“ de la Gomera - do chorar e rir no Brasil e nas Canárias. Nos estudos euro-brasileiros dedicados ao mundo insular atlântico do corrente ano, nos quais a Semana Santa tem recebido particular atenção pelo seu extraordinário significado nas Canárias (Veja notícias), a ilha de La Gomera salienta-se pela intensidade de suas expressões populares tradicionais.


A preocupação que ali se observa quanto à perda de tradições associa-se ao receio de com elas se percam possibilidades de compreensão de expressões que remontem à época do Descobrimento da América e de tradições transmitidas ao continente americano. La Gomera desempenha um significativo papel na história conflitante de encontros entre o europeu e o indígena. Com a conquista espanhola da ilha, em 1404, iniciou-se um período de tensões, escravizações, deslocamentos de indígenas e rebeliões, culminando com o assassinato do conde Hernán Peraza, de negra memória. A estadia de Colombo na ilha antes da viagem de Descobrimento da América é considerada em museus e marca a imagem da cidade. Segundo a tradição, a América foi batizada com água de uma fonte de San Sebastián de la Gomera (Veja notícia).


Entre os edifícios mais antigos da cidade salienta-se a igreja de La Asunción, que conserva várias imagens de valor histórico-cultural e artístico, entre elas muitas referentes ao ciclo da Quaresma e Semana Santa. A atenção é dirigida de entrada à do Senhor morto, mantida em amplo espaço fechado por grades ao lado interno da porta principal. Esse significado do imaginário da Paixão nessa antiga igreja corresponde àquele das solenidades de Semana Santa na ilha. As grandes procissões que se realizam nos seis municípios de la Gomera  são consideradas como principais legados do patrimônio cultural insular. Os pesquisadores locais, a partir da memória de habitantes mais idosos, procuram reconstruir formas de expressão tradicional já desaparecidas. As procissões eram, no passado, diárias: na Segunda-Feira, realizava-se a da Oração no Horto, na Terça-Feira, a da Coluna, na Quarta-Feira a da Jesus carregando a cruz. Hoje, as principais expressões tradicionais se registram na do Calvário, com as suas 14 estações. Partindo de madrugada na Sexta-Feira Santa, realiza-se a Via Crucis em silêncio, sem o acompanhamento instrumental que caracteriza outras procissões insulares.


Estudiosos locais salientam que a Semana Santa de la Gomera se distingue daquelas de outras ilhas ou do continente por não
apresentar excessos de dramaticidade e emocionalidade conhecidos de outras regiões, como em Málaga ou Sevilha. Em La Gomera constatar-se-ia até mesmo uma certa singular alegria na naturalidade da prática das tradições dessa Semana fundamentalmente marcada pela tristeza. Esse aspecto quase que lúdico teria sido no passado ainda muito mais acentuado. Segundo estudiosos locais, havia, por exemplo, o costume de imitar os trovões quando do escurecimentos dos céus à morte de Jesus jogando-se balas de canhão pelas escadas do coro da igreja, balas essas que remontavam a ataques de piratas.


Nos diálogos, salientou-se que também no Brasil houve práticas singulares e reinou uma atmosfera de naturalidade quase que lúdica na prática de tradições nos coros das igrejas durante a Semana Santa. Tem-se conhecimento , por exemplo, que, devido às muitas horas de duração dos ofícios, mantinha-se mesa com café e biscoitos em corredores laterais. Muitos outros aspectos poderiam ser aqui estudados sob a perspectiva de expressões culturais espontâneas. As obras tradicionais do repertório coro-orquestral do passado, conhecidas de cór por cantores e instrumentistas por serem anualmente executadas, proporcionavam oportunidades para improvisações. A interação entre elementos populares e eruditos no acompanhamentos de cunho „seresteiro“ do Canto Gregoriano foi objeto de estudos já na década de 60 do século XX, contribuindo de forma relevante para o questionamento de concepções teóricas dirigidas a esferas do erudito, folclórico e popular e ao direcionamento da atenção a processos. Os diálogos em La Gomera demonstraram que essas características do „rir e chorar“ nas práticas tradicionais de Semana Santa não representaram apenas um fenômeno brasileiro, mas sim era também conhecido das ilhas atlânticas, exigindo assim, estudos segundo perspectivas mais amplas.




29.03.2013

Sexta-Feira Santa nos estudos culturais Canárias/Brasil. Museu de Arte Sacro de Teguise. A cidade de Teguise, antiga capital de Lanzarote, possui, além do seu museu instrumental do Timple (Veja notícia), outro museu de alto significado para os estudos culturais: o Museo de Arte Sacro. Esse museu, também considerado no âmbito do programa euro-brasileiro dedicado ao mundo insular atlântico do corrente ano, foi recentemente instalado na igreja do Convento de San Francisco, única parte que resta do edifício mandado construir por Gonzalo Argote de Molina em 1588. A igreja é hoje monumento arquitetônico pelos seus tetos mudéjares e seus retábulos barrocos. O museu abriga uma grande coleção de objetos religiosos, pinturas, paramentos e imagens provenientes de igrejas da região, em particular das de San Juan de Dios e San Francisco de Paulo.


Este museu, um dos maiores do gênero da esfera atlântica, apresenta-se sobretudo como um centro para estudos de expressões de Semana Santa, período do ano de maior significado na vida religioso-cultural do arquipélago canário, marcada por celebrações litúrgicas, paralitúrgicas e encenações com extraordinária participação popular. O museu conserva obras plásticas de alto valor histórico e artístico, salientando-se aqui aquelas levadas em procissões de Semana Santa, em particular de Sexta-Feira. Destacam-se obras anônimas do século XVIII, entre elas a do Señor Predicador e de Nuestra Señora de los Dolores.


A existência separada dos dois museus de Teguise indicam uma divisão conceitual no tratamento da arte popular e da histórico-artística que constituiu o cerne das reflexões a partir da orientação teórica dirigida a processos da A.B.E.. Considerou-se que aproximações orientadas segundo uma História da Arte compreendida convencionalmente não são suficientes para a consideração adequada do fenômeno cultural que representa a Semana Santa nas ilhas e que surge até mesmo
como pedra angular para os estudos de processos culturais no Atlântico. Trata-se sobretudo de uma questão de leitura atenta e diferenciada de imagens, não apenas no sentido de nelas reconhecer-se mudanças estilísticas, mas sim transformações devidas à ação de diferentes correntes religioso-culturais e a culturas particulares de ordens e irmandades nas suas implicações quanto à percepção do mundo.


Como demonstrado no museu, das imagens pode-se distinguir não apenas mudanças epocais, mas sim aquelas mais sutís derivadas de maior ou menor presença do Franciscanismo predominante ou de outras ordens, assim como de confrarias. As imagens carregadas pelas ruas nas procissões de Semana Santa tornam-se assim objeto de análises de contextos culturais comunitários que passaram e passam por mudanças, apesar do fundamental tradicionalismo. Nos sinais que indicam a vigência de concepções relativas ao esplendor do culto dos primeiros tempos da colonização, ao pêso dado à penitência por missionários do século XVI, ao fomento da comoção e da linguagem de afetos do Barroco, ao sentimentalismo e restauracionismo do século XIX ou às tendências pós-conciliares mais recentes, uma leitura sensível revela diferenças e transformações na compreensão das relações entre culto e cultura e suas implicações. Seria assim, por exemplo, inapropriado estudar a música de banda nas procissões ibéricas, insulares e latino-americanas sem a consideração dos processos culturais que podem ser lidos e analisados nas suas complexas configurações no todo representado.



29.03.2013

Semana Santa no início da missão dos Jesuítas no Brasil. Museu Histórico Martim Afonso e Matriz de São Vicente. Nos diálogos no Museu Martim Afonso, em São Vicente (Veja notícia), a atenção foi dirigida à questão da presença européia antes da chegada de Martim Afonso e o seu possível envolvimento com a escravização indígena. Os processos culturais postos em vigência teriam sido antes não-sistemáticos, marcados pelas expressões culturais tradicionais dos europeus envolvidos. Concomitantemente, tem-se considerado a atuação dos Jesuítas que, dirigida antes àqueles às margens da sociedade, aos pobres e menos privilegiados, tinham que lançar mão, na prática, dos meios e expressões que conheciam da sua própria formação religioso-cultural.


No caso de José de Anchieta, esses pressupostos culturais devem ser procurados sobretudo nas Canárias, então também inserida em processo colonizador de não muitas décadas. Tanto os estudos levados a efeito nas ilhas Canárias como aqueles das fontes jesuíticas trazem à consciência o significado de atos de penitência na formação de meninos e da Semana Santa no contexto do ano religioso. Pela falta de fontes, pouco se conhece de expressões da Semana Santa em São Vicente e que teriam as suas origens nessas primeiras décadas da ação de europeus no Brasil. Imagens tradicionais de procissões, mais recentes, são conservadas em sala lateral da igreja matriz, edifício de 1757, hoje considerada patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT. Essa igreja sucedeu a edifícios mais antigos. A primeira igreja construída por Martim Afonso de Sousa, próxima à praia, foi destruída com uma grande ressaca, em 1542, a segunda, erguida em 1559, foi destruída por piratas.



28.03.2013

Intervenções artísticas de rua e memória: Dimensões internacionais da retirada de segmentos pintados do Muro de Berlim. Intenso debate, acompanhado por demonstrações, desperta no presente a retirada de segmentos de trechos restantes do Muro de Berlim no bairro de Friedrichshain para a realização de projeto imobiliário residencial. Esse muro ao longo da Spree, que constituiu parte do „muro interior“ à época da República Democrática Alemã, apresenta pinturas de artistas de 21 países e que constitui a East-Side-Gallery, considerada como a maior galeria ao ar-livre do mundo. As pinturas surgem como testemunhos das transformações político-culturais européias relacionadas com a queda do muro de Berlim vistas a partir de diferentes pontos de vista e meios de expressão. Entre os artistas, encontra-se o português Joaquim António Gonçalves Borregana (Kim Prisu).  Tendo vivido desde a sua infância em Paris, para onde os seus pais emigraram, esse artista pode ser considerado como representante da comunidade lusófona de migrantes na configuração do muro, agindo no sentido de uma arte franco-portuguesa que dirige o seu olhar a um mundo em constante transformação, à „tribo global“. De sua criação é um painel de nove metros de tema „O povo unido nunca mais será vencido“, pintado em 1990 e renovado em 2009. Juntamente com Joaquim Pereira (Quim P.), formou um grupo de intervenção artística (Les Explorateurs du gris),
posteriormente, criou o Nuklé-Art, também de arte singular e intervenção artística na rua. Em 1994, apresentou o seu trabalho em Lisboa, dois anos depois, regressando a Portugal, passou a expor em várias cidades e instituições. Deu continuidade a um conceito de arte total com o „Mundo dos Inteiros“ (2003), o que compreende diferentes formas de expressão artística, teatro, poesia „Impensamental“ e performances. Recentemente, realizou projetos para obras públicas, entre elas o „Monumento às Culturas Tradicionais“. Em visita à East-Side-Gallery, recordou-se o significado da queda do muro de Berlim para os estudos euro-brasileiros. Esse significado foi considerado em 1990 sob a perspectiva das consequências das transformações políticas da Europa para a organização do trabalho científico e para as reflexões teórico-culturais em geral. (http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM08Index.htm)



28.03.2013

Estatuária da Semana Santa no Brasil e nas Canárias na História das Artes de orientação cultural: o globo do mundo do Cristo del Perdón de La Orotava. A cidade de La Orotava, na ilha de Tenerifa, adquire sob diversos aspectos particular significado para os estudos euro-brasileiros. Sediando a Universidad Europea de Canarias, foi alvo de visita da A.B.E. no âmbito dos trabalhos que se desenvolvem no presente ano nas ilhas atlânticas. La Orotava apresenta na sua história estreitos elos com o mundo de língua portuguesa, uma vez que as bases econômicas para o desenvolvimento da cidade no século XVI foram possibilitadas pela produção de açúcar por portugueses vindos da Madeira. O significado da ilha para os estudos de relações entre a Europa e o continente americano manifesta-se no Mirador de Alexander von Humboldt, que lembra a estadia do cientista e a sua admiração pela beleza natural do Vale de Orotava (Veja notícia). A cidade de La Orotava apresenta também especial interesse para os estudos de tradições populares, sendo conhecida sobretudo pela sua procissão de Corpus Christi com tapetes de flores, areia e serragem, de significado para comparações com práticas similares no Brasil.


Um dos pontos altos do ciclo do ano em La Orotava é a Semana Santa, que se distingue pela dramaticidade de suas expressões, mística e encenação da Morte e Ressurreição. As celebrações de La Orotava, entre elas a do Mandato e a do Santisimo Cristo a la Columa, de Quinta-Feira Santa, trazem à consciência o significado das representações teatrais naturalísticas e da plástica nas expressões de Semana Santa, motivando estudos relativos ao papel de imagens em processos culturais. O patrimônio estatuário local inclui obras de artistas „imagineros“ que são altamente veneradas, entre elas a do Santísimo Cristo del Calvario, de Fernando Estévez de Salas, de 1814 . Particular menção deve ser dada ao Santisimo Cristo Del Perdón, obra em madeira policromada de artista anônimo, atribuída porém a Gabirel da Mata e datada de ca. 1697. É venerada em altar lateral da igreja de Nuestra Señora de la Concepción, remontante nas suas origens a 1498, cujo edifício atual, do século XVIII, apresenta elos com a Catedral de Florença. O motivo do Santo Cristo do Perdão, representando Jesus Cristo cativo, é conhecido em outros exemplos das Canárias, sendo particularmente conhecido o de Santa Cruz de La Palma, obra prima do mencionado escultor de La Orotava. Para a celebração criou-se, em Santa Cruz, o Coral de Voces Graves Santísimo Cristo del Perdón. A veneração em La Orotava é fomentada por uma irmandade específica, a Cofradia del Santísimo Cristo del Perdón y Nuestra Señora de Gracia e que testemunha a intensidade do culto no presente. As imagens de La Orotava manifestam transformações estilísticas, de concepções e expressões através dos tempos e a necessidade de considerações abrangentes e comparativas da estatuária como expressões de processos culturais. A perspectiva convencional da História das Artes necessita aqui ser ampliada através de resultados da pesquisa empírica. A imagem do Cristo del Perdón de La Orotava se distingue pelo globo do mundo com a representação dos continentes aos pés de Cristo manietado.




27.03.2013

A Semana Santa nos seus elos com processos culturais na esfera atlântica - Canárias/Brasil. San Cristóbal de La Laguna (Tenerife). Procissões de Passos, de Enterro, cantos de Verônica, motetos de Passos e outras práticas do período de Domingo de Ramos à Páscoa despertam há muito a atenção de pesquisadores no Brasil. Constituindo em geral a época do ciclo do ano religioso que mais manifesta a guarda de antigas tradições, determina a vida cultural de muitas cidades. Foram justamente observações e participações na Semana Santa da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo ou da Semana Santa de S. João del Rey, Minas Gerais, que promoveram o debate da década de 60 a respeito da necessidade de revisões teóricas nos estudos de relações entre procedimentos históricos e empíricos, de superação de enfoques determinados por esferas culturais do erudito, folclórico e popular e, consequentemente, da necessidade de uma orientação dirigida a processos nos estudos culturais. Deu-se início, assim, à pesquisa sistemática de cantos de Verônica, motetos e outras expressões, temas que passaram a despertar posteriormente a atenção de vários estudiosos. Como constatado em cidades de vários Estados do Brasil, entre outras em Santo Amaro da Purificação, Bahia, não apenas motetos em „estilo antigo“, mas sim obras sacro-musicais para a Semana Santa constituiram cerne da tradição coro-orquestral local e regional, tradicionalizando-se e desempenhando importante papel na identidade cultural de comunidades. Essa tradicionalização de obras por vezes de compositores locais identificáveis do século XIX trouxe à consciência a necessidade de considerações mais aprofundadas da historicidade de expressões culturais da Semana Santa, ou melhor, da sua inserção em processos culturais.


O tradicionalismo que se manifesta na Semana Santa pode favorecer perspectivas que salientam o estático, o que
sempre teria sido, e o significado de expressões a serem mantidas no conjunto de um patrimônio de folclore, prejudicando considerações quanto aos fundamentos, a função e ao papel desempenhado pela Semana Santa no processo de formação cultural do Brasil. Por essa razão, tem-se procurado nas últimas décadas não apenas levantar e analisar contextualmente dados em fontes históricas referentes especificamente ao Brasil em interações com conhecimentos ganhos da pesquisa de campo, mas sim também naquelas de outras regiões do mundo atingidas mais intensamente pelas atividades missionárias, em particular na esfera marcada culturalmente pelos povos ibéricos. Somente uma consideração de contextos globais pode levar à análise adequada de processos históricos.


No âmbito dos atuais estudos voltados aos pressupostos culturais de José de Anchieta (Veja notícias) tem-se considerado em especial a Semana Santa nas ilhas Canárias. Devido ao significado histórico das Canárias na história da conquista, colonização e missionação da esfera atlântica a partir do início do século XV e da extraordinária intensidade das celebrações da Semana Santa em várias de suas cidades, o estudo histórico e empírico de suas práticas contribui de forma fundamental ao estudo do contexto religioso-cultural em que se inseriu Anchieta.


Uma especial atenção deve ser dada à Semana Santa de San Cristóbal de La Laguna, Tenerife, salientada que é pelos habitantes como a mais antiga das Canárias. Ela  conhecida não apenas no mundo insular pela sua grande procissão de Sexta-Feira Santa, com a característica do transporte de imagens em carros - e não aos ombros -, e pela imagem particularmente venerada do Cristo de La Laguna (séc. XV). Essa imagem é levada em procissão especial no dia 14 de setembro, indicando o significado da festa da Elevação da Cruz nas suas relações com a do Descobrimento da Cruz (3 de maio) para os estudos do edifício de concepções e imagens nas suas relações com o ciclo do ano. As reflexões foram encetadas sobretudo no convento franciscano de San Miguel de las Victorias, fundado à época da conquista de Tenerife. Ali pode-se constatar o papel desempenhado pelas muitas irmandades ou confrarias na manufenção de práticas consuetudinárias e representativas da concepção de „escravatura“  e de „resgate“ no sentido teológico-religioso - mas que possui implicações conceituais de grande amplitude -, salientando-se a da Pontifica, Real y Venerable Esclavitud del Santísimo Cristo de La Laguna, remontante às primeiras décadas do século XVI, assim como a Cofraria del Rescate. Relativamente à tradição da Verônica, menciona-se a Cofradia de la Verónica y la Santa Faz.



27.03.2013

CD Piano Luso-Brasileiro a Quatro Mãos: Repertório do séc. XIX e início do séc. XX. O duo Maltese, constituído por mãe e filha, vem-se dedicando à difusão de obras de música brasileira para piano, em especial de música de salão. Em 2000, o Duo realizou um recital na programação „Concertos do Meio-Dia“, no Teatro Municipal de São Paulo, cuja gravação ao vivo é oferecida em CD. A edição inclui composições de Francisco Braga (1868-1945), José Domingues Brandão (1865-1941), Carlos Gomes (1836-1896), Arthur Napoleão (1843-1925) e Leopoldo Miguez (1850-1902). Salienta-se o Poema Sinfônico „O Dia Paraense“, de J. D. Brandão, restaurada a partir de cópia em estado precário.



27.03.2013

CD em memóría de Clélia Ognibene - Música brasileira para piano a quatro mãos. Considerando-se os trabalhos de pesquisa e interpretação de Sylvia Maltese a serviço da revelação e difusão de música brasileira (Veja noticia), deve-se lembrar do Duo Pianístico que formou com Clélia Ognibene e que se apresentou no I° Congresso Brasileiro de Musicologia, em 1987, assim como em outras ocasiões, até 1995. Esta pianista e cravista, falecida em 2000, teve a sua formação com Vitório Mariani, José Kliass e Sebastian Benda, especializando-se na Academia Santa Cecilia, em Roma, com Dante Alderighi e Ferrucio Vigananelo. Participou e.o. da Orquestra de Câmara da Rádio MEC/Rio de Janeiro e da Orquestra da Academia Napolitana de Concertos, assim como da OSUSP. O CD (COSM 01) inclui obras para piano a quatro mãos de Leopoldo Miguéz (1850-1902) (Marche Nupciale op.2, Scena Dramatica op. 8, Prélude a l‘antique op. 25), Alexandre Levy (1864-1892) (En Mer - Poème Musical) e Arthur Napoleão (1843-1924) (Estrella Chilena op. 73, Ballade Romantique op. 63, Première Suite d‘Orchestre op, 62). A produção executiva do CD foi de Hélio Moyses. As obras foram gravadas ao vivo em 1995, no Estúdio 32, em São Paulo.O manuscrito de En Mer, de Alexandre Levy, foi colocado à disposição pelo musicógrafo Arnaldo José Senise, também falecido.



26.03.2013

Lanzarote como exemplo de uma política de configuração responsável da terra - o problema urbanológico e da degradação do meio ambiente na esfera atlântica. 45 anos do Monumento del Campesino. As reflexões concernentes à grande cidade no exemplo de Budapest demonstraram a inserção de princípios de paisagismo urbano e meios de expressão arquitetônica em processos culturais e consideraram ações refletidas de intelectuais, arquitetos e políticos perante problemas sociais na procura de soluções promotoras da qualidade de vida (Veja notícia). Esses estudos relativos a estudos metropolitanos de orientação voltada à processos culturais desenvolvem-se paralelamente àqueles da ocupação desordenada da terra. Esse problema surge como um dos mais graves da atualidade pelas suas irreversíveis consequências e pelas suas implicações quanto à qualidade de vida do homem e configuração responsável do patrimônio natural. Se sobretudo na América Latina constatata-se a expansão caótica de periferias urbanas, as tragédias causadas por assentamentos em terrenos inadequados, as dificuldades e os gastos de instalações de infra-estrutura a posteriori, criticando-se mesmo uma lamentável „favelização“ de imensas regiões que representaram até passado recente riqueza patrimonial de incalculável valor, levanta-se a questão da processualidade ou dos fundamentos sistêmicos dessa situação. Que esse desenvolvimento não aflinge apenas países da América Latina, isso o demonstra a degradação urbano-ambiental que pode ser constatada em ilhas atlânticas. Essa questão foi levantada entre outros casos em Las Palmas de Gran Canaria, cidade que, com as suas construções nos morros ao redor do centro antigo e que demonstram pouca consideração com fatos topográficos, lembra sob esse aspecto situações conhecidas no Brasil. Perante esse desenvolvimento, pode-se avaliar adequadamente a extraordinária obra de César Manrique (1919-1992) em Lanzarote, que procurou salvar a sua terra das graves consequências de empreendimentos descontrolados de especulação imobiliária e de loteamentos a
serviço de interesses econômicos, não só preservando o seu patrimônio natural como configurando-a de forma a torná-la modêlo, sendo hoje procurada pelas suas qualidades estético-ambientais. Engenheiro civil e interessado desde cedo pela natureza insular e por movimentos culturais progressistas, foi artista plástico inserido em correntes renovadoras da arte no universo ibérico, tendo recebido impulsos decisivos nos EUA, e.o. da Pop Art e da arte cinética. Ao retornar a Lanzarote, passou a tratar a própria ilha como obra de arte. Esse seu intento não se resumiu a aplicar algum plano pré-concebido, arbitrariamente imaginado na realidade insular, mas partiu de princípios nascidos da percepção aguçada de processos econômicos e de transformação imobiliária que então se iniciavam. Com o auxílio da política e administração insular, conseguiu que apenas fossem permitidas construções com características adequadas culturalmente, impedindo que se construissem edifícios com mais de dois andares. O cuidado pelo impedimento de uma poluição visual manifestou-se na retirada de reclames das vias públicas. No seu empenho idealista, responsvel e criador, Manrique desenvolveu êle próprio trabalho de conscientização popular. O Monumento del Campesino, levantado em 1968 numa encruzilhada e construído com velhos barris de água de barcos de pescadores pintados de branco, surge como um emblema de uma orientação de responsabilidade social que não dispensa a reflexão ambiental e cultural. Se a expressão artística de Manrique deve ser compreendida no contexto de sua época, os princípios pelos quais guiou a sua atuação permanecem atuais nos seus fundamentos. Por essa razão, deu-se continuidade, com uma renovada visita à Fundação César Manrique e um ato simbólico no Monumento del Campesino aos estudos euro-brasileiros ali anteriormente desenvolvidos no âmbito do programa de análise urbanlógica de orientação cultural da A.B.E. (http://www.arquitetura.brasil-europa.eu/)



25.03.2013

Paisagismo urbano em estudos de arquitetura e urbanismo em contextos internacionais: Budapest e São Paulo. Encerrando os trabalhos euro-brasileiros levados a efeito na capital da Hungria em março do corrente ano (Veja notícias), as atenções foram voltadas a Budapest no contexto geral da história do urbanismo e de processos culturais metropolitanos. Visitada atualmente por crescente número de brasileiros, Budapest distingue-se no rol das grandes cidades européias pelos seus valores paisagísticos e arquitetônico-urbanísticos, fato que se manifesta no fato de ter as suas margens do Danúbio e o seu bairro do Burgo declarados como Patrimônio Cultural do Mundo pela UNESCO. Sem arranha-céus, a cidade mantem a harmonia no seu conjunto, apesar da diversidade estilística de seus edifícios e mesmo da sua composição urbana. O bairro Buda é marcado pelo patrimônio construtivo mais antigo, salientando-se o castelo real; o bairro de Pest, representando desenvolvimentos urbanos do século XIX, possui, na alameda Andrássy, um dos exemplos mais significativos de boulevard que conserva um conjunto praticamente intacto de edifícios da época do Historicismo. Nas reflexões, salientou-se o significado da Europa Central para estudos de arquitetura de orientação cultural, dando-se prosseguimento a estudos euro-brasileiros levados a efeito na República Tcheca (e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Multinacionalismo-na-Europa-Central.html), na Romenia (http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Bucareste-Museu-Aldeias.html) e em outras regiões marcadas por elos com desenvolvimentos centro-europeus da época do Império Austro-Húngaro (http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Alesund-Jugendstil.html).


Considerou-se, aqui, com base na literatura especifíca, a situação multinacional, pluricultural e cosmopolita do clima da Dupla Monarquia como pressuposto para visões urbanas e para a representatividade de cidades, e as suas tensões culturais internas que se manifestaram na arquitetura. Budapest oferece aqui um exemplo excepcional de soluções encontradas para a topografia urbana e arquitetura de interior de cidade grande. Elos entre os diversos estilos e as diferenças culturais e de língua entre os grupos populacionais foram considerados sob a perspectiva de relações similares de pluralismo a serem consideradas em situações brasileiras, em particular em São Paulo.


Um grande concurso internacional, em 1871, forneceu as bases para o desenvolvimento urbano e este passou a ser modêlo com o seu sistema de ruas radiais e anéis, nele integrando ruas mais antigas. Com o advento de transporte coletivo em maiores dimensões, colocou-se o problema do não prejuízo das qualidades estéticas e de vida da cidade, optando-se pela construção da primeira linha de metropolitano subterrâneo do continente. Diferentemente de Londres, onde empregou-se o vapor, o metropolitano de Budapest foi o primeiro elétrico. Em grande parte conservam-se estações e instalações dessa linha, hoje de interesse histórico-artístico e cultural. O projeto da construção do grande anel, paralelo ao pequeno anel, surgido em 1871, realizado no decorrer de décadas, levou à construção de novas pontes. Também aqui pode-se estabelecer paralelos com planos diretores de São Paulo do passado.

Os edifícios surgidos ao redor das pontes demonstram a diversidade estilística da passagem do século. Entre outros, salientam-se em Budapest edifícios no estilo Beaux-Arts de  Ödön Lechner, iniciador da moderna arquitetura húngara. Procurando impulsos na arquitetura da Índia, na qual reconhecia similaridades culturais com a Hungria, a sua obra, em particular o Museu e a Escola de Artesanato, surge como significativa quanto a elos com culturas extra-européias na arquitetura da Europa. Outro arquiteto, István Medgyaszay, salientou-se pelo seu interesse antropológico pelas origens do povo húngaro, que também o levou à Índia. Uma geração mais jovem procurou, a partir de 1905, impulsos na arquitetura neoromânica dos EUA e na neo-camponesa medieval da Finlândia. Ter-se-ia, assim, procurado a criação de um ambiente urbano fundamentado em concepções tradicionais de valores, o que se manifestou numa política construtiva de bairros populares e escolas no intuito de transportar situações de aldeias à cidade grande e, assim, contribuir à unidade da nação e à superação da distância entre a cidade e o campo. Essa aspiração antes conservadora distinguia-se daquelas que se orientavam no Sezession de Viena, no Art Nouveu belga e no movimento Arts-and-Crafts inglês. Os estudos de Budapest oferecem assim subsídios para análises de relações entre a arquitetura e os estudos culturais relacionados com questões de identidade nacional.



25.03.2013

Revelações e difusão de música brasileira para piano. A obra de pesquisa e interpretação de Sylvia Maltese I: Encontros com a Música de São Paulo. A pianista e pesquisadora Sylvia Maltese vem desenvolvendo há anos esforços de levantamento de obras de compositores brasileiros para piano, em particular daqueles que nasceram ou atuaram em São Paulo. Filha da pianista Ida Maltese, estudou também com Dinorá de Carvalho, José Kliass, Cláudio de Brito e Anna Stella Schic. Apresentou-se como solista em vários concertos e em duos de piano, e.o. com Marlys Lopes Gatto, Clélia Ognibene, Paola Tarditi e Joel Bello Soares. O seu projeto de CD Encontros com a Música de São Paulo- Compositores Paulistas (SM 1012) foi realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura, Programa de Ação Cultural de 2012.  Inclui obras de Carlos Gomes, Zequinha de Abreu, Alexandre Levy, Luiz Levy, Camargo Guarnieri, Clorinda Rosato, Angelo Camin, Kilza Setti, Almeida Prado, Nilson Lombardi, Osvaldo Lacerda, Adelaide Pereira da Silva, Sergio Vasconcellos-Correa, Sandra Abrão, Silvia de Lucca. A gravação é acompanhada por um caderno com textos em português e inglês.



24.03.2013

Húngaros nos Descobrimentos e Cristianização das Américas - Hungria/Brasil 2013. Meditações na caverna da colina de Gellèrt (gruta de S.Ivan). Os trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos em Budapest (Veja notícias) incluiram uma sessão de meditação sobre os fundamentos históricos e culturais das relações entre a Hungria e o continente americano na gruta da colina de Gellèrt. Dessa cova avista-se Pest, do outro lado do Danúbio, uma posição simbólica acentuada monumento erigido à sua frente. A colina rochosa possuiu desde remotas eras significados numinosos que se expressam em diferentes narrativas. Relacionou-se também com águas virtuosas (Veja notícia sobre St. Isabel da Hungria e o Brasil), uma tradição que ainda hoje contribui à imagem do famoso balneário Gellèrt que se encontra defronte, a seu lado. Essa tradição de águas curativas relaciona-se com a história de St. Ivan, religioso que procurou o ermo local para a sua vida contemplativa. Essa antiga tradição associada a concepções marianas é hoje encoberta por acontecimentos mais recentes relacionados com os elos criados com a gruta de Lourdes, as construções e reformas dos anos 20 do século XX por Paulinos vindos da Polonia, o uso do espaço durante a Guerra, repressões durante o período comunista e a sua reabertura na década de 90. Reconscentizar-se porém da antiga tradição contemplativa surge como pré-condição para análises de fundamentos de edifícios culturais e contextualizações em estudos referentes à atuação de Paulinos húngaros nos Descobrimentos e na missionação das Américas. A Ordem Paulina (Ordo Sancti Pauli Primi Eremitae) que retornou do seu banimento da época josefina (Joseph II, 1741-1790), revitalizando a gruta como local de culto, remonta ao século XIII, quando foi fundada por Eusebio de Estrigonia em seguimento aos ideais eremitas de São Paulo de Tebas (228-342). Este religioso, juntamente com Sto Antonio Abade, permaneceu na linguagem das imagens vinculado a locais ermos e rochas. Passando a viver segundo a regra de S. Agostinho, a ordem monacal expandiu-se no decorrer dos séculos, mantendo-se porém estreitamente vinculada na sua tradição histórica e identidade com a Hungria. Lembrou-se que, nos trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos em Montreal/Canada, tratou-se da representação de viagens de Colombo
às Américas acompanhado por um monges paulinos. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/128/O-visionario-na-America.html) Na  cultura específica ou espiritualidade dos monges paulinos devem ser procuradas as razões de terem sido encarregados da Cristianização dos indígenas pela rainha Isabel I, „A Católica“ (1451-1504). Também nas Américas teriam os Paulinos húngaros procurado locais para a vida religiosa similares àqueles da Hungria. Estudos histórico-arqueológicos revelam em muros de cavidades traços de escrita pré-cristã de húngaros e essa grafia encontra-se na correspondência e mapas relativos às Américas. Documentos de arquivos ibéricos transmitem nomes e indicam a ação de grande número de monges no Novo Mundo. Discutiu-se, na ocasião, um papel que teriam desempenhado os Paulinos na divisão do mundo descoberto e a ser descoberto entre as esferas de interesses da Espanha e de Portugal sob Alexandre VI (1431-1503). Pouco tem-se considerado os elos entre a presença dos primeiros religiosos nas Américas com a vida ascética e contemplativa, com a procura de locais afastados, florestas e cavidades, um fato que abre novas perspectivas para o estudo da história missionária das Américas, por demais fixada na atuação de outras ordens, em particular dos Jesuítas.



23.03.2013

Hino nacional e Ópera nacional em paralelos Hungria/Brasil: Erkel Ferenc (1810-1893). No âmbito dos trabalhos desenvolvidos pelo ISMPS em Budapest (Veja notícias) considerou-se que no estudo de processos músico-culturais em que se inserem o Brasil e a Hungria o século XIX merece particular atenção pelos paralelos que possibilita entre desenvolvimentos políticos e musicais das duas nações. Ocasião para essas reflexões foi o feriado nacional húngaro de 15 de março, quando, desde o ano 2000, é comemorado a Revolução liberal de 1848.  Esse movimento levou à proclamação da independência da Hungria (1849), a seguir violentamente abolida. A história húngara ficou marcada por essa tentativa de libertação  do sistema repressivo sob o Príncipe K. W. K. L. von Metternich (1773-1859), o que traz à consciência o papel desempenhado pela Restauração Européia também no Brasil. Os elos entre as aspirações liberais e de independência nacional na Europa Central e suas expressões culturais, em particular no movimento a favor de uma ópera nacional chama a atenção para a necessidade de considerações mais diferenciadas de inserções políticas de desenvolvimentos brasileiros de criação de uma ópera nacional. Compositores que passaram a ser considerados no século XX anacronicamente como representantes de uma época encerrada, cujas obras não despertariam maior interesse por não apresentar de forma mais manifesta características de fases posteriores do nacionalismo não são considerados adequadamente no contexto político-cultural de sua época. Justamente compositores que mais estreitamente se vincularam a movimentos progressistas passaram a ser considerados por vezes e paradoxalmente como ícones de conservadorismo e da reação. Os hinos nacionais da Hungria e do Brasil, considerados entre aqueles de maior qualidade composicional e histórico-cultural do globo, são provenientes do século marcado por esse campo de tensões. O da Hungria é de autoria de Erkel Ferenc (1810-1893), o principal criador da Ópera Nacional. Na apresentação da sua obra Bánk Ban nio Teatro de Budapest por ocasião do feriado nacional do corrente ano, esta foi precedida pelo seu Himnusz, entoado por toda a platéia. Seria de esperar que justamente um país como a Hungria, que possuiu no século XX como poucos outros compositores que se dedicaram ao emprêgo de elementos do folclore nas suas obras, já não mais reconhecesse o significado para a identidade nacional de uma ópera do século XIX
que manifesta diferentes impulsos estéticos. Erkel Ferenc, pouco conhecido fora da esfera húngara, merece por diversos motivos a atenção de uma musicologia histórica de orientação cultural e.o. por ser êle próprio originado de meio de migração dos suábios do Danúbio. O ISMPS e a ABE deram continuidade, assim, na Hungria, a trabalhos anteriores dedicados ao nacional na criação musical e suas inserções em contextos internacionais levados a efeito em regiões da antiga Dupla Monarquia, na República Tcheca (http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Smetana-consciencia-politica.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Dvorak-posicao-no-cenario-politico.html) e nas regiões alemãs da Romenia (e.o. http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Minorias-Educacao.html).



23.03.2013

Hungria, Romenia e Brasil - Sinti e Roma. Do cigano nos estudos de processos músico-culturais em relações inter-e transnacionais. Um dos complexos temáticos considerados durante a visita do ISMPS ao Museu de História da Música do Instituto de Musicologia do Centro de Pesquisas em Humanidades da Academia de Ciências da Hungria (Veja notícías) foi o da música de ciganos. A Hungria surge como país particularmente adequado para esses estudos, bastando lembrar o fascínio de Franz Liszt  (1811-1886 ) pela música dos Roma húngaros e o debate por vezes polêmico a respeito de diferenciações entre a cultura musical dos Roma e a „música nacional húngara“. Consequentemente, as reflexões atuais devem partir de esforços de superação de terminologia e concepções discriminatórias relativamente aos Sinti e Roma. O estudo especifício na musicologia reflete a problemática atual dessa área de estudos. Tanto as convencionais perspectivas da Etnomusicologia e aquela da História da Música delimitada geograficamente à Europa não possibilitam análises adequadas, evidenciando-se aqui a necessidade de uma reorientação culturológica da Musicologia através de um direcionamento da atenção a processos culturais em relações internacionais, como vem sendo defendido pelo ISMPS na tradição de um desenvolvimento iniciado no Brasil em 1968. A música „cigana“ evidencia interrelações entre o Oriente e o Ocidente, uma problemática que constituiu o cerne das preocupações do grupo de intelectuais e artistas que levou à constituição da academia de renovação artístico-cultural de 1919 sob a liderança de Martin Braunwieser (1901-1991) e, portanto, da tradição a que se vinculam os atuais estudos euro-brasileiros da A.B.E..Nas reflexões, considerou-se que a atenção voltada às relações Oriente/Ocidente deve ser ampliada com estudos mais aprofundados e diferenciados das Américas, em especial do Brasil. Partiu-se, aqui, de uma releitura atenta e crítica do capítulo „Quadrilhas de Ciganos“ de Factos e Memorias de Mello Moraes Filho (Rio de Janeiro: Garnier 1904,95-103). Nesse texto, encontra-se uma referência à prática musical de ciganos e mesmo o registro de versos cantados daqueles que o autor designa
como „menestreis e as Ruthes boehemias que carpem as nostalgias d‘alma nas solidões ignoradas de suas tristezas que não findam". (op.cit.,100) Na exposição do museu húngaro, a partir de gravuras do século XVIII, fotografias e instrumentos tradicionais, demonstra-se a mobilidade de instrumentistas entre regiões e classes sociais; embora fossem aceitos para atuar em esferas mais privilegiadas da prática musical por falta de músicos, continuaram a ser desqualificados socialmente. A exposição traz à consciência que a historicidade da cultura musical de ciganos, sendo questionável partir-se de qualificações e categorizações de música caracteristicamente cigana ou de noções essencialístas. Ela deve ser compreendida nas suas inserções em processos culturais que atravessaram fronteiras regionais e mesmo nacionais. Sistematizações dos instrumentos utilizados ocorreram nos séculos XVIII e XIX. Em geral, ajuntou-se ao primeiro violino um segundo e terceiro prímás para a condução, acompanhado por violas, sendo o acompanhamento feito por um violoncelo e um contrabaixo. Frequentemente incluiam esses grupos um clarinete e um dulcimer percutido. Como também considerado nos estudos euro-brasileiros desenvolvidos na Transilvânia e na Bukovina em 2011 (Veja e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Constantin-Brailoiu.html;http://www.revista.brasil-europa.eu/134/George-Enescu.html), os grupos dessa região constavam de três músicos, denotando uma estrutura básica de violino condutor, viola e violoncelo ou contrabaixo. A exposição lembra que o instrumento característico da Transilvânia Central é a viola de três cordas. Uma atenção particular é dada à participação de músicos ciganos em práticas musicais de outros grupos populacionais. Nos conjuntos denominados de Tambura, esses músicos ciganos cultivavam um repertório pluri-inter- ou transnacional, com peças das diferentes nações em que transitavam, estabelecendo relações entre esferas húngaras, alemãs, sérbias e croácias. Esses grupos de Tambura da Transdanúbia incluiam inicialmente de três a 8 participantes, coexistia com grupos propriamente ciganos em época marcada pelo florescimento de bandas de instrumentos de sopro e experimentou um aumento de participantes, chegando a constituir grupos de 15 a 20 membros. Quanto a esses grupos de instrumentos de sôpro, com ca. de 6 a 8 membros, que se desenvolveram mais cedo e mais intensamente na Bukovina do que na Transilvânia, a exposição salienta que se diferenciavam socialmente dos demais conjuntos, constituindo expressão sobretudo da classe média. Os vários instrumentos musicais de corda expostos ofereceram subsídios à consideração de outras contextualizações culturais de questões organológicas tratadas em fevereiro do corrente ano na Casa-Museo del Timple em Teguise, Lanzarote, quando a atenção foi voltada sobretudo às relações entre o Timple e outros instrumentos afins usados na América Latina, entre êles o Cavaquinho. (Veja notícia)



22.03.2013

László Lajtha (1892-1963): 40 anos de morte. Etnomusicologia, Educação Musical, Composição e Diplomacia Cultural em cotejos com o Brasil. Cada vez mais frequentemente surge o nome de Lásló Lajtha ao lado do de H. Villa-Lobos (1887-1959) em programas de concertos na Europa. As suas composições, textos e o seu nome são conhecidos sobretudo na França, tendo sido silenciados na própria Hungria à época comunista por razões políticas. No Brasil, se nomes de Bártok e Kódaly são amplamente conhecidos e frequentemente considerados nas reflexões voltadas ao relacionamento entre a pesquisa folclórica e a pedagogia musical desde a introdução da Etnomusicologia nos cursos de Licenciatura em Educação Musical e Artística em São Paulo, em 1972, a insuficiente consideração de László Lajtha foi apontada por Desidério Aytai (1905-1998), antropólogo húngaro radicado no Brasil, em vários encontros do ISMPS. A necessidade de maior consideração de László Lajtha também foi salientada por Luís Heitor Correa de Azevedo (1905-1992) por ocasião da fundação do ISMPS, em 1985. Tinha com êle travado conhecimento nos anos de após-Guerra no contexto da reorganização internacional das relações na área de música, da vida musical e da pesquisa. László Lajtha era então diretor musical da Rádio Húngara, do Museu Etnográfico e do Conservatório Nacional de Budapest, tendo passado o ano de 1947 em Londres. Era conhecido internacionalmente pelas suas pesquisas de música popular tradicional, sobretudo em regiões que não tinham sido consideradas por Bártok. Como Professor de pesquisa de música popular tradicional na Escola Superior de Música de Budapest, marcou desde então a formação de muitos pesquisadores. Correspondendo à revalorização de László Lajtha, o Museu de História da Música do Instituto de Musicologia, RCH, da Academia Húngara de Ciências (Veja notícia) a êle dedicou uma Sala Memorial com objetos pessoais usados por Lajtha, móveis e o seu piano Bösendorfer, reconstruindo o seu apartamento em Budapest e oferecendo
uma visão de um dia de trabalho do compositor e pesquisador. Em sala lateral, uma exposição trata das várias esferas de suas atividades, apresentando também manuscritos de composições e textos. No encontro do ISMPS, foram considerados os contextos que relacionam as atividades de Lajtha com o Brasil, a situação da discussão das relações entre a Etnomusicologia, a Educação Musical e a Criação Musical, as suas implicações político-culturais e a posição que vem sendo defendida pelo ISMPS e pela ABE sobre a necessidade de uma orientação culturológica da Educação Musical. Essa orientação inclui o  estudo de procedimentos utilizados por agentes culturais no passado e mecanismos postos em ação em processos formativos  no âmbito da colonização e cristianização de regiões extra-européias. As reflexões em Budapest foram preparadas pelos trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos em 2011 na Transilvânia, uma das regiões mais consideradas na pesquisa de campo de László Lajtha. (Veja e.o. http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Universidade-Klausenburg.html)



21.03.2013

Budapest: „Bartók The Folklorist“ - "Saudades do Brasil" no contexto de sua vida. No âmbito da visita do ISMPS (Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa http://www.ismps.de/) ao Museu de História da Música do Instituto de Musicologia, Centro de Pesquisas em Humanidades da Academia da Ciência da Hungria (Veja notícía), considerou-se com particular atenção a exposição que ali se apresenta de título „Bartók The Folklorist“. Essa exposição adquire relevância internacional pela quantidade de documentos escritos e fotografias originais, raras, manuscritos de composições e textos, cartas das coleções do Museum de História da Música do Instituto de Musicologia, dos Arquivos Bartók e dos Arquivos Kodály. A exposição desperta particular atenção sob a perspectiva dos Estudos Culturais por ser dedicada explicitamente a Bartók como Folclorista, não como compositor ou pedagogo. Como salientado pelos seus responsáveis, o termo „folclorista“ não cobre todas as dimensões do complexo estilístico-musical de Béla Bartók como criador, põe, porém, em relêvo alguns dos mais significativos aspectos da sua arte e de sua grande obra intelectual. Esse significado se manifesta em obras como The Miraculous Mandarin (1918-24) e, entre outras, na série For Children (1908-11, 1943) e Mikrokosmos (1932-39), sendo sobretudo esta última série largamente difundida no ensino do piano no Brasil. Para além da recepção da sua obra no Brasil, considerou-se, na exposição, os elos histórico-contextuais que unem Bela Bartók (1881-1945) ao Brasil através da formação e vida de Martin Braunwieser (1901-1991) e, assim, da tradição a que se vincula a A.B.E.. Os programas originais expostos de concertos relacionados com Bartók dos anos imediatamente posteriores à Primeira Guerra nos países que haviam feito parte da antiga Dupla Monarquia Austro-Húngara evidenciam, na sua impressão visual e no seu conteúdo, estreitas similaridades com aqueles da academia de renovação artístico-cultural liderada por Braunwieser. Neles constata-se a participação de personalidades que também aqui desempenharam papel fundamental, entre êles Bernhard Paumgartner (1887-1971)  e Felix Petyrek (1892-1951). Especial atenção merece o fato de também neles se constatar, em concerto dedicado à vida musical
internacional, a presença de „Saudades do Brasil“ de Darius Milhaud (1892-1974), obra que tornou-se emblema do grupo do qual participava Braunwieser, sempre executada em concertos ao lado de composições suas em países centro-europeus, balcânicos, na Grécia e, após a sua emigração, no Brasil.(http://www.revista.brasil-europa.eu/107/Dornach-Saudades-do-Brasil.htm)



20.03.2013

Instrumentos „Folk-musicais“ na Hungria e a pesquisa organológica relacionada com o Brasil. Na visita do ISMPS (Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa http://www.ismps.de/) ao Museu de História da Música do Instituto de Musicologia, Centro de Pesquisas em Humanidades da Academia da Ciência da Hungria (Veja notícía), deu-se particular atenção à exposição intitulada „Folk Instruments in Hungry“ e que apresenta instrumentos da coleção do instituto com outros emprestados do Museu de Etnografia e do Museu de História Militar de Budapest. O escopo da exposição não foi apenas o de mostrar instrumentos, mas sim o de oferecer um panorama histórico da cultura organológica de sociedades tradicionais. Nesse sentido, os seus responsáveis tiveram a intenção de seguir um caminho distinto daquele de outras exposições de instrumentos. Os exemplares foram escolhidos com o sentido de ilustrar o processo através do qual instrumentos simples, de feitura doméstica, foram substituidos no decorrer dos tempos por outros de qualidade superior, de artesãos e, posteriormente, da indústria manufatureira. Outro aspecto salientado foi aquele da substituição de instrumentos tradicionais por bandas de sôpro e conjuntos de cordas nas suas relações com as necessidades musicais de um campesinato crescentemente urbanizado. A contextualização histórica dos instrumentos foi possibilitada por reproduções de gravuras do século XVIII e fotografias etnográficas do início do século XX. Na visita, salientou-se que a orientação teórico-cultural do ISMPS/A.B.E. diferencia-se dessa aproximação teórica da exposição do Instituto de Musicologia de Budapest. Uma visão evolutiva do mais simples ao mais elaborado, do emprêgo de instrumentos da tradição popular para a ilustração de um desenvolvimento histórico não é suficiente para uma pesquisa musicológica orientada culturalmente. Não é suficiente nem sob o aspecto das áreas de um Folclore Musical e da Etnomusicologia preocupadas com a renovação teórica e que se conscientizam da necessidade de consideração da perspectiva histórica, nem de uma História da Música aberta aos resultados da pesquisa empírica. A aproximação teórica euro-brasileira remontante a centro de pesquisas em musicologia fundado em São Paulo, em 1968, e que tem orientado em muitos casos a implantação de uma Musicologia de orientação teórico-cultural na Europa, caracteriza-se antes pela análise de sentidos de instrumentos tradicionais nas suas relações com um edifício de ordenação de concepções e imagens do mundo e do homem de remotas proveniências, assim como de suas transformações no decorrer dos séculos e suas vigências na atualidade. Os instrumentos
da tradição músico-popular não surgem assim como exemplos de um passado, como simples objetos ilustrativos de uma evolução, mas sim como verdadeiros monumentos culturais, como preciosos objetos repletos de sentidos que abrem portas para análises de processos de amplas dimensões. Para elucidar as possibilidades dessa aproximação, escolheram-se as gaitas de foles ali expostas e que se apresentam como exemplares de extraordinário valor desse instrumento. Essas gaitas apresentam configurações em formas de cabeça de homens e de animais caprinos que vêm de encontro ao que se conhece da simbologia da Idade Média transmitida aos países alcançados pela expansão européia à época dos Descobrimentos e que relacionam o instrumento com concepções antropológicas. São essas concepções que permitem compreender o uso do instrumento em determinados contextos culturais, sobretudo nos seus elos com festas do ciclo do ano, assim como a permanência de características da música por êle produzida mesmo em contextos onde êle já não surge ou que tenha sido substituído por outros instrumentos. É essa aproximação que permite assim analisar culturalmente muitas expressões musicais registráveis no presente como indicativos de permanência subliminar de concepções do mundo e do homem e que devem ser elucidadas por Estudos Culturais que se compreendem a serviço do Esclarecimento. Procurou-se, assim, na exposição húngara, dar-se continuidade na Europa Central aos debates desenvolvidos em outras ocasiões, por último no contexto britânico e suas extensões no continente americano. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Tradicionalismo-escoces.html)



19.03.2013

Museu de História da Música de Budapest visitado pelo ISMPS: Instrumentos na Hungria sob a perspectiva do mundo de língua portuguesa. O Museu de História da Música do Instituto de Musicologia do Centro de Pesquisas em Humanidades da Academia Húngara de Ciências apresenta, em exposição de título „Instrumentos Musicais na Hungria de meados do século XVIII à segunda década do século XX“ uma seleção de objetos de suas coleções. De forma cronológica, o visitante é levado a observar a mudança e o desenvolvimento de instrumentos, dando-se particular atenção à manufatura organológica na Hungria. Relacionadas com os instrumentos, apresentam-se obras da Biblioteca do Instituto de Musicologia assim como uma coleção de obras de arte do Museu Nacional, da Galeria Nacional, do Museu de História de Budapeste e do Banco Nacional da Hungria, possibilitando a consideração contextualizada dos instrumentos. O museu apresenta exemplares relevantes de instrumentos importados de outros países europeus e que também foram exportados ao Brasil, salientando-se, aqui, pianos ingleses e franceses. Menção especial merece uma exposição de medalhas e placas das coleções do museu. A arte das medalhas floresceu na passagem do século XIX ao XX, intensificando-se e diferenciando-se tematicamente. Representações em medalhas e placas comemorativas de festivais corais e sociedades musicais servem hoje a estudos de orientação cultural. Pela qualidade dos objetos apresentados e pela fundamentação musicológica da
exposição, o museu pode ser considerado como modelar e um dos mais relevantes do gênero na Europa.



18.03.2013

Budapest. Estudos Hungria--Brasil 2013, I: Metrópole européia das termas nos seus elos com o Brasil. No âmbito do programa Hungria-Brasil da A.B.E. (Veja http://www.brasil-europa.eu/Paises/Hungria.html) realizou-se, em março de 2013, um ciclo de atualização de estudos culturais euro-brasileiros em Budapest. Esse ciclo seguiu-se àquele levado a efeito dem fevereiro do corrente ano em cidades do Sul de Minas Gerais e que teve como objetivo a cultura hidromineral de várias cidades dessa região (Veja notícia). Se houve, no Sul de Minas, o plano de fazer com que a cidade de Águas Virtuosas (Lambari), tornasse um dia capital de um Estado, já havia, na Europa, em Budapest, um balneário termal que era capital de um reino e uma metropole que experimentava, no século XIX, extraordinárío desenvolvimento. Um dos principais aspectos considerados disse respeito ao complexo de sentidos das águas a partir da capela dedicada a Santa Isabel da Hungria  em Caxambu por promessa da Princesa Isabel pela concepção de herdeiros ao trono (Veja notícia e foto). Nas reflexões em Minas Gerais, considerou-se que essa santa, nascida na Hungria mas que viveu e atuou grande parte de sua vida na Alemanha, é conhecida por Sta. Isabel da Turíngia, onde também o seu culto é relacionado com fontes e águas. Estudos mais aprofundados, porém, remetem a atenção à história húngara e ao papel nela desempenhado pelas águas. Se os balneários europeus, apesar de seu significado na vida cultural internacional do século XIX são antes cidades de menores dimensões, Budapest, no Danúbio, é uma metrópole de fontes, marcada por suas muitas termas em edifícios de representativa arquitetura. Na região de Buda, uma cidade de nome „Águas curativas“ (Felhéviz) já é mencionada em documento do século XII. A fonte de Isabel situa-se no monte Gellert, onde ainda hoje há famosas termas. A consideração das dimensões da cultura das águas na região dirige a atenção à Antiguidade tardia, quando já existiam no então povoado romano de Aquincum numerosas termas. Essa antiga cultura de águas passou por transformações de sentidos com a Cristianização, e é nesse contexto que deve ser considerada a imagem da água nas narrativas de Sta. Isabel e que tiveram repercussão no Brasil. A ocupação turca da cidade levou a novos desenvolvimentos na função social das casas de banho, o que teria impulsionado a transformação das termas em pontos de encontro e intercâmbio de
idéias. Nesse sentido, ter-se-ia no extraordinário desenvolvimento dos balneários europeus do século XIX uma expressão da influência oriental no Ocidente, o que, então explicaria a frequência de motivos orientalizantes no historismo tardio das edificações. O interesse de Pedro II° por questões de ciêncîas e arqueologia era conhecido em Budapest no século XIX, levando a que o professor universitário József von Lenhossek (1818-1888) a êle enviasse as suas obras.em 1878. Devido a esses elos, o ciclo de estudos, ultrapassando a sua motivação inicial, dedicou-se à consideração de contextos e processos culturais húngaros do século XIX de relevância para o Brasil.



15.03.2013

Eleição de Cardeal Latinoamericano a Pontifice à luz de estudos culturais euro-brasileiros. O fato de haver pela primeira vez um Papa proveniente da América Latina desperta e exige a atenção de estudos culturais voltados ao continente. A escolha do nome Francisco tem levado a interpretações e expectativas relacionadas com Francisco de Assis e com um eventual cunho franciscano do Pontificado que agora se inicia. Considerando-se, porém, que também aqui se tem o fato singularíssimo não apenas da escolha de um religioso, mas sobretudo de um Jesuíta para a direção da Igreja, vem à lembrança antes o nome de Francisco Xavier (1506-1552). A atenção é assim dirigida aos primórdios da Companhia de Jesus, ao contexto religioso e político-cultural em que surgiu, à situação eclesiástica da época, aos anelos sentidos como de necessária reforma interna da Igreja, à militância em contextos globais a serviço da autoridade de Roma, à disciplina interna da Sociedade, às suas concepções e métodos, aos exercícios, a uma vida religiosa que se diferenciava sob muitos aspectos daquela do clero secular e da tradição de outras ordens, entre elas as dos Beneditinos e Franciscanos. A ação de Francisco Xavier como „Apóstolo do Oriente“ no contexto global do início da ação missionária da Companhia no mundo, na qual o Brasil desempenhou papel relevante, já foi considerada sob diferentes aspectos nos estudos euro-brasileiros (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/131/Goa-Bom_Jesus.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/131/Goa-Francisco_Xavier; html;http://www.revista.brasil-europa.eu/131/Goa-Colegio_de_Sao_Paulo.html). Entre êles, considerou-se a modéstia com que os missionários se apresentavam e que se diferenciava quanto à forma de culto, na sua compenetração reservada e discreta, do esplendor da liturgia das catedrais e de outras ordens, a procura do homem do povo, dos pobres, com os quais praticavam atos de penitência em repetidas orações, à rigidez em questões morais e, sobretudo, ao anelo de instauração de uma atmosfera marcada pelo silêncio. Sob diferentes perspectivas tem sido discutida sobretudo a atitude dos Jesuítas perante a música nessa fase inicial da Companhia e que indica uma concepção fundamentalmente diversa daquela da tradição sacro-musical e do edifício músico-teológico que parte de uma relação essencial entre a música e a liturgia. Uma das principais características da Sociedade de Jesus - e prerrogativa sempre defendida - foi a da liberação da prática do canto das horas, com a qual os seus membros ganharam tempo para a militância. A expressão „Jesuita non cantat“ exprime essa outra concepção da música e que tem implicações teológicas e filosófico-culturais, entre elas a da perda de uma visão musical - no sentido figurado - do cosmos e da vida de antiga proveniência. As primeiras décadas da ação da Companhia foram marcadas por tentativas de instauração de silêncio, vencidas porém, pela constatação da indispensabilidade da música para a atração e a conquista daqueles a serem missionados. O Brasil oferece aqui, no conflito entre o Pe. Manoel da Nóbrega SJ (1517-1570) e o bispo D. Pedro Fernandes Sardinha SJ  (1496-1556) o principal exemplo da discrepância entre a atitude severa determinada pelos preceitos da Sociedade e as exigências da prática. A música e outras expressões - cortejos, danças, instrumentos nativos - passaram a ser empregados também em outros contextos como meios, ou seja, não em sentido cultural mais profundo, mas instrumentalmente no sentido questionável de que fins justificam meios. Essa discussão foi retomada no corrente ciclo de estudos dedicado aos pressupostos culturais do Pe. José de Anchieta desenvolvidos nas Canárias, em particular na cidade natal do missionario (Veja Notícias). Esses estudos partiram do fato de que expressões culturais populares constatadas na ação de Anchieta não decorreram da sua formação em Coimbra, marcada por excelência pela compenetração e pelo silêncio. Elas podem ser apenas explicadas no sentido de recorrência a expressões culturais conhecidas de sua formação, também aqui como meio, como instrumento para o alcance de fins. As relações entre essa compreensão instrumental de expressões culturais a serviço da propaganda elucidam sob vários aspectos o vir-a-ser do Barroco e que de tanto significado foi na Contra-Reforma. Os Jesuítas não foram apenas os milícias de uma reforma interna sentida como necessária da Igreja no início do século XVI, mas os principais agentes da Contra-Reformação e Recatolização, como considerado de forma contextualizada em estudos euro-brasileiros desenvolvidos em vários regiões européias (http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Jesuitas-Boemia-Brasil.html). Em visão retrospectiva, o quadro que se obtém é marcado pela paradoxia de um desenvolvimento que vai da apologia do silêncio do „Jesuita que não canta“ à imagem de uma ordem artística e musical por excelência, que fomentou o aprendizado de instrumentos e a música vocal-instrumental nas suas missões fora da Europa e na Europa. Há um outro aspecto do debate voltado à questionável concepção de que fins justificam meios que vem à mente no estudo desse desenvolvimento que merece particular atenção. Em sociedades marcadas pela valorização de conhecimentos e da erudição, como na China, os Jesuítas sentiram-se levados não a empregar meios populares ou da devoção de círculos
subalternos da sociedade, mas sim a usar de meios da ciência e da erudição para o alcance de posições de influência e para a ação  "de cima para baixo" (Veja e.o. http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Confucionismo.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Eunucos-na-China.html) Esse intuito levou a que missionários se tornassem destacados astrônomos, matemáticos e profundos conhecedores de uma ordenação de concepções e imagens do mundo na qual também a música desempenhou importante papel (http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Astronomia-China-Ocidente.html). Como considerado em ciclos de estudos voltados ao Jesuíta que é considerado como o pai da Etnologia ou melhor, do Estudo Comparado de Povos, conhecimentos da antiga cultura tiveram consequências para o desenvolvimento dos estudos relacionados com as culturas indígenas das Américas (http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Imagem-do-indio.html). Cabe aos cientistas, aos intelectuais e aos políticos culturais, assim, compenetrar-se da necessidade de se oferecer para o diálogo com a Igreja neste Pontificado uma situação em parte comparável a da antiga China, ou seja a da máxima valorização da ciência e dos conhecimentos. Foi essa situação que levou a uma espécie de concorrência de idéias devido à tentativa de justificação de concepções por parte dos missionários e que foi de positivos efeitos ao progresso do Conhecimento.



13.03.2013
Por motivo do Conclave: revendo heranças do Pontificado de Bento XVI. O pensamento teológico-musical nas suas relações com o Brasil. O término do Pontificado de Bento XVI e o atual Conclave vêm motivando balanços de situações, análises de desenvolvimentos e reconsiderações de posições que expressam tanto intuitos de reconhecimento como preocupações quanto a necessárias revisões e anelos para o futuro. Para além de considerações mais propriamente religiosas e eclesiais, a atenção dos estudos culturais volta-se antes à inserção dos desenvolvimentos em processos culturais mais amplos, não apenas com intuitos de análises de seus pressupostos como de suas consequências em contextos globais. Essas reflexões e análises mostram-se tanto mais necessárias pelo fato do Pontífice que se retirou ter-se projetado como teólogo marcado pela erudição, expressa em considerável obra publicada. Sob o ponto de vista dos estudos culturais brasileiros, há um aspecto do seu pensamento que não tem sido suficientemente considerado: o sacro-musical. É, porém, justamente um texto assinado pelo então ainda Joseph Cardeal Ratzinger relativo às relações entre a Liturgia e a Música, preparado para o Congresso Internacional realizado em Roma em 1985, que surge como documento de primeira grandeza para estudos de correntes de pensamento relacionadas com a cultura das últimas décadas e nas quais brasileiros estreitamente participaram ("Liturgia e Musica Sacra/Liturgie und Musica sacra (...), Christus in Ecclesia Cantat, Musices Aptatio 1986, Roma 1986, 47 ss.). Partindo de uma relação "em essência" entre a Liturgia e a Música, o seu autor menciona as dificuldades dessas relações em épocas de transição da história e da cultura. Nas disputas do Concílio e nos anos seguintes parecia que aqui se tratava antes de tensões entre pragmáticos da Pastoral e músicos de Igreja preocupados com o nível da prática sacro-musical. O conflito parecia desenvolver-se apenas ao plano da aplicação. Este, porém, tornara-se mais profundo, atingindo a essência da ação litúrgia, dizendo respeito a seus fundamentos antropológicos e teológicos. Essa segunda fase de um movimento de Reforma não se baseava nos textos conciliares, mas num espírito do Concílio. A crítica a essa tendência no texto revela concepções de natureza teórico-cultural relativas a concepções de Grupo e de Igreja nas suas implicações. Trata-se de uma crítica ao uso de um discurso sociológico e de critérios de valoração dele decorrentes, de concepções que valorizavam o agir de todos em autenticidade, no orientar-se a projetos, a programas, à animação e ao fazer. O "como" tornara-se mais importante do que o "o que". A atenção do autor volta-se, assim, ao
questionamento dos fundamentos filosóficos dessa concepção, ao cerne de uma mudança de valores. Procura demonstrar a partir daí uma diferença fundamental de concepções, entre aquela que parte de um Mistério em atitude de recepção - não de elucidação - e aquela de uma ação de grupo que parte da autonomia, emancipação e do auto-agir. Passando ao tratamento do paradigma antropológico do culto, os argumentos levam à afirmação de que a "tomada de corpo" é ao mesmo tempo espiritualização, e a espiritualização cristã é tomada de corpo no Corpo do Logos encarnado. Dessas considerações quanto a dois movimentos fundamentais e interrelacionados tirar-se-ia a conclusão de que a adequação da música sacra devia ser medida na sua correspondência íntima com esse paradigma fundamental antropológico e teológico. Esse não seria o caso da música Pop e Rock, que, como no "antigo culto", manifestariam o prazer da destruição, ilusão da salvação e da libertação do eu, opostas à concepção de redenção do Cristianismo. Poder-se-ia até mesmo constatar diferentes tipos de música de acordo com os seus fundamentos antropológico-teológicos. Esse texto, então traduzido para o português pelo Mons. Guilherme Schubert (Rio de Janeiro), necessita ser lido na sua versão original em alemão e relido no contexto em que se originou, precedido por todo um desenvolvimento no debate sacro-musical, repleto de tensões, conflitos, opiniões contrárias e que o Brasil tinha presenciado em toda a sua complexidade no Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira" levado a efeito em São Paulo em 1981. O seu teor correspondeu aos anelos do congresso para o qual foi escrito, organizado pela instituição pontifícia de música sacra que tinha como mentor o Mons. Prof. Dr. Johannes Overath. Hoje relido, pelo fato de tentar expor de forma sistemática fundamentos filosóficos e teológicos de concepções que fundamentaram desenvolvimentos, pode servir de ponto de partida para reconsiderações e revisões teórico-culturais de bases de um edifício de pensamento que são sentidas como necessárias para a abertura de novas perspectivas e caminhos de ação.



12.03.2013
Valores arquitetônico-paisagísticos da região das águas: o palácio do Lago Guanabara da antiga Águas Virtuosas. No ciclo de estudos Europa-Sul de Minas (Veja notícias), discutiu-se sob diversos aspectos a atenção que merece a região e áreas limítrofes marcadas por estâncias hidroterápicas sob a perspectiva das relações culturais entre a Europa e o Brasil. Salientou-se que, entre os problemas teóricos a serem superados, encontra-se aquele da consideração por demais unilateral do patrimônio cultural de Minas Gerais. A visão quase que exclusivamente voltada à época da mineração, ao período do ouro, colonial, tem ofuscado a apreciação adequada de desenvolvimentos posteriores nas suas diferentes expressões, em particular também aquele marcada por uma outra riqueza do solo: a das águas. Uma visão dirigida antes a processos do que a épocas contribui à percepção e valorização de testemunhos e expressões artístico-culturals do Brasil independente nas suas inserções em desenvolvimentos internacionais. Essa perspectiva possibilita uma maior sensibilidade na apreciação da arquitetura, da música e artes plásticas do século XIX e das primeiras décadas do XX, pré-condição para a valorização do patrimônio de várias cidades. Esse patrimônio revela-se da forma mais evidente sobretudo nos grandes edifícios representativos de balneários e hotéis de um passado histórico-arquitetônico. Essa arquitetura tem sido injustamente tratada pela vigência de posicionamentos estéticos e ideológico-culturais do século XX e que hoje já são êles próprios expressões históricas. Se quanto à apreciação de edificações já se registram mudanças com uma crescente orientação culturológica dos estudos de arquitetura, o mesmo não tem acontecido com a necessária intensidade nos estudos do urbanismo e paisagismo. Os parques e os jardins, a ordenação urbana e a inserção ambiental dessas cidades e seus edifícios representam também êles realidades construídas da história cultural, expressões de processos em parte ainda vigentes e elementos de primeira grandeza sob o aspecto de um patrimônio cultural compreendido nas suas dimensões mais amplas. A atualidade de um direcionamento privilegiado da atenção ao urbanismo e paisagismo revela-se pelo fato de valorizar necessariamente o meio ambiente. De nada adianta conservar e valorizar edifícios representativos de termas e hotéis se o contexto é descaracterizado e desvalorizado por deflorestamentos, assentamentos ou construções não planejadas sob uma perspectiva de conjunto. Um dos mais excepcionais exemplos desse patrimônio arquitetônico, urbanístico e paisagístico é o de Lambari. Como projeto urbano de consideráveis dimensões e abrangência sua concepção cultural e
político-cultural como capital de um idealizado Estado da região das águas, estreitamente vinculado com o nome de Américo Werneck (1855-1927), o conjunto marcado pelo lago artificial Guanabara com o seu palácio-Cassino merece particular atenção nos estudos urbanológicos em contextos internacionais. Essa revalorização do patrimônio representado por Lambari exige estudos das relações do projeto com balneários europeus nas suas dimensões culturais cosmopolitas e internacionais. Em particular Vichy na Auvergne passa a concentrar as atenções, cidade que, com a sua antiga tradição de águas virtuosas foi um dos principais centros procurados pela aristocracia e intelectualidade européia no século XIX, sobretudo como sede de residência de verão imperial à época de Napoleão III° (1852-1870), quando também ali edificou-se o seu famoso Cassino (veja e.o. http://www.revista.brasil-europa.eu/121/Alves-de-Mesquita.html). Elos do projeto mineiro com Vichy exigem antes a consideração do apogeu dessa cidade pela passsagem do século, quando ali construiu-se o representativo edifício das termas e da sala de fontes, assim como a Ópera. A planejada recuperação do palácio do Lago Guanabara e a sua utilização para fins culturais abre, neste contexto, perspectivas amplas e adquire um significado que de muito supera os limites locais e diz respeito tamebm aos brasileiros na Europa (Cf. e.o. http://www.revista.brasil-europa.eu/121/Brasil_em_Paris.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/121/Francisco_Valle.html).



11.03.2013

Lambari/MG. Da passividade nostálgica à atividade de valorização do patrimônio ambiental e cultural das águas. Diálogos euro-brasileiros na Pousada do Duque. Dando continuidade aos diálogos levados a efeito em Caxambu (Veja notícia), tratou-se em Lambari das diferentes atitudes perante o passado da região marcada pelas águas virtuosas de Minas Gerais e as perspectivas resultantes para a revitalização de suas cidades a partir de cotejos com situações centro-européias. Questões culturais - de história de fases passadas de apogeu, de imagens que ainda vigoram no presente e de desenvolvimentos sócio-cultturais mais recentes - desempenham papel relevante nesses intentos, o que revela o significado da cultura na política e em estrategias empresariais, em particular no turismo e hotelaria. As reflexões dirigem-se nesse contexto à superação de uma passividade marcada pela nostalgia de épocas passadas à atividade fundamentada na consciência do patrimônio natural e cultural. Se nos diálogos no Hotel Bragança de Caxambu a atenção foi mais dirigida à continuidade da tradição representada por um empreendimento familiar que foi parte de um desenvolvimento marcado por florescimento e decadência, em Lambari as reflexõdes foram dirigidas a posições e estrategias com diferentes características relativamente a valores ambientais e culturais. Também aqui valorizam-se os elos com o passado; estes são menos locais e marcados pela continuidade histórica;  são mais genéricos na sua orientação ambiental e nas suas imagens condutoras. Estas são tratadas por meios de uma arquitetura de interiores que procura reconstruir ambientes a partir de um jogo criativo com elementos do passado. Essas sutís diferenciações de atitudes nostálgico-tradicionalistas e sentimentais-sugestivas foram consideradas a partir da história da Pousada. Esta que leva a Petrópolis, o que - similarmente ao caso de Caxambu - explica vínculos com um determinado contexto histórico-cultural e com uma esfera regional mais ampla. Esses elos com o Rio de Janeiro explicam também a própria designação do estabelecimento, uma vez que parece remontar à cidade de Duque de Caxias, também relacionada com a família de seus antigos proprietários. Adquirido após amplas reformas realizadas segundo orientação estética de arquiteta especializada, mesmo assim fechado por quatro anos, pôde ser salvo de demolição com a sua aquisição por uma natural de Lambari. Esse fato levou a uma reorientação de um projeto antes supra-regional nas suas características. Esse fato foi elucidado nas explanações de Kathia Regina Gorgulho Valerio de Mendonça, que, com a sua formação em arquitetura, salientou os esforços de valorização dos valores patrimoniais locais no contexto das
relações entre Cultura e Natureza. Entre estes contam-se sobretudo, para além do Parque das Águas, a Serra das Águas Virtuosas, as várias Cachoeiras, o Parque Estadual de Nova Baden e o Lago Guanabara, significativo exemplo de projeto paisagístico da história cultural do Sul de Minas e mesmo do Brasil. A partir de pesquisas histórico-culturais e da tradição oral, procura-se criar um perfil voltado à cultura nas suas relações com a paisagem, promovendo-se eventos e visando um público com interesses antes voltados à fruição de valores ambientais e culturais e ao aumento de conhecimentos. A estrategia privada, valorizando os elos entre valores culturais e ambientais, vem assim de encontro a tendências locais que se manifestam no projeto de revitalização do palácio do antigo Cassino para ser usado como centro cultural.



10.03.2013

Habitação e vida do homem do campo nas ilhas atlânticas e suas extensões nas Américas. O Ecomuseo la Alcogida em Fuerteventura. O programa de estudos insulares atlânticos da A.B.E. em andamento (Veja notícias) incluiu uma visita em janeiro do corrente ano ao Ecomuseu de Alcogida, no interior de Fuerteventura, nas redondezas da localidade de Tefia. Essa visita deu continuidade à série de trabalhos que vêm sendo realizados em museus etnográficos ou de cultura regional ao ar-livre em várias regiões do globo. Após a visita de grupo de folcloristas e historiadores brasileiros ao Museu de Kommern, na Alemanha, em 1989 (http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM02-05.htm), tem-se intensificado as observações de museus ao ar livre em diferentes países e o diálogo com especialistas locais a respeito de métodos e de questões de museologia nos Estudos Culturais de relevância para o Brasil (Cf. e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Skogar.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Bucareste-Museu-Aldeias.html.http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Floresta-e-museu.html. A aldeia-museu de Alcogida adquire aqui particular significado por diferentes razões. As Canárias desempenharam papel de fundamental importância na história de processos coloniais no Atlântico, da colonização e da imigração nas Américas. Modos de vida, de habitação, técnicas de trabalho, artesanato e expressões festivas canárias foram transportadas por imigrantes ao Novo Mundo e marcaram a cultura popular de vários países latinoamericanos, em particular do Caribe e da Venezuela. Sob o aspecto das preocupações atuais por uma maior aproximação de países do continente redespertadas pela Cumbre Uonin Europea-CELAC 2013 (http://revista.brasil-europa.eu/141/Brasil-Alemanha-2013.html) impõe-se aos estudos culturais considerar de forma integrativa modos de vida dos povos dos diferentes países para além de fronteiras nacionais e de divisões entre esferas de língua espanhola e portuguesa herdadas do passado colonial. A atenção dirige-se na tradição dos estudos respectivos e dos atuais Cultural Studies primordialmente não apenas a esferas menos privilegiadas da população como também às relações entre modos de vida, de trabalho e sobretudo de morar com o meio ambiente, considerando a gravidade de questões habitacionais nos seus elos com a degradação do meio ambiente no continente americano. O Ecomuseo la Alcogida procura expressamente orientar ambientologicamente a concepção e prática de museus etnográficos e regionais, colocando as interações entre Cultura e Ecologia no centro das atenções. A região árida em que se situa, de fisionomia desértica, aguça a sensibilidade dos observadores às consequências da ação degradadora do homem e, vice-versa, àquelas resultantes de um meio ambiente inóspito e difícil para a qualidade de vida. Evitando generalizações, o cuidado analítico levou à diferenciação de modos de vida e de moradia do homem da terra, insularizado no seu interior, o que se manifesta na tentativa de percepção e exposição de uma tipologia habitacional
do trabalhador pobre do campo na diversidade de organização de espaços, de uso da terra e nos diversos graus de modesta ascensão quanto à qualidade de vida material. Para isso, a área foi dividida em 7 sub-áreas, cada um considerada como um monumento ou memorial agrícola e de suas implicações naturais. Nelas levantaram-se casas campesinas, restauradas, mobiliadas e nas quais se apresentam técnicas tradicionais de trabalho e de artesanato. Trabalhos em cerâmica, tecelagem, cestaria e rendas das Canárias, assim como modos tradicionais de produção de pães e queijos são cultivados e demonstrados em parte por especialistas que as aprenderam em própria tradição familiar. Procura-se, entre outros motivos, salvar do esquecimento a história cultural dos campôneos das ilhas - em parte errôneamente compreendidos como nativos - em época de mudanças de modos de vida causadas pela decadência da agricultura e êxodo rural  com as novas possibilidades oferecidas pelo turismo nas ilhas Canárias. Sob a perspectiva dos estudos brasileiros, esse intuito do museu adquire significado também por fornecer subsídios a reconstruções mais sensíveis relativas a processos culturais de passado remoto, atuais no presente sobretudo no contexto das preocupações pelos pressupostos culturais de José de Anchieta e consideradas nos problemas em encenações histórico-arquitetônicas dos primeiros tempos, discutidos no exemplo da aldeia de S. Vicente/SP (Veja notícia).



09.03.2013

Transformações de cidades-balneários na Europa e no Brasil como questão de análise de processos culturais. Diálogos de Caxambu - exposição do Hotel Bragança. Como lembrado em estudos euro-brasileiros que vem sendo realizados em balneários na Europa Central que tiveram projeção internacional no passado, por último em Bad Ems, Reno-Palatinado, em 2012 (Veja noticia), várias dessas localidades foram importantes centros cosmopolitas e de diplomacia cultural no século XIX, visitados por literatos, artistas, aristocratas e políticos. Nelas foram tomadas decisões politicas, de paz e guerra, difundidas correntes artísticas e de pensamento que tiveram repercussão para além de fronteiras nacionais (http://www.revista.brasil-europa.eu/133/O-Selvagem-de-Seume.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Goncalves-Dias-na-Europa-Central.html). Também o Brasil participou desse desenvolvimento, uma vez que vários homens da história cultural e política do país realizaram estadas em balneários europeus, salientando-se aqui naturalmente a família imperial. Essas cidades, com perfís próprios definidos pelas características locais de águas e tratamentos, assim como pela própria história, passaram por sensíveis transformações. Se o sentido integral de cura manteve em vários casos uma presença de elos religiosos, que levou também à construção de igrejas ortodoxas e sinagogas - testemunhos das dimensões interreligiosas de cidades marcadas pela internacionalidade -, a tendência geral foi a da intensificação da vida secular e social mundana, evidenciada sobretudo nos cassinos que passaram a marcar a fisionomia de muitas dessas cidades. A Primeira Guerra Mundial marcou o fim de uma era, da antiga ordem européia, repercutindo nesses centros de intercâmbio internacional. Mantendo-se a função medicinal, perderam na nova situação gradualmente o ativo papel cultural que haviam exercido, lembrado agora sob o signo da nostalgia de uma época passada de apogeu. Essa atmosfera nostálgica passou a caracterizar a vida cultural dessas cidades. Na Alemanha, onde essa cultura das águas foi particularmente intensa, a densa rêde de balneários pôde ser mantida até meados do século XX devido a uma política que possibilitava financeiramente estadias de tratamento a amplos círculos sociais. Com a modificação desse sistema, muitas dessas cidades entraram em crise, com o fechamento de consultórios, clínicas e termas. Vários caminhos têm sido tentados para mudar essa tendência à decadência, entre outros o de mudanças de funções, o da acentuação do aspecto de diversão, o da modernização das ofertas no sentido atual de Wellness, caminhos que implicam sempre em questões de perfís e imagens. Compreende-se, assim, que haja na atualidade uma reconscientização das características histórico-culturais que marcam a fisionomia dessas cidades, inclusive com a revitalização de antigas termas e ofertas, naturalmente com as necessarias atualizações técnicas. Apesar das diferenças nacionais, esse desenvolvimento das cidades de cultura de águas deve ser analisado nas suas dimensões internacionais. Em diálogos agora realizados no âmbito do ciclo Europa-Sul de Minas, considerou-se sob diversos aspectos o desenvolvimento no Brasil nos seus elos com os europeus. Salientou-se, de início, a diversa situação brasileira no período posterior à Primeira Guerra comparativamente aos países centro-europeus derrotados. Essas circunstâncias favoráveis explicam que o apogeu dos anos anteriores à Guerra puderam ser retomados e mesmo intensificados nos anos vinte e trinta em várias cidades. O desenvolvimento brasileiro foi refletido a partir de uma exposição de documentos de família, recortes de jornais e fotografias no tradicional Hotel Bragança de Caxambu. Essa exposição apresenta, a partir de uma significativa história de empreendedorismo relacionada com Antonio Miguel Arnaud, que o adquiriu em 1925, subsídios para o estudo das transformações, dos problemas e das
perspectivas. Antes da Guerra, o Club Bragança, junto ao hotel então existente, oferecia bailes e práticas de jogo. Documentos testemunham o significado dos interesses culturais e intelectuais da sociedade; uma livraria com substancial sortimento possibilitava o alcance a publicações européias. Após a Guerra, quando a cidade chegou a possuir vários conjuntos instrumentais para concertos em coretos e salas, registra-se também a continuidade dos jogos com o Cassino Bragançal. O empreendedorismo de Arnaud levou à expansão de atividades, inclusive com a fundação de hotel de mesmo nome no Rio de Janeiro. Para além do cultivo do passado e da atmosfera de nostalgia também decorrente do desenvolvimento negativo posterior dos empreendimentos, representantes da família consideraram os problemas atuais do balneário e os caminhos que se discutem para a sua revitalização. Comparando-os com aqueles verificados na Europa, também ali se discutem transformações de funções, de concepções de tratamento e de lazer ou mesmo a sob muitos aspectos questionavel direcionamento a parque de divertimentos, como exposto por Therezinha Arnaud. Salientou-se o risco de desenvolvimentos que possam levar a descaracterizações e à perda de patrimônio histórico-cultural, com consequências irreversíveis. Lembrou-se, como exemplo, a descaracterização arquitetônica e urbanística, de imagem e sentidos que se observa em Poços de Caldas. Em cotejo com situações européias, salientou-se que Caxambu, pela sua história, possui pressupostos para intentos revitalizadores que privilegiem concepções culturais. Esses, porém, devem ter, assim como na Europa, uma orientação fundamentalmente ambiental, de recuperação do meio envolvente e de superação de tendências à degradação urbana, uma vez que o patrimônio natural consistui os fundamentos de uma cultura de águas.



08.03.2013

Liège/Lüttich-Caxambu. Belle Époque belga no Sul de Minas: arquitetura ornamental de ferro do Parque das Águas. No âmbito do ciclo de estudos Europa-Sul de Minas (Veja notícias), para além das reflexões voltadas à recepção do neogótico nas suas dimensões religiosas e  político-culturais, a atenção foi dirigida sobretudo ao coreto e às construções sobre fontes do Parque das Águas. Na diversidade estilística das várias dessas edificações - e que se inserem por ultimo na tradição dos templos de fontes existentes nos complexos balneários europeus nas suas referências à antigas concepções e divindades relacionadas com águas de propriedades curativas ou miraculosas (p. e. Hygieia) - destacam-se aquelas de ferro das fontes Duque de Saxe e Beleza a de Dona Leopoldina. Esses três „templos“ merecem particular consideração pela extraordinária verticalidade de suas proporções, pela esbeltez de suas colunas e pela filigrana do trabalho ornamental em ferro, que a êles confere um sentido desmaterializador em direção às alturas e faz com que o espaço da fonte seja transpassado de luz. A construção e a decoração do pavilhão da fonte Dona Leopoldina é orientalizante, o que se manifesta em particular nos seus arcos. O motivo clássico do templo associa-se ou mesmo dá lugar aqui àquele orientalista de construções em parques e jardins que desde o século XVIII levou aos pagodes, mesquitas e a expressões mouriscas e moguls conhecidos do paisagismo e da arquitetura na Europa e nas colonias (http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Camoes-na-Filosofia-Intercultural.html). O pavilhão da fonte Dona Leopoldina representa um exemplo significativo do exotismo oriental no Brasil, conhecido em especial na arquitetura e na pintura. Esse orientalismo exótico marcou a arquitetura de balneários europeus, tendo um de seus principais marcos o Royal Pavillon de Brighton (1815-1822) que, com as suas referências à cultura da Índia e da China, pode ser compreendido como expressão da crescente ação britânica no Oriente. A construção da fonte Dona Leopoldina dirige a atenção a uma fase mais tardia e a outros contextos do exotismo europeu. Projetada pela companhia belga S.A. des Aciéries D‘Angleur, indica elos com as localidades de Angleur e Tilleur, hoje integradas na cidade de Liège/Lüttich, situada na fronteira da Bélgica com a Alemanha. Essa região, pelas suas minas e fundições, desempenhou papel de central importância na industrialização continental européia. A sociedade, fundada em 1871, experimentou extraordinário desenvolvimento sob a direção de Georges Nagelmaekers (1845-1905), intensificado com a fusão com o Sindicado alemão Deutsch-Oth (1882) e a aquisição da sociedade de altos fornos, usinas e oficinas de
construção de Sclessin (1892). Esse desenvolvimento econômico-industrial da região da Wallonie associou-se àquele do colonialismo belga, em particular no Congo, e que levou a uma intensificação do interesse por culturas extra-européias. Esse interesse manifestou-se sobretudo na internacionalidade das Exposições Mundiais (p.e. Bruxelas 1897, 1910), salientando-se aqui a Exposition Universelle et Internationale de Liège pelos 75 anos da independência da Bélgica em 1905. Na arquitetura de balneários belgas, o uso de pavilhões de ferro tem um de seus principais exemplos na "Galeria Leopoldo II" em Spa, também marcado pela sua grande altura, verticalidade, leveza e esbeltas colunas. Para além de produção industrializada de construções em ferro convencionais, exportadas para muitos países, a Bélgica distinguiu-se pelo papel que desempenhou na Belle Époque e como um dos principais centros do Art Nouveau. Na arquitetura, cumpre lembrar as obras exponenciais de Victor Horta (1861-1947). As construções de ferro do Parque das Águas chamam a atenção pela decoração com motivos vegetais de suas colunas e do teto. Aqui, como também nas cornucópias do vitral do palácio das termas, de 1912, pode-se ver a continuidade de antigas imagens relacionadas com a saúde e expressas na iconografia de Hygieia. Motivos mais claramente denotadores de modernidade no contexto da Belle Époque podem ser encontrados no coreto, um dos mais relevantes exemplos do gênero no Brasil (http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Jardins-e-coretos.html). Os estudos culturais das relações entre a Bélgica e o Brasil salientam o significado da presença de brasileiros em Bruxelas pela passagem do século. Entre muitos outros, cumpre lembrar que ali atuou, como encarregado de Negócios, por ocasião da exposição de Liège, o diplomata Rafael de Mayrinck (1874-1931), sobrinho do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink (1839-1907), responsável desde 1890 pela empresa de águas de Caxambu e hoje ali perpetuado na designação de uma fonte. Espera-se que o prosseguimento dos estudos belga-brasileiros possa trazer maiores esclarecimentos quanto a elos e contextos (http://www.brasil-europa.eu/Paises/Belgica.html).



07.03.2013

Caxambu/MG: Igreja de Santa Isabel da Hungria e correntes restaurativas na França do século XIX na sua atualidade. No âmbito do ciclo de estudos „Europa-Sul de Minas“ (Veja notícias) realizou-se uma visita à igreja de Santa Isabel da Hungria em Caxambu, integrada no Hospital Casa de Caridade São Vicente de Paulo. Ela foi precedida por estudos que consideraram ter sido o projeto resultado de promessa feita em 1868 pela Princesa Isabel à santa que é conhecida na Europa Central sobretudo como Sta. Isabel da Turíngia. Na tradição do seu culto associam-se diferentes nações, incluindo Portugal através de afinidades de narrativas e imagens com a Rainha Santa Isabel (por ex. transformação de dádivas em rosas). Ao mesmo tempo, considerou-se as dimensões religiosas de qualidades tidas como curativas de fontes e águas nas suas inserções em edifício cultural de antigas proveniências. Na visita à igreja, a atenção concentrou-se porém sobretudo no papel desempenhado pelo Conde d‘Eu. Luis Felipe Gastão de Orléans (1842-1922). O marido da Princesa Isabel não só esteve presente na cerimônia de lançamento da pedra fundamental do tempo no dia 22 de novembro dde 1868, como também foi presidente da primeira sessão da então criada Irmandade de Sta. Isabel da Hungria, no dia 29 de novembro. O seu empenho manifestou-se na determinação de que nenhuma festa seria realizada até o templo estar em condições de ser utilizado para culto. Decidiu-se de inicio que o templo devia ser coberto com telhas francesas, também conhecidas como de Marselha (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Catedral-de-Saigon.html). Digno de atenção é o fato do conde já trazer consigo desenhos de igrejas européias que podiam servir de modêlo e ter afirmado já ter escrito para a Europa solicitando planos de igrejas então de recente construção. Mesmo no momento difícil da viagem de exílio após a proclamação da República, o Conde escreveu da nave Parnaíba, a 17 de novembro de 1889, manifestando as suas esperanças de que a capela pudesse ser concluída. Esse empenho chama a atenção para os elos do empreendimento com correntes culturais francesas e suas implicações religiosas e políticas. A arquitetura da capela, apesar da simplicidade da construção, indica que os modêlos seguidos eram neogóticos. Embora não podendo ser comparada arquitetonicamente com igrejas de maiores proporções e mesmo catedrais neogóticas posteriores no Brasil, a capela de Caxambu assume significado especial pelo fato de indicar correntes religioso-culturais e suas correspondentes expressões artísticas em altos círculos do Império, destacando-se aqui o Conde d‘Eu. À época do lançamento da pedra fundamental da igreja, a França encontrava-se no fim do Segundo Império de Bonaparte (1852-1870), seguindo-se a Terceira República. Eram anos marcados pelo anti-modernismo do Syllabus errorum (1864) e de preparação do Primeiro Concílio Vaticano, aberto em 1869. Tendências do catolicismo político - ultramontanismo - relacionaram-se com o movimento de restauração litúrgico-musical, em particular com o movimento gregoriano e ceciliano, assim como com o historismo neo-gótico e com aspirações monárquicas na França (http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Cor-no-Gotico.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Ultramontanismo-e-arquitetura.html). Considerando as tensões franco-alemãs que culminaram com a Guerra Franco-Prussiana de 1870/71, pode-se compreender que para a Santa Isabel da capela de Caxambu não se escolhesse a indicação de ter atuado na Turíngia, mas sim, seguindo a tradição francesa, a do seu nascimento na Hungria. A atualidade da consideração do contexto euro-brasileiro em que se inseriu essa igreja da localidade então pertencente a Baependi resulta da atenção que desperta a beatificação  da Nhá Chica (Veja notícia), uma vez que nela
salientam-se virtudes franciscanas, assim como de uma religiosidade austera, de modéstia de vida e de prática de caridade também conhecidas do culto de Sta. Isabel. Ao mesmo tempo, a consideração de contextos histórico-culturais da região pode despertar a sensibilidade para a percepção de correntes religiosas e eclesiais do presente nas suas problemáticas implicações culturais tradicionalistas, restaurativas e mesmo reacionárias, um desenvolvimento que deve preocupar aos estudos culturais conscientes de que devem estar a serviço do Esclarecimento. (http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Estudos-e-Esclarecimento.html)



05.03.2013

Estações de águas brasileiras nos seus elos europeus e dimensões religioso-culturais: Princesa Isabel em Caxambu/Sta. Isabel da Turingia em Marburg. Sob o lema „Europa e Sul de Minas“ realizam-se estudos que incluiram encontros e visitas em cidades sulmineiras no corrente ano (Veja notícia). Motivados sobretudo pela atenção despertada pela beatificação de Nhá Chica, esses trabalhos dedicam-se, entre outros aspectos, a considerar relações entre uma cultura de águas de estâncias da região com expressões marcadas pela religiosidade que remetem a épocas mais anteriores de processos históricos. Numa primeira aproximação, a atenção é dirigida sobretudo aos contrastes entre cidades que se desenvolveram como centros hidroterápicos sobretudo a partir de meados do século XIX com aquelas de história marcada pelo século XVIII. Comparam-se fisionomias urbanas e formas de vida social e cultural que manifestam estreitos elos com a Europa com aquelas com características coloniais e com expressões culturais tradicionais. Teria havido apenas uma transplantação de modêlos de balneários europeus com as suas termas, parques, quiosques, cassinos e hotéis em edificações representativas, sobretudo neobarrocas a uma região de formação histórico-cultural totalmente distinta, um desenvolvimento assim artificial que passaria a ser superado como anacronismo de uma época encerrada? Ou deveria ser a atenção mais sensível, dirigida antes a processos de interação, a pressupostos que possibilitaram o surgimento de estâncias tão européias nas suas aparências mas que se apresentam com  características peculiares? Poderiam essas cidades ser consideradas sob a perspectiva de transformações secularizadoras de um complexo cultural de antiga formação e fundamentação religiosa? Um ponto de partida para essas reflexões é dimensão espiritual das águas consideradas como virtuosas no sistema de imagens culturais. Essa dimensão transcende a das qualidades hidroterápicas vistas hoje quase que exclusivamente sob um aspecto fisiológico. Em estâncias européias tem-se provas da antiguidade de concepções relacionadas com águas de fontes, como estudado em trabalhos euro-brasileiros referentes ao culto de Diana em balneários dos Alpes Franceses. A cristianização de antigas concepções vinculadas às águas com poderes curativos pode ser estudada em dedicações de fontes e capelas a Maria e outras santas. No Brasil, importante exemplo dessas dimensões religiosas de fontes que deram origem a balneários pode ser visto em Caxambu. A história e mesmo a consciência cultural local é marcada pelo fato de terem sido as suas águas procuradas pela Princesa Isabel ao constatar que permanecia sem filhos após dois anos do seu casamento com Luis Felipe Gastão de Orléans, Conde d‘Eu (1842-1922), celebrado em 1864. Foi o conhecimento da ação curativa de infertilidade registrada em fontes européias que a teria levado a procurar as águas minerais de Caxambu. Partindo de trem da Côrte no dia 15 de setembro de 1868, a comitiva alcançou Boa Vista, a atual estação de Engenheiro Passos, de onde subiu a serra em liteiras; chegando a São José do Picú (Itamonte) e passando por Pouso Alto, atingiu Caxambu depois de dois dias de viagem. Que as expectativas de cura através das águas eram estreitamente relacionadas com a vida devocional da Princesa, isso testemunha o fato de já no dia 18 ter feito a promessa de construção de uma igreja em dedicação a Santa Isabel da Hungria, cuja pedra fundamental foi lançada no dia 22. Essa santa foi a duquesa Elisabeth da Turingia, nascida na Hungria em 1207 e falecida em Marburg an der Lahn, na Alemanha, em 1231, por essa razão celebrada como padroeira da Turíngia e de Hessen. Sendo o seu dia de festa o 19 de novembro, compreende-se a promessa feita às vésperas pela Princesa que tambémtinha o nome de Isabel. A devoção a Santa Isabel da Turíngia é marcada pela sua proximidade a ideais franciscanos, a de caridade aos pobres e ao tratamento de necessitados. O „poço de Elisabeth“, a leste de Marburg foi o local procurado por Elizabeth para distribuir esmolas aos pobres. Segundo a tradição, Elisabeth teria aqui batido no chão com um bastão, dele nascendo imediatamente uma fonte. Essa fonte passou a ser procurada sobretudo por mulheres, uma prática que alcançou o século XX. Acima da casa da fonte existiu uma capela de romaria à Santa Cruz, assim como, em Caxambu, no morro onde se ergueria a igreja, já existia um cruzeiro levantado no dia da Santa Cruz, 3 de maio de 1862. A tradição da
caridade na cultura francesa do marido da Princesa Isabel era representada sobretudo por S. Vincente de Paulo (1581-1660) e das instituições que seguem o seu exemplo e cujo nome se encontra perpetuado no hospital ao qual encontra-se agregada a igreja de Caxambú fundada pela Princesa Isabel e seu marido. No parque das águas, a memória do Conde D‘Eu e Princesa Isabel é lembrada na fonte que traz os seus nomes.



04.03.2013

Europa e Sul de Minas 2013-Encontros e reflexões. Atualidade de atenções pela beatificação de Nhá Chica. A região sul-mineira vem despertando as atenções de observadores de processos culturais no Brasil e mesmo na Europa pelo movimento de difusão da veneração de Nhá Chica - Francisca de Paula de Jesus (1810-1895) - e dos esforços a favor de sua beatificação, que deverá ser celebrada no dia 4 de maio do corrente ano. Para além de aspectos religiosos, as atenções se dirigem aos pressupostos, aos agentes, aos contextos e às múltiplas implicações culturais e mesmo político-culturais desse movimento. Concentrando-se em Baependi, onde se levanta a principal capela dedicada à veneração, o „Memorial Nhá Chica“ no santuário e a casa onde viveu, que guarda a imagem da Imaculada Conceição por ela venerada, as expressões desse movimento surgem como particularmente intensas em diferentes cidades, constantando-se a presença de quadros com a sua figura em muitas igrejas e que agora foram visitadas. Essas representações, idealizadas ou mais ou menos estilizadas, assumem por vezes características por assim dizer icônicas, o que passa a merecer do pesquisador particular atenção. Dele não passa despercebido que, com esses quadros, passa a estar presente no repertório de imagens dos altares das igrejas, que inclui sobretudo santos de tez branca, uma venerada de ascendência africana. O culto de santos de origens africanas não é recente na cultura religiosa do Brasil, salientando-se aqui São Benedito e Santa Efigênia pelo seu significado na história das Irmandades de africanos, em particular daquelas relacionadas com a prática do Rosário e nas expressões tradicionais brasileiras. A intensidade crescente do culto a Nossa Sra. Aparecida como Padroeira da nação, traz à consciência as dimensões simbólicas da cor da pele para além de todas as justificativas de natureza histórica. A „Virgem Negra“ ou a „Mãe Preta do Senhor“ tem sido alvo de estudos euro-brasileiros em várias cidades européias  que conhecem expressões desse culto desde a Idade Média, entre outras em locais de romaria e peregrinação na França e na Alemanha. (Veja p.e.http://www.revista.brasil-europa.eu/114/Guincamp.htm) Tem-se observado as características locais do culto, as suas expansões ao Novo Mundo e, sobretudo, as razões que explicam o significado da cor negra e do africano, e cujos fundamentos se encontram no Antigo Testamento. Tem-se salientado, aqui, que apenas uma leitura voltada ao sentido velado dos textos permite uma compreensão adequada de sentidos, o que exige, portanto procedimentos hermenêuticos. Uma sensibilidade aguçada para bases tipológicas do repertório de imagens permite também que se reconheça o sentido da cor de pele e de elos imagológicos com a África nas concepções simbólico-antropológicas vigentes na figura dos Três Reis Magos (http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Tradicoes-do-Brasil-na-Boemia.html). Estudada em diferentes contextos no âmbito dos trabalhos euro-brasileiros, essa imagem trina, em particular a do Rei Baltasar, foi analisada sob vários aspectos como tipo elucidador de sentidos de muitas expressões tradicionais em grande parte ainda vigentes em vários países da América Latina e do Caribe e que têm sido consideradas pela pesquisa por demais superficialmente e historicizante apenas como extensões de expressões culturais provindas da África. A veneração da Nhá Chica levanta a necessidade de novas reflexões diferenciadas nesse debate. Uma delas diz respeito às equivalências visuais da imagem venerada à figura da mãe preta ou da „negra velha“ de formas populares de culto, que, porém, surgem neste sentido como tipos, não como anti-tipos no repertório de imagens cultuadas, o que levanta questões de leitura e de coerência do sistema. Uma outra questão, de natureza menos fundamental, diz respeito a mudanças ou a deslocamento de pesos na fisionomia cultural de regiões, de visão, de consciência cultural e de percepção do espaço de grupos populacionais. A atenção atual à Nhá Chica intensifica na memória a presença de de africanos e seus descendentes no passado e no presente do Brasil nos seus muitos aspectos, associações e conotações, em particular no caso na região compreendida entre São Paulo e Minas Gerais com o seu passado marcado pela mineração e pelas plantações de café. Essa região, porém, é também em parte aquelas das águas, das cidades termais que refletiram no Brasil uma cultura hidroterápica européia e que se orientaram muitas vezes na sua arquitetura e na sua vida social e cultural pelos estâncias de águas da França e da Europa Central, importantes centros
cosmopolitas e de intercâmbio intelectual internacional (http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Goncalves-Dias-na-Europa-Central.html). Considerar as interações desses universos culturais foi o objetivo de encontros e ciclos de estudos e reflexões realizados em cidades do sul de Minas Gerais. Deu-se continuidade, aqui, a ciclo de estudos euro-brasileiros desenvolvido em 2012 na estância termal alemã de Bad Ems (Veja notícia).



03.03.2013

O passado indígena pré-colonial na consciência cultural do Atlântico: monumentos aos Guanches em Betancuria. O que as populações indígenas passaram com os descobrimentos do continente americano, aquelas das ilhas atlânticas já o tinham experimentado há décadas. Cada vez mais toma-se consciência nos estudos culturais que processos de expansão européia e de tomada de posse de terras, de assimilação cultural de populações das regiões encontradas através da cristianização e de tentativas de seu uso como força de trabalho escravo devem ser estudados a partir de desenvolvimentos que já se encontravam vigentes anteriormente às respectivas datas iniciais das historiografias nacionais. As Canárias desempenham sob este aspecto um papel de particular relevância, uma vez que ali viviam povos que marcaram a imagem e as concepções do „homem natural“ ou indígena antes dos descobrimentos da América. Essa conscientização por parte dos estudos culturais tem múltiplas implicações e consequências. Uma delas diz respeito ao papel a ser concedido ao indígena na escrita histórica, na memória cultural e na cultura comemorativa. Se em muitos países latino-americanos constata-se ser a perspectiva histórica ainda quase que exclusivamente aquela do colonizador europeu (Veja notícia sobre encontro em S. Vicente, SP), nas Canárias registra-se a existência de vários monumentos dedicados aos Guanches. Tratando-se porém em grande parte de situações anteriores àquelas registradas em fontes escritas, por assim dizer ante-históricas, a ação reconstrutiva baseia-se na interpretação retroativa a partir de indícios registrados, de resultados da pesquisa arqueológica ou a partir da tradição oral. A  cooperação interdisciplinar entre a história a partir de fontes e os estudos empíricos surge assim como uma exigência para o desenvolvimento dos conhecimentos e de ações culturais. Percebe-se, nas Canárias, a vigência de imagens e mecanismos elucidativos em tradições orais que são apresentados em muitos casos literalmente como referências a fatos e acontecimentos reais. Em monumento próximo a Betancuria em Fuerteventura, „capital histórica das ilhas Canárias“, rememora-se uma divisão da região anterior à conquista e que teria fornecido as bases da divisão administrativa posterior do território, constituindo assim os seus fundamentos culturais. Antes de 1402, a ilha ter-se-ia achado dividida em dois reinos, encabeçados pelos caciques Guise e Ayose. Essa situação de tensão interna teria facilitado a conquista. Ambos foram batizados perante os seus súditos, recebendo nomes cristãos: o do norte Luís, o do sul, Alfonso. A fronteira é considerada tradicionalmente na Pared de Jandía, supõe-se, porém, que se encontrava mais a norte. Até o século XVII elegeram-se os „regidores cadañeros“, um por parte de Guise, outro por parte de Ayose como representantes de povos no Cabildo de Betancuria. Estórias similares podem ser singularmente registradas em outras regiões com população conquistada, de modo que o pesquisador é levado a analisar até que ponto configurações do próprio edifício de imagens do colonizador não teriam sido projetadas no passado. Essa questão, levantada em eventos da A.B.E. em diversos contextos, foi agora considerada em visita de participantes do ciclo de estudos atlânticos em Fuerteventura.



02.03.2013

Itanhaem/SP. Revisitando a „cama de Anchieta“ e a passarela construída com o apoio das Canárias- Julieta de Andrade. No contexto dos trabalhos euro-brasileiros que vêm sendo atualmente desenvolvidos nas ilhas atlânticas e no Brasil relativos a processos culturais em que se inseriram ações de conquistadores, colonizadores e missionários, tem-se dado particular atenção aos pressupostos culturais de Anchieta e que remetem a atenção às Canárias (Veja notícias). Interações entre procedimentos históricos baseados em fontes e aqueles antes empíricos na tradição dos estudos culturais foram consideradas em La Laguna e em encontro recentemente realizado no Museu Casa Martim Afonso, em S. Vicente (Veja notícia). Nesse contexto, cumpre registrar a revisita recente ao local considerado pela tradição como „cama de Anchieta“ em Itanhaem pela Profa. D.Dra. Julieta de Andrade, pesquisadora que se empenhou particularmente pela renovação teórica dos estudos culturais, em particular do Folclore no Brasil. Segundo a narração oral, as rochas na Praia dos Sonhos teriam sido área predileta de retiro e inspiração de José de Anchieta. Com auxílio do govêrno das Canárias e, em particular, pelo município de La Laguna, construiu-se uma passarela que auxilia o acesso à área rochosa.
Sendo visitado por grande número de turistas e pesquisadores, esse obra constitui um expressivo gesto que salienta a presença das Canárias no Brasil. Julieta de Andrade, que é membro do corpo de conselheiros da A.B.E. e seus institutos, tendo atuado de forma intensa em vários projetos e eventos, celebrou recentemente os seus 80 anos, merecendo da comunidade de estudiosos efusivos cumprimentos, votos e a expressão de respeito, admiração e gratidão. (foto L. F. de A. Soares).



02.03.2013

Bonn: Jornadas „As Américas“ 2013. O Departamente de Antiga Americanística da Universidade de Bonn promove, de 23 a 26 de maio, o VI encontro de pesquisadores das Américas de língua alemã sob o lema „criando pontes entre as Américas de hoje e do passado“. As jornadas serão abertas com uma conferência de título „Pensar los públicos en América Latina: investigación y prácticas de inclusión“. Em Workshop no contexto do programa ProIndígena (GIZ/BMZ), tera lugar um debate com a presença de representante indígena do Equador: Ampam Karakras, conselheiro da Conais e membro do Consejo Ciudadano Nacional de Senplades, que foi membro da COICA, organização-teto indígena na Amazônia (K. Jetz)



01.03.2013

Betancuria em Fuerteventura: cidade-marco na história de processos culturais do espaço atlântico. O fato de Marseille ser uma das capitais européias da cultura do corrente ano dirige a atenção aos elos entre o Mediterrâneo e o Atlântico no passado e no presente, pré-condição para análises de desenvolvimentos histórico-culturais que atingiram o Brasil. Por essa razão,  realizaram-se, em 2012, ciclos de estudos euro-brasileiros em várias cidades da França, Espanha, Portugal e, a seguir, em países do Atlântico Norte, tratando-se então sobretudo de fundamentos culturais de antigas origens (http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Estudos-e-Esclarecimento.html). Já em trabalhos anteriores da A.B.E., porém, realizados na Normandia e na Bretanha, considerara-se o papel desempenhado pelos portos norte-franceses na história das navegações atlânticas medievais e da era moderna, entre êles o de Honfleur. (http://www.revista.brasil-europa.eu/114/Tema.htm). O estudo das vias pelas quais se desenvolveram processos culturais no redescobrimento, colonização e cristianização do mundo insular atlântico não pode deixar de considerar a atuação normanda. Principal vulto dessa história é o de Jean de Béthencourt (1362-1425), aristocrata normando que, caindo em dificuldades na França, passou a relacionar-se com Castela, contribuindo ou mesmo possibilitando com os seus conhecimentos a realização de empreendimentos missionários e de conquista das Canárias. Após ter iniciado as suas ações em Lanzarote, em 1401, passou a atuar em Fuerteventura, seguindo-se outras ilhas do arquipélago. Ali levanta-se a cidade que até hoje traz o seu nome: Betancuria, a antiga capital das Canárias, fundada em 1404. Não só a pequena urbe, mas alguns dos seus edifícios assumem um significado  exponencial para uma história cultural da arquitetura e da urbanização do espaço atlântico. Trata-se de uma cidade singularmente estabelecida entre montanhas, recôndita, protegida contra ataques vindos do mar. Já em 1410 levantou-se a igreja de Santa Maria, elevada em 1424 a catedral das Ilhas Canárias . Essa igreja, reconstruída no século XVII, é um dos mais significativos monumentos da história da arquitetura, das artes e da cultura do Atlântico, assim como da orientação mariana do edifício cultural implantado e que deve ser considerado não apenas à luz do culto de Maria ibérico, mas também o do Marianismo na cultura marítíma dos portos norte-franceses, por ex. de Nossa Senhora da Graça de Honfleur (http://www.revista.brasil-europa.eu/114/Dionysius-a-Nativitate.htm). A história de Betancuria - e do conquistador a quem deve o nome - interrelaciona história marítima, política européia, econômico-cultural, militar, missionária dos Guanches, os indígenas canários, e a da escravidão. Ainda que decorrida sob o signo da luta da Cristandade, a ação dos Franciscanos no processo cultural expansivo e transformador merece uma especial atenção. Monumento dessa história missionária é o Convento de San Buenaventura, hoje em ruínas. Esse significado do Franciscanismo na
ação missionária de Guanches muitas décadas antes dos descobrimentos da América e do Brasil não pode ser suficientemente considerado nos estudos euro-brasileiros. A sessão de estudos da A.B.E. em Betancuria trouxe novamente á consciência esse fato, uma vez que os estudos brasileiros atentam ainda quase que exclusivamente à ação dos Jesuítas no processo de formação cultural do Brasil, menos considerando métodos e expressões franciscanas, muito anteriores, ou seja, o universo religioso-cultural e os procedimentos daqueles que foram os que presenciaram os primeiros atos do Descobrimento do Brasil e com os quais os indígenas primeiramente tiveram contato.



01.03.2013

O Carnaval nos estudos culturais em contextos internacionais: Los Diablos de Lanzarote, Canárias. O carnaval do Brasil - sobretudo em suas expressões cariocas - tem-se tornado presente em grupos de brasileiros e amigos do Brasil em cidades européias de tradição carnavalesca, como é o caso de Colonia, Alemanha. Por outro lado, constata-se a consideração de temas bi-nacionais no carnaval brasileiro do presente, lembrando-se aqui a singular consideração da Alemanha como tema de enrêdo de escola de samba no corrente ano, não de todo inquestionável. Esses fatos merecem a atenção dos Cultural Studies voltados à atualidade por diferentes razões, em particular sob a perspectiva de mecanismos ao mesmo integrativos e diferenciadores de brasileiros no Exterior e de alemães no Brasil. Fala-se, entre outros aspectos, de uma brasileirização do carnaval de várias cidades, não só da Europa continental, mas também do mundo insular atlântico.  Este é o caso do carnaval de Las Palmas de Gran Canaria, assim como de Praia e Mindelo no Cabo Verde. A necessária consideração desses desenvolvimentos no presente não pode, porém, obscurecer o fato de que a pesquisa cultural do carnaval insere-se em contexto muito mais amplo, relativo à ordenação de imagens e concepções do mundo e do homem, sendo a partir dessas análises mais aprofundadas de fundamentos e de mecanismos sistêmico-culturais que os estudos respectivos adquirem a sua relevância maior, inclusive para a avaliação de suas implicações e consequências. É nesse sentido que a A.B.E. vem realizando há anos estudos e encontros em vários contextos e centros de pesquisa cultural, salientando-se aqui o Museu do Carnaval de Aruba, em 2005. Esses trabalhos tiveram agora continuidade nas ilhas atlânticas, considerando-se aqui sobretudo uma expressão que marca o carnaval canário e que é também conhecida do repertório de imagens latino-americano: los diablos ou diabletes. Essas figuras, com rostos pintados de vermelho e com chifres de bode, percorrem as ruas durante o carnaval, representando uma tradição viva em especial em Teguise (Veja notícía). Trazem uma vara com uma bolsa de couro de cabrito pendurada (garabato), com a qual batem nos passantes. Similares expressões na América Latina são e.o. os Diablos Danzantes da Venezuela e os Vejigantes de Puerto Rico. No passado - o que é de especial interesse para o Brasil - essa imagem trazia em Haría, Teguise, uma grande cabeça de boi. O costume de fustigar, golpear ou sujar passantes tem sido estudado nas suas remotas origens e sentidos. Exemplos canários são Los Carneros de Tigaday na ilha de El Hierro ou os Buches de Arrecife. Os pesquisadores canários salientam que o uso de máscaras representando animais, em particular o boi, com conotações negativas, surge como uma constante em diversos contextos culturais. Uma das características da imagem é o uso de campânulas e guisos em tiras ao cruzadas ao peito, assim como roupas de tecido colorido e desenhos reticulados.



28.02.2013

Estudos culturais canários-brasileiros - Cavaquinho e Timple: Casa-Museo del Timple em Teguise, Lanzarote. Os instrumentos musicais de corda dedilhadas - entre êles viola, violão e cavaquinho - desempenham um papel de central relevância nos estudos da cultura musical brasileira. Os estudos respectivos apenas podem ser desenvolvidos adequadamente se atentarem a contextos e processos internacionais. Esses instrumentos também são de fundamental significado sobretudo para a cultura de muitos outros países latino-americanos e vários europeus, em particular os ibéricos. Por essa razão, o I.S.M.P.S. vem desenvolvendo há anos trabalhos em vários países e considerando fontes relativas a diversas épocas e contextos nas respectivas regiões. Não apenas os fundamentos simbólicos desses instrumentos, de antiga proveniência, vêm sendo considerados, mas também a situação da pesquisa nas várias nações. Um exemplo desses trabalhos foi o da visita da Casa do Trovador Luis Miranda Pico de Oro em Caguas, Puerto Rico, em 2005, um dos mais representativos centros de estudos da recepção latino-americana desses instrumentos e respectivas tradições (http://www.revista.brasil-europa.eu/94/Casa-do-Trovador-Caguas.htm). De fundamental importância para esses estudos é a Casa-Museo del Timple na antiga capital de Lanzarote, a vila de Teguise. A instituição é dedicada à música e à cultura tradicional das Canárias e que têm como principal elemento o timple, um pequeno instrumento de curda que é um dos símbolos sonoros do arquipélago. Através dos seus artesãos, Teguise desempenhou importante papel na difusão do timplo entre as ilhas, tornando-se assim um porta-voz da identidade cultural canária nas suas relações com outros contextos culturais, países e com tendências mais recentes da criação musical. O museu apresenta exemplares de timples de várias épocas, muitos de renomados artesãos locais, inserindo-o no desenvolvimento de instrumentos similares de diferentes regiões. Trata-se de um museu de extraordinário acervo de cordofones, tratado a partir da perspectiva do timple. A casa-museo apresenta-se como centro museológico e de pesquisa organológica exemplarmente organizado. Neles se consideram três âmbitos de interpretação do instrumento: os tocadores populares, que executam o instrumento de forma espontânea, os timplistas de grupos folclóricos e os concertistas.Entre os „parentes próximos“ do timple consideram-se o quatro (Venezuela, Puerto Rico), o Ukelele (Hawaii-Estados Unidos), o Tiple (Colombia, Cuba e Puerto Rico), o Charango (Peru, Bolivia, o Guitarrico (Espanha), o Cavaco (Madeira-Portugal) e o Cavaquinho (Portugal, Brasil).



21.02.2013

Tradições relacionadas com o Atlântico: celebrações festivas em São Vicente/SP. No contexto dos trabalhos euro-brasileiros realizados em São Vicente/SP e dedicados a questões de fundamentos de processos culturais na esfera atlântica (Veja notícia), presenciou-se as celebrações festivas de culto realizadas na praia vicentina no domingo seguinte à tradicional festa religiosa de 2 de fevereiro (Purificação de Na. Sra. ou de N. Sra. da Luz do calendário católico). Nos pronunciamentos, salientou-se a participação de praticantes vindos de outras cidades nas celebrações. Esse fato foi visto como exemplo encorajador a uma demonstração explícita e auto-consciente daqueles vinculados a essas formas de culto; estes foram incentivados a manifestar publicamente o seu pertencimento ao „axé“ e.o. através do uso de contas em colares e braceletes. Essa exortação a um „outing“ de praticantes por parte de responsáveis pela celebração em São Vicente surge como compreensível perante as acusações de que exerceriam um culto diabólico, ouvidas sobretudo da parte de líderes religiosos evangelicais. Essas acusações foram expressamente refutadas como infundadas e insultuosas nos pronunciamentos. Significativamente, a celebração incluiu a oração coletiva de um Pai Nosso. Essas interpretações - que, pelo que tudo indica intensificam-se no presente -, refletem um insuficiente conhecimento teológico-hermenêutico de leitores que se baseiam superficialmente no sentido literal de textos bíblicos, tornando-se assim incapazes de atentar adequadamente a sentidos velados, estruturas subjacentes e à linguagem de imagens. Por outro lado, porém, não se deveria silenciar também a respeito de um outro problema decorrente de leituras superficiais: aquele que leva ao entendimento da linguagem de imagens transmitida pela tradição como testemunho de proveniências e circunstâncias históricas, o que tem levado a hipóteses e teorias que necessitam ser revistas. Nos trabalhos euro-brasileiros que vem sendo desenvolvidos nas ilhas canárias (Veja notícias), tem-se dado particular atenção à intensidade do culto e de formas de expressões marianas relacionadas com o Atlântico à época dos Descobrimentos e no contexto do assentamento e colonização do mundo insular. Grandes monumentos arquitetônico-culturais  são e.o. a catedral de Las Palmas de Gran Canaria e o da igreja de La Gomera, onde os marinheiros rezavam a Salve antes da viagem transatlântica ao Novo Mundo.



20.02.2013

Questões teórico-culturais de encenações históricas no Brasil e nas ilhas atlânticas: Parque Cultural Vila de São Vicente (SP). No contexto do encontro realizado no Museu Casa Martim Afonso em São Vicente/SP (Veja notícia) visitou-se conjunto arquitetônico recentemente construído na Praça João Pessoa, situada defronte à igreja matriz, e que procura trazer à consciência dos habitantes e turistas o significado de São Vicente como primeira vila do Brasil. Como explicitamente reconhecido, trata-se não de uma reconstrução, mas sim de uma construção cenográfica que procura mostrar o modo de vida no início da colonização do país. Pretende atuar como uma máquina de tempo, reproduzindo cenas do cotidiano do assentamento. As construções contam com elementos „originais“, como madeiras e telhas „feitas nas coxas de escravos“ e oriundas de uma fazenta em Araxá (Minas Gerais). As construções baseiam-se em representações encontradas em quadros do pintor Benedicto Calixto (1853-1927). Dessa forma, visões historicistas da pintura acadêmica passam a fornecer bases para a reconstrução urbano-arquitetônica e da vida social e cultural de remotas épocas. O complexo do Parque Cultural surge, assim, como espécie de museu ao ar livre na tradição dos museus histórico-etnográficos (Frelichtmuseen), apresentando, porém, um cunho mais acentuado de parque de lazer com lojas, cafeterias e palco para representações (Teatro Sé de Anchieta). Os problemas desse histórico-arqueológicos do projeto foram tratados pelo historiador Carlos Alberto Fabra Perugorria da Casa Museu Martim Afonso, que salientou o fato de naquele local ter existido uma igreja de Santo Antonio e as dificuldades que a sua construção coloca para o desenvolvimento de pesquisas de fundamentos. Chamou a atenção, também, às relações entre diferentes acepções de museologia e do trabalho de pesquisa por parte de políticos e administradoras. Nessa ocasião, lembrou-se das observações recentemente feitas por pesquisadores da A.B.E. em museus ao ar livre e memoriais nas ilhas canárias, e que dizem respeito à mesma época histórica e a processos culturais relacionados com o período dos Descobrimentos e da
transformação cultural de indígenas na esfera atlântica. Também em diferentes ilhas canárias, em particular em Tenerife, constatam-se memoriais dos primeiros tempos, estes, porém, procuram valorizar o passado indígena. Em São Vicente, porém, a visão subjacente ao complexo é fundamentalmente marcada pela ótica do colonizador. Esses memoriais e encenações do indígena canário, que também manifestam estilisticamente a influência de representações romântico-sentimentais e historistas, diferem, porém, dos museus ao ar-livre voltados à cultura tradicional popular resultante do processo colonizador.



18.02.2013

Pressupostos da ação dirigida em processos culturais no Brasil e no contexto insular atlântico. Encontro  no Museu Martim Afonso de S. Vicente/SP. Realizou-se, no dia 3 de fevereiro, encontro da A.B.E. com responsáveis do Museu Casa Martim Afonso, em S. Vicente, cidade que é decantada como sendo a primeira do Brasil e núcleo „do processo civilizatório da nação brasileira“. Assim como constatado em trabalhos recentes realizados em La Laguna (Veja notícia), também em S. Vicente o vulto de Anchieta marca a imagem e a memória da cidade do litoral paulista, que tem na fonte designada com o nome do missionário um de seus principais emblemas. Se em La Laguna a atenção foi dirigida à necessidade de consideração dos pressupostos culturais canários de Anchieta no estudo de seus métodos e suas obras, na Casa de Martim Afonso em S. Vicente salientou-se a exigência de uma de-mitologização da história dos primeiros tempos também do lado do receptor como pré-condição para uma atualização dos estudos da ação jesuítica. Nas suas explanações, o historiador Carlos Alberto Fabra Perugorria descreveu os principais problemas historiográficos e arqueológicos da pesquisa vicentina, o estado e as dificuldades da investigação científica e da museologia, as suas implicações político-culturais, salientando, porém, não haver dúvidas quanto à existência de contatos, atividades e mesmo de uma comunidade anterior à chegada de Martim Afonso e à sua fundação oficial en 1532. A atenção da pesquisa dirige-se, assim, aos indícios que permitem cuidadosas aproximações na reconstrução de uma história anterior necessária para a compreensão de desenvolvimentos. Entre outros aspectos, lembrou-se de menções relativas à atuação de judeus ibéricos na região de Cananéia - cujo nome até mesmo sugere possíveis explicações e associações - nas suas relações com o local mais recôndito de S. Vicente, tendo aqui ocorrido mais intensas ações de comércio escravo indígena. A pesquisa vicentina apresenta-se assim como de fundamental relevância para estudos de processos históricos de orientação teorico-cultural no Brasil. O seu desenvolvimento, porém, exige a consideração de contextos mais amplos, em particular do ibérico continental e insular atlântico, onde ocorreu, como nas Canárias, o início de um processo de assentamento de comerciantes europeus e missionários acompanhado pelo submissão, escravização, extermínio e/ou assimilação dos nativos que prolongou-se no Novo Mundo.



17.02.2013

Mirador de Humboldt em La Orotava, Tenerife - marco emblemático do significado das Canárias para os estudos americanos. Sobre a planície de La Orotava - Valle de Orotava - , cidade situada no norte da ilha de Tenerife, a ca. de 30 km de Santa Cruz, levanta-se uma plástica de Alexander von Humboldt (1769-1859), obra da escultura Ana Lilia Martin. Essa obra recorda a estadia do pesquisador alemão em 1799 nas Canárias e a sua admiração pelo panorama que dali se descortina e que possibilita uma visão de Puerto de la Cruz, La Orotava e o pico do Teide. A área, que comporta também um café, uma loja de souvenirs e um espaço para música e exposições, foi reinaugurada, após muitos anos em construção, em 2010, vindo a substituir o antigo mirador, levantado nos anos 50. Em placa ali instalada, lembra-se que A. von Humboldt declarou ser aquela a mais magnífica paisagem que até então havia visto, êle que percorrera as margens do Orinoco, as cordilheiras do Peru e os belos vales do México. Em nenhum lugar havia contemplado panorama tão diversificado e harmônico na distribuição da vegetação e das rochas. Essa paisagem apenas podia ser comparada com aquela dos golfos de Gênova e Nápoles, a êles superando, porém, pelas suas dimensões e pela riqueza de sua vegetação. Esse significado emprestado ao local pelo grande cientista do continente americano faz com que o mirador se torne um local emblemático nos estudos culturais que consideram os estreitos elos que unem as Canárias com a América Latina.



16.02.2013

Salvador, BA: Encontro Nacional de Organistas. Realizar-se-á, de 5 a 8 de março, em Salvador, Bahia, encontro nacional de organistas dedicado ao tema „O órgão no Brasil: história e patrimônio“. Esse encontro visa acelerar o processo de restauração dos órgãos da Bahia e sedimentar os contatos que vêm sendo feitos há anos por Marcos Santana, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Organistas. O encontro incluirá palestras, comunicações, aulas de órgão e Canto Gregoriano, exposição, assim como visita a órgãos. Informações adicionais serão divulgadas no site da Associação.



16.02.2013

Miriam Emerick de Souza Carpinetti, Presidente da Associação Brasileira de Organistas, membro correspondente da A.B.E.. Graduada em Canto e Piano pelo antigo Instituto Musical de São Paulo e em Órgão pela UNESP, tendo realizado estudos particulares em Composição (Hans-Joachim Koellreutter, Osvaldo Lacerda), cravo e participado em masterclasses em regência e órgão, Miriam Emrick de Souza Carpinetti apresentou-se em concertos no Brasil, no México e nos Estados Unidos. Mestre em Música pela UNICAMP, prepara atualmente o seu doutoradoem Música/Processos Criativos na mesma universidade.



15.02.2013

Uberlândia, MG:Aldo César dos Reis Borba Júnior, correspondente da A.B.E.. Inscreveu-se como membro correspondente da organização Aldo César dos Reis Borba Júnior, com formação em Filosofia e Teologia (católica). Desde o falecimento do Prof. Dr. Calimério Soares, conselheiro da A.B.E., tem-se sentido a falta da presença de Uberlândia nos trabalhos da organização.



15.02.2013

Belo Horizonte, MG. Programa Harmonia da Rede Minas prepara matéria sôbre Maura Moreira. Camila Coeli, produtora do programa Harmonia da Rede Minas desenvolve pesquisas para a elaboração de uma matéria a respeito da cantora lírica Maura Moreira, entrando para isso em contato com a A.B.E.. Durante anos ativa na Ópera de Colonia, Maura Moreira foi uma das fundadoras do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Lingua Portuguesa (ISMPS), ao qual colaborou intensamente através da realização de recitais.



14.02.2013

Casa de Anchieta em La Laguna, Tenerife.  No âmbito dos estudos euro-brasileiros que vêm sendo desenvolvidos nas ilhas atlânticas (Veja notícias), visitou-se, em janeiro do corrente ano, a Casa de Anchieta em San Cristóbal de La Laguna, em Tenerife. Essa casa, hoje ocupada por uma dependência do Bispado da Diocese Nivariense, é considerada como um bem de interesse cultural, tendo sido qualificada como monumento em 1986. Se as casas de Colombo em Las Palmas de Gran Canaria e La Gomera (Veja notícias) adquirem significado para a história do Descobrimento das Américas em geral, a casa daquele que viria a ser um dos mais significativos missionários do Brasil surge como de ainda maior relevância para os estudos de processos culturais relacionados com a atuação da Companhia de Jesus. Em vários eventos da A.B.E. realizados nas últimas décadas, a atenção foi dirigida à análise dos mecanismos de transformação cultural dos indígenas postos em vigência pelos missionários, e para o qual as obras do Pe. José de Anchieta (1534-1597) oferecem importantes subsídios. Para desenvolvê-la adequadamente,  torna-se necessário considerar os pressupostos culturais do próprio missionário.  Em sessões realizadas no Museu Anchieta do Páteo do Colégio e no Centro Cultural São Paulo, no contexto do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais pelos 450 anos da fundação da cidade, em 2004, considerou-se sobretudo o papel desempenhado pelo universo cultural e religioso de Coimbra na sua formação. Como então discutido, aspectos de suas obras que indicam imagens e práticas remontantes a expressões culturais populares e que surgem como de especial significado para análises culturais exigem, porém, que se considere com mais atenção a inserção de Anchieta na tradição religiosa e, assim, o contexto de sua infância e primeira juventude nas ilhas Canárias. Segundo a tradição histórica, o Pe. José de Anchieta viveu na casa que hoje leva o seu nome em La Laguna, e que pertenceu no século XVI ao capitão e escrivão público de Tenerife, Juan de Anchieta. A atual fachada, de 1905, é da época do poeta Manuel Verdugo (1877-1958), que ali residiu. A casa do „Apóstolo do Brasil“ garante a contínua presença do Brasil, em especial de São Paulo, em La Laguna.



08.02.2013

Tradições canárias lidas a partir dos estudos culturais brasileiros: os Piques de Agulo de La Gomera. Os estudos de expressões culturais te do repertório lúdico de fundamentação religiosa que vem sendo desenvolvidos em contextos euro-brasileiros contribuem para esclarecer o sentido de tradições que se mantiveram vivas ainda em passado recente em regiões mais afastadas das ilhas canárias. Esse é o caso dos Piques de La Gomera. Em visita à região em que eram praticados, constatou-se que a estrutura básica de duas colunas que se conhece de expressões tradicionais brasileiras ali se refletia não apenas na constituição de dois bandos, mas também na configuração espacial da localidade. Esta possuia dois bairros, o de Las Casas e o de La Montañeta, separados entre si por terrenos de cultivo ou baldios. Entre os habitantes dos dois bairros desenvolvia-se por ocasião de festas um desafio, durante o qual improvisavam-se estrofes que eram respondidas ao ritmo de canções populares, com letras improvisadas, destinadas a provocar ou „incordiar“ os vizinhos. Durante os festejos, constituiam-se dois bandos que, cada um sob a liderança de um rei ou uma rainha, rivalizavam entre si quanto à beleza e ao aparato dos atos. Realizavam-se cavalhadas e cortejos. Balões de fabricação artesanal eram por último vistos como elementos imprescindíveis dos festejos. Essa tradição extinguiu-se em 1979 como resultado da emigração e da migração de jovens para as cidades maiores. A reconstrução dessas expressões é feita sobretudo a partir de fotografias e testemunhos escritos e orais. Nesses documentos, constata-se porém transformações sensíveis no decorrer dos tempos quanto a trajes e atributos caracterizadores. As fotografias mais antigas permitem porém que se reconheça grande similaridade com expressões ainda vivas na
tradição brasileira. Este é o caso de bandos que apresentavam atributos conotativos de mouros e que podem ser explicados a partir de ordenações simbólico-antropológicas de antiga proveniência e de fundamentação religiosa.



06.02.2013

Um monumento de interações ibéricas no „gótico atlântico“: a igreja da Assunção de São Sebastião de La Gomera. Se a presumida „Casa de Colombo“ em La Gomera adquire significado antes como testemunho da cultura celebrativa e de construção histórica a serviço da auto-consciência cultural canária, há um monumento arquitetônico nessa principal cidade da ilha de La Gomera que merece de fato particular atenção nos estudos arquitetônicos de orientação cultural e como documento histórico. Trata-se da igreja remontante a uma ermida levantada ao redor de 1440 em local marcado por três altíssimas palmeiras - segundo os cronistas mais altas do que a torre de Sevilla - por Hernán Peraza, nome de explorador espanhol que entrou na história pela opressão e desmandos que cometeu contra os aborígenes. Essa capela, a fortaleza e a sua própria casa representavam, sob a invocação de São Sebastião, o núcleo o ponto de partida de todos os caminhos que penetravam o interior da ilha. Foi nessa igreja que os marinheiros das naves de Colombo teriam realizado os seus atos religiosos antes da travessia do oceano nas primeiras viagens. Em fins do século XVI, levantou-se uma igreja maior e mais representativa, da qual restam o arco entre a capela e a nave e, sobretudo, a sua fachada. Nesta, tem-se constatado uma fusão de estilos, do Manuelino português e do estilo „Reyes Católicos“. A igreja sofreu grandes perdas e danos com incursões de piratas, e tem-se referências a medidas que se tomavam para salvaguardar os sinos e os livros em caso de ataques. Também sofreu perdas com a venda de móveis e sobretudo de seu órgão para o aproveitamento de madeira e de metais. Mesmo assim, a igreja apresenta valioso mobiliário e estatuária, com imagens e pinturas que denotam expressões de arte popular. Nessas interações entre os impulsos artísticos ibéricos e a arte popular reside o grande significado do templo sob a perspectiva dos estudos culturais. Um grande afresco náutico estabelece relações entre as representações religioso-artísticas e os feitos históricos. As relações religioso-culturais entre São Sebastião de la Gomera e as Américas refletem-se na tradição que afirma ter sido a água de um poço da cidade levada para o „batismo“ do continente americano.



04.02.2013

Construções históricas relativas a Colombo a serviço de imagens culturais: a „Casa de Colombo“ em La Gomera. O significado emprestado a Colombo nas ilhas Canárias e que fundamenta a auto-consciência regional de um papel privilegiado do mundo insular atlântico na história dos Descobrimentos leva a construções históricas que extrapolam fatos documentados. Um exemplo de encenação celebrativa dos feitos colombinos é a „Casa de Colombo“ em La Gomera. Nessa ilha, Colombo fêz as suas últimas escalas nas três primeiras viagens do Descobrimento, ou seja, a ilha a última terra pisada do mundo já marcado pelos europeus antes da travessia do Atlântico. Essas estadias de alguns dias justificavam-se pela necessidade de reparações e abastecimento de víveres e de água antes da longa viagem marítima. Segundo tradição não fundamentada, reconhecida por muitos como mera construção histórica, Colombo teria vivido na casa que abriga hoje um museu que traz o seu nome e que é conhecida como „Casa Colón“. Na realidade, trata-se de uma casa do século XVII, situada na Calle Real de San Cristóbal de la Gomera. Nos seus espaços, apresentam-se objetos utilizados nos navios à época de Colombo e quadros informativos de suas viagens e dos contextos nas quais decorreram. As viagens de conquista da América são tão celebradas em outro edifício, a „casa do poço de la Aguada“. Para além de objetos náuticos e mapas históricos, a Casa Museu Colombo possui também fundos arqueológicos e etnográficos das Américas.



03.02.2013

Referenciais culturais de perspectivas histórico-geográficas dos Descobrimentos. Encerramento do ano de Amerigo Vespucci (1451-1512). Por motivo da passagem dos 500 anos da morte daquele a quem a América deve o seu nome, rememorada em 1512 sobretudo na Itália, a A.B.E. promoveu uma série de ciclos de estudos dedicados a fundamentos de processos culturais euro-mediterrâneo-atlânticos. A atualidade do tema justificou-se sobretudo pelo fato de Marseille estar-se preparando para ser capital  européia da cultura de 2013. (http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Indice_138.html) Coincidindo com a inauguração desse ano cultural de Marseille e encerrando o ano de Vespúcio, os ciclos de estudos euro-brasileiros de 2013, considerando agora contextos insulares atlânticos, trouxeram mais uma vez à consciência as diferentes perspectivações nacionais da história dos Descobrimentos e a necessidade de sua superação ou relativação refletida a serviço do próprio conhecimento e dos esforços integrativos europeus e americanos. O pêso dado a ocorrências e a valorização de personalidades e feitos dos Descobrimentos na Itália, na França, na Espanha e em Portugal diferem entre si e levaram à criação de distintas culturas de saber historiográfico e imagens. Nas ilhas Canárias, o observador brasileiro, marcado pela cultura histórica referenciada em Portugal, surpreende-se ao deparar com nomes pouco conhecidos e com outros enfoques de desenvolvimentos históricos da visão espanhola e, em particular, da insular canária. Um local particularmente adequado para essas reflexões é a exposição cartográfica do museu instalado na Casa Colón de Las Palmas de Gran Canaria (Vieja notícia). Essa instituição guarda uma das mais valiosas coleções de mapas históricos que testemunham a transformação da visão da terra com o aumento de conhecimentos geográficos possibilitados pelos Descobrimentos. Para além dos documentos cartográficos, ou em parte inseridos nos próprios mapas, a exposição inclui imagens
que representam povos e a natureza de terras então descobertas. Um exemplo significativo para o encerramento do ano Vespúcio é a reprodução ampliada e publicada por Carlos Sans de uma ilustração da entrada da sua nave na desembocadura do Rio de la Plata publicada em Nuremberg, G. Stuchs, em 1505/6, e que apresenta indígenas sul-americanos.



01.02.2013

As Ilhas Canárias no estudo cultural da difusão de plantas e suas consequências: propagação de bananas pelos Franciscanos. O arquipélago canário merece particular atenção sob a perspectiva do programa Cultura/Natureza da A.B.E.(http://www.akademie-brasil-europa.org/Cultura-Natureza-Musica/index.htm). Tendo sido redescoberto pelos europeus na Idade Média muito antes do Descobrimento da América - e do Brasil-, as ilhas atlânticas experimentaram também com antecedência processos de transformação do mundo natural vinculados com a ocupação, o comércio, a colonização regional e aquela do Novo Mundo. As Ilhas Canárias testemunham sob diversos aspectos as relações entre processos culturais e o mundo natural. Os problemas ecológicos deles resultantes e as perspectivas de recuperação e valorização ambiental já foram objeto de estudos da A.B.E. realizados na Fundação César Manrique, em Lanzarote, em 2006 (http://www.revista.brasil-europa.eu/102/CesarManrique.htm). Um aspecto agora considerado com maior atenção diz respeito ao papel desempenhado pelas Canárias na difusão das plantas e seu cultivo, assim como, reciprocamente, na recepção de espécimes extra-européias com as suas múltiplas consequências para a transformação do uso da terra, de formas de trabalho, de hábitos alimentares e da economia. Esse papel canário na difusão de plantas marca a consciência histórica das ilhas, fato demonstrado através de inscrições e referências várias. Assim, em Las Palmas de Gran Canaria, em quadros de azulejos pintados fixados nas paredes do convento franciscano, a Câmara de Comércio e a Comissão de Turismo da cidade
perenizou, em data comemorativa do Descobrimento das Américas, dia 12 de outubro de 1988, a informação de ter sido o Fray Tomas de Berlanga, mais tarde bispo do Panamá, aquele que, em 1516, levou a Santo Domingo a banana, fruta que logo se difundiu pelas Antilhas e pelo continente americano. A ação dos Franciscanos na introdução e na plantação de bananas no Novo Mundo, representado em pinturas, é baseado na Historia Natural de las Indias do cronista Fernandez de Oviedo (libro VI-VIII).



30.01.2013

Música e musicologia nos estudos canários. Significado para a pesquisa musical latino-americana. Nos trabalhos da A.B.E. desenvolvidos no arquipélago canário para o início dos ciclos de estudos mediterrâneo-atlânticos do corrente ano (Vide notícias), a consideração do estado da pesquisa relacionada com a música desempenhou importante papel.  Já há muito a música canária vem recebendo particular atenção em seminários e cursos de musicologia de orientação teórico-cultural em contextos globais desenvolvidos em universidades alemãs em cooperação com o I.S.M.P.S. e a A.B.E.. Já a presença do „Canário“ em suítes do repertório musical mais antigo chama a atenção para o significado de processos culturais que se desenvolveram no arquipélago para o estudo da recepção de expressões extra-européias na cultura musical do Ocidente. A música das Canárias não possui relevância apenas para estudos de tradições musicais populares e para a Etnomusicoloia no sentido convencional dessa área disciplinar, mas também e sobretudo no sentido amplo do estudo de processos músico-culturais em relações internacionais. Um aspecto que tem sido particularmente considerado é o do significado da prática da banda de música a partir do século XIX nas Canárias e suas relações com o mundo da emigração canária na América Latina, fato salientado no âmbito dos trabalhos da A.B.E. por ocasião de festival de música de banda em Teneriffa, em 2006. Constata-se, agora, o extraordinário desenvolvimento da produção sonora de relevância musicológica nas ilhas Canárias e que demonstra o intuito de uma valorização do patrimônio cultural canário em todas as suas formas de expressão. Assim, um grande número de CDs recupera numerosas obras para piano, para câmara música e orquestra de compositores do arquipélago, inclusive também de exemplos de música de salão. Projeto musicológico mais relevante dos últimos anos é o Proyecto Rals de Canarias, que levou à publicação de Rosario Álvarez e Lothar Siemens referente à música na sociedade canária através da história, cujo primeiro volume trata do passado aborígene e da época até 1600 (La Música en La Sociedad Canaria a través de la Historia I: Desde el Período Aborigen hasta 1600, El Museo Canario Y Cosimte, 2005, ISBN 84-89842-21-3, vol I: 84-89842-20-5). O RALS é um projeto musicológico dedicado à recuperação e difusão do patrimônio musical das Canárias promovido pelo Departamento de
Musicologia de El Museo Canario e pela Associación de Compositores y Musicólogos de Tenerife. A obra, dedicada à memória de Lola de la Torre Champsaur (1902-1998), impulsionadora da pesquisa musicológica das Canárias, trata, no seu capítulo I, dos Aborígenes Canários e de sua música, no seu capítulo II, dos séculos XIV e XV, e,  no seu capítulo III, do século XVI. Nesses capítulos, discute-se pormenorizadamente processos de transformação cultural em contextos históricos. O volume inclui por fim uma tábua cronológica dos mestres de capela e organistas da catedral de Santa Ana no século XVI e, como epílogo, trata do fim do legado musical do século XVI com os ataques de piratas.A catedral de Santa Ana, de cinco naves, remontante a 1497, é não apenas principal monumento da arquitetura religiosa como também da história da prática musical da época da colonização das Canárias e dos Descobrimentos.



28.01.2013

Produção científico-cultural canária: significado para a análise de processos culturais em relações Europa-América Latina. Principal escopo dos trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos em instituições de Las Palmas de Gran Canaria como abertura dos ciclos de estudos atlânticos pelo ano de Marseille como capital européia da cultura 2013 (Veja noticias) foi o de tomar conhecimento do estado atual das pesquisas que ali se desenvolvem ou que se referem ao mundo insular canário sob a perspectiva de seu significado para estudos culturais em contextos euro-latinoamericanos. Essa atualização de conhecimentos tornou-se necessária pela insuficiente consideração da produção científico-cultural específica nas universidades centro-européias, o que surge como grave sobretudo no caso de instituições dedicadas à América Latina. O arquipélago canário foi, devido a condições geográficas, sobretudo aos ventos Passat e às correntes marítimas, local estratégico para as travessias do Atlântico. A consciência canária desse fato manifesta-se na expressão de que as famílias insulanas que se assentaram nas Américas foram „fazedoras de povos“. Constata-se uma tendência regional em salientar o fato de terem sido as ilhas canárias uma base experimental do Novo Mundo.As atividades de pesquisa referentes ao mundo atlântico de língua espanhola surpreendem pela sua intensidade, o que se manifesta no número e na qualidade de publicações. Os trabalhos não se limitam somente à época dos Descobrimentos, abrangendo uma ampla gama temática. Constata-se também um interesse acentuado por questões de natureza teórico-cultural segundo tendências mais recentes das discussões, o que surge como de particular interesse sob a perspectiva da A.B.E. por tratarem de contextos internacionais devido à própria situação do arquipélago. Exemplo significativo de um desses trabalhos é o livro de Nicolás González Lemus sobre imagens da sociedade insulana na prosa de viagem em particular de viajantes victorianos nas Canárias (Viajeros Victorianos en Canarias: Imágenes de la Sociedad Isleña en la Prosa de Viaje, Prólogo de Raymond Carr: Las Palmas de Gran Canaria: Cabildo Insular de Gran Canaria 1998, ISBN 84-8103-183-6). O autor, natural de La Orotava (Tenerifa), formado em Filosofia pela Universidad de La Laguna, distingue-se pelo seu interesse pela cultura inglêsa e suas relações com o mundo insulano atlântico. Vários são os temas de interesse mais específicamente teórico cultural abordados na sua obra, entre êles o do papel das mulheres viajantes, as referências a costumes, a atividades lúdicas, a festas, em particular ao carnaval e às romarias, a expressões tradicionais também conhecidas no Brasil, como a „queima de Judas“, assim como crenças e práticas religiosas, em particular relacionadas com a Candelária. A obra inclui uma resenha biográfica dos principais viajantes. Devido ao papel ainda maior exercido pelos inglêses e pela cultura britânica na esfera portuguesa, em particular na Madeira, o trabalho de N. G. Lemus desenvolvido a partir do contexto insular espanhol assume particular relevância para a complementação dos estudos afins em português.



27.01.2013

Conquista do mundo insular atlântico e a história dos Descobrimentos e da Conquista nas Américas. Segunda sessão de abertura dos trabalhos euro-brasileiros: Casa Colón. Se no Museu Canario considerou-se sobretudo aspectos antropológicos, de processos de transformações culturais de Guanches e de movimentos emigratórios das ilhas canárias ao continente americano (Vide notícia), na visita realizada à Casa Colón no dia 14 de janeiro a atenção foi dirigida sobretudo ao papel desempenhado pelas ilhas canárias na história das viagens de Colombo, um fato insuficientemente considerado na literatura. Esse edifício, um monumento da arquitetura colonial atlântica, abriga um Museu de Colombo que apresenta objetos, documentos e mapas que testemunham a inserção das viagens colombinas no contexto dos processos de ocupação, exploração e de transformação cultural do mundo insular. Las Palmas foi fundada já antes do tratado de Alcaçovas (1478), quando iniciou-se a conquista da ilha, completada em 1483. A conquista das Canárias foi terminada apenas em 1496 com a batalha de La Victoria de Acentejo em Teneriffa, ou seja, alguns anos após o feito de Colombo (1492). Como os seus navios, após reparações, partiram das ilhas canárias, salienta-se, na Casa Colón, a consciência regional do papel desempenhado pelo arquipélago na história dos Descobrimentos. Trazendo à consciência a inserção das viagens colombinas no contexto de processos de conquista e colonização das Canárias, a exposição do Museu vem de encontro à orientação que vem sendo seguida nos estudos euro-brasileiros e que salientam a necessidade de reconsiderações dos estudos históricos dos Descobrimentos a partir de perspectivas abertas pelo debate mais recente relativo a processos culturais.(e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Oceania-Descobrimento-Portugues.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Leif_Eriksson_e_Hallgrimskirkja.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/130/Egmont_Zechlin.html)



26.01.2013

Contatos de europeus com os canários e processos de transformação cultural das populações indígenas do Atlântico. Abertura de trabalhos euro-brasileiros: El Museo Canario. Os ciclos de estudos euro-brasileiros que se realizarm „sob o sigtno de Gibraltar“ no ano de Marselha como Capital Européia da Cultura  (Vide notícia), foram abertos no dia 13 de janeiro no Museu Canario de Las Palmas de Gran Canaria. Esse museu é a principal instituição de pesquisas antropológicas das populações do mundo insular atlântico anteriores à chegada dos europeus em fins da Idade Média e das transformações por que passaram com a cristianização, tomada de posse e colonização das ilhas. Esses processos precederam e prepararam sob vários aspectos o encontro de europeus com indígenas do continente americano. A sua consideração representa, assim, pressuposto para estudos relativos a processos de mudança cultural desencadeados no Novo Mundo. O Museu Canario também é o principal centro para o estudo das emigrações canárias, trazendo à consciência o papel relevante desempenhado pelos colonos canários na história colonial de vários países latinoamericanos no decorrer dos séculos, em particular do Caribe e, mais recentemente, da Venezuela. O considerável desenvolvimento dos estudos culturais canários no presente manifesta-se em publicações e em gravações de música canária de diferentes épocas e gêneros. Com essa visita, retomaram-se sob novas perspectivas trabalhos da A.B.E. desenvolvidos em várias instituições do mundo insular atlântico. (http://www.revista.brasil-europa.eu/101/MuseuEmigrante.htm)



11.01.2012

Trabalhos de preparação para novos ciclos de estudos mediterrâneo-atlânticos - sob o signo do "Estreito de Gibraltar". Dá-se prosseguimento, em janeiro do corrente ano, aos estudos euro-brasileiros iniciados em Marselha e desenvolvidos em várias cidades do Mediterrâneo e do Atlântico em 2012. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Indice_138.html ) Motivados pelo fato de ser Marselha uma das capitais européias da cultura de 2013, os ciclos de estudos no ano preparatório das celebrações foram voltados aos fundamentos de processos culturais que relacionam desde remotas eras a esfera do „mar interno“ e do oceano. A escolha de Marselha como ponto de partida para o tratamento desse complexo temático justificou-se pelo fato de ter sido principal colonia greco-insular a Ocidente e desempenhar através dos séculos uma função mediadora entre culturas, constituindo hoje cidade que se salienta pela sua pluralidade cultural e religiosa. Tendo sido os estudos até agora desenvolvidos de forma contextualizada em cidades continentais da França, Espanha e Portugal, o mundo insular mais a sul deverá ser o alvo das atividades do corrente ano. A consideração mais pormenorizada das ilhas atlânticas possibilita o reconhecimento e o estudo de elos entre o contexto do Mediterrâneo nas suas relações com a história das Descobertas de fins da Idade Média e início da Era Moderna e que são de significado para o Brasil. Para a realização dos preparativos e definição de prioridades realizam-se agora trabalhos finais no Centro de Estudos Brasil-Europa, precedendo o encerramento temporário de suas atividades, que serão retomadas apenas a partir de 25 de janeiro do corrente ano.



08.01.2013

Recife. Da correspondência: membro correspondente da A.B.E.. A Professora Rita Ribeiro Voss, do Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE inscreve-se como membro correspondente da A.B.E..



07.01.2013

Espírito Santo. Reconhecimento do Arquivo Augusto Ruschi. O professor Taiguara Villela, do Departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Espírito Santo, que vem desenvolvendo trabalhos que vinculam arquivística com estudos ambientais, comunica que o acervo do advogado, agrônomo, naturalista e ecologista Augusto Ruschi, fundador do Museu Mello Leitão em Santa Teresa, Espírito Santo, foi reconhecido como de interesse público e social pelo Ministério da Justiça. Juntamente com André Ruschi, filho do falecido pesquisador, T. Villela organizou um acervo constituido por grande número de documentos, livros, trabalhos científicos, fitas de vídeo e milhares de diapositivos. Esses materiais encontram-se em Santa Teresa e em Aracruz (A Gazeta, 26 de dezembro de 2012). O Museu que traz o nome do zoólogo Prof. Candido Firmino de Mello Leitão (1886-1948) de Santa Teresa foi visitado por comissão interdisciplinar de pesquisadores da A.B.E. em 2007 (http://www.revista.brasil-europa.eu/105/Imigrantes-Espirito-Santo.htm). O alto valor que Augusto Ruschi dava à riqueza botânica do Brasil manifesta-se na sua expressão „Estas plantas valem mais do que a minha própria vida“, de junho de 1946, gravada em placa. Por ocasião dos seus 90 anos, lembrou-se também da sua declaração: „Ando dentro desta floresta melhor do que você na rua. Sou um habitante dela. E garanto que ninguém vai arrebatá-la de mim. Não deixo. Isso ninguém toma da natureza. A alegria do barulho desses beija-flores não vai silenciar enquanto eu existir.“ A consideração de documentos relativos ao patrimônio natural sob a perspectiva da arquivística por Taiguara Villela surge como tarefa de excepcional importância para as ciências naturais e os estudos culturais em presente marcado por uma trágíca e irresponsável destruição de riquezas naturais do Brasil de incalculáveis dimensões.



06.01.2013

175 anos do compositor Max Bruch (1838-1920) - significados para o Brasil. Entre os muitos grandes compositores celebrados no ano de 2013 encontra-se Max Bruch, vulto da historia da música do Romantismo, nascido em Colonia no dia de Reis de 1838. A presença do autor do famoso concerto para Violino nos estudos euro-brasileiros justifica-se sobretudo pelas pesquisas de Isolda Bassi-Bruch, por anos presidente de honra da A.B.E. (http://www.akademie-brasil-europa.org/Biographien/Bassi-Bruch.htm). Com o seu recente falecimento, interrompeu-se o trabalho de levantamento de fontes que desenvolvia sobre Wilhelm e Hans Bruch e que se dedicava ao esclarecimento de complexos contextos genealógico-culturais (http://www.revista.brasil-europa.eu/106/Renania-Paises-Baixos.htm). O Centro de Estudos Brasil-Europa encontra-se na região em que Max Bruch passou grande parte da sua vida e com a qual esteve particularmente vinculado cultural e emocionalmente. Em Bergisch Gladbach encontra-se um centro de pesquisas dedicado ao compositor na histórica Villa Zanders; nessa cidade realizam-se concertos no dia 6 de janeiro introduzindo um Festival Max-Bruch que terá início a 11 do mês e incluirá mais de 30 concertos. Em Bergisch Gladbach compôs, entre outras obras, o seu famoso Kol Nidrei (op. 47). A cidade, da qual foi cidadão honorário, denominou uma de suas ruas com o seu nome, que também designa a Escola de Música municipal. Max Bruch atuou em muitas cidades da Alemanha e dirigiu a Sociedade Filarmônica de Liverpool, Inglaterra, de 1880 a 1883, onde casou-se com a cantora Clara Tuczek.  Foi doutor honoris causa da universidade de Cambridge e da universidade de Berlim. Foi professor de composição na Academia Prussiana das Artes em 1891, época na qual brasileiros se encontravam em Berlim, cidade onde também faleceu e jaz no antigo cemitério S. Mateus de Berlin-Schöneberg.



02.01.2013

Rio de Janeiro: 80 anos da Profa. Dra. Gertrud Mersiovsky, nova gravação de obras brasileiras do Conjunto Sacra Vox e concertos da Associação de Canto Coral. Comemorou-se, em 2012, os 80 anos da organista e Profa. Dra. Gertrud Mersiovsky, Professora de órgão da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma das maiores especialistas de órgão e de sua pesquisa das Américas, Gertrud Mersiovsky realizou o seu doutoramento sôbre o histórico instrumento do salão Leopoldo Miguez da instituição e formou organistas que hoje desempenham papel relevante na vida musical brasileira. A Profa. Dra. Gertrud Mersiovsky colaborou fundamentalmente à realização do II° Congresso Brasileiro de Musicologia no Rio de Janeiro, em 1992. No dia 27 de novembro, sob a direção de Valéria Matos, realizou-se concerto pelos seus 80 anos, quando, com a própria Gertrud Mersiovsky ao órgão, foram apresentados os 10 Prelúdios Corais do Klavierübung III, de J.S.Bach. Desde então, Valéria Matos, à frente do Conjunto Sacra Vox, dedicou-se ao repertório de obras sacro-musicais brasileiras, pertinentes ao tema da sua tese de doutoramento, para a gravação em CD. As sessões de gravação terminaram no dia 22 de dezembro. Os trabalhos de edição deverão ser finalizados em janeiro. Paralelamente, a Associação de Canto Coral realizou com sucesso os últimos concertos antes do afastamento de Valéria Matos para estadia de estudos na Alemanha.



01.01. 2013

Projetos e perspectivas para estudos euro-brasileiros em 2013. Os principais complexos temáticos que deverão ser tratados no corrente ano foram definidos nas suas linhas gerais em ciclo de estudos realizado em Berlin-Charlottenburg (Veja notícia). Considerando ser o ano de 2013 o do bicentenário de Richard Wagner (1813-1883) e dos 30 anos do simpósio internacional dedicado aos 300 anos da emigração alemã à América, de iniciativa euro-brasileira , o estudo de processos culturais entre a Alemanha e o Brasil marcarão fundamentalmente os trabalhos do corrente ano. Seguindo os impulsos lançados em 1983, os trabalhos procurarão contribuir à atualização dos estudos transatlânticos e interamericanos, ampliados no sentido de elos transoceânicos. Esses estudos deverão dar continuidade aos ciclos de 2012, dirigindo a atenção agora às consequências de seus resultados na compreensão de outros conceitos de significado para análises culturais. Na medida das possibilidades, serão desenvolvidos em contextos geográfico-culturais europeus próximos ou interligados às áreas consideradas em 2012, sobretudo ao universo mediterrâneo-atlântico e o nórdico-báltico. Desta forma iniciam-se agora os preparativos para a realização do primeiro ciclo de estudos do corrente ano no mundo insular atlântico, que deverá ser realizado em janeiro.




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